Urgente! Em meio a tensão com a China, Pelosi chega a Taiwan, e Pequim mobiliza militares

Viagem é a primeira de uma liderança política de alto escalão de Washington em quase três décadas; presidente da Câmara afirma que mundo enfrenta 'escolha entre a autocracia e a democracia'

Tempo de leitura: 4 minutos

| Publicado em 02/08/2022 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de Mercado

A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, chegou nesta terça-feira a Taiwan, na primeira visita de um integrante do alto escalão americano à ilha desde 1997, acirrando a tensão já elevada nas relações entre Pequim e Washington. A viagem foi mantida em sigilo por semanas, e, apesar das promessas da Casa Branca de que tudo transcorrerá “em segurança”, a China, que considera a ilha autogovernada parte do seu território, prometeu hoje que os EUA “pagarão um preço alto” pela visita e iniciou uma série de manobras militares na região.


O Boeing C-40C da Força Aérea dos EUA que levava Pelosi pousou por volta das 22h40 (11h40 em Brasília) no aeroporto de Songshan, nos arredores de Taipé, vindo de Kuala Lumpur, na Malásia. A rota usada foi pouco usual, como mostrou o site de monitoramento FR24: a aeronave contornou as Filipinas e não passou pelo Mar do Sul da China, onde Pequim tem disputas territoriais com os vizinhos e mantém presença militar ostensiva. Antes da chegada, uma mensagem de boas-vindas foi projetada no arranha-céu Taipei 101, de 438 metros de altura.

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Em comunicado divulgado pouco depois da chegada, Pelosi afirmou que a visita “honra o compromisso inabalável dos EUA com o apoio à vibrante democracia taiwanesa”. “A solidariedade dos EUA com os 23 milhões de habitantes de Taiwan é mais importante do que nunca, no momento em que o mundo enfrenta uma escolha entre a autocracia e a democracia”, escreveu a presidente da Câmara, que é a segunda na linha de sucessão do presidente dos EUA.


Pelosi disse que a viagem “de forma alguma contradiz a longeva política dos EUA” para Taiwan, estabelecida nos anos 1970 e que é marcada por um robusto apoio militar, mas sem o estabelecimento formal de relações diplomáticas. Conhecida crítica da China e considerada “persona non grata” no país, ela não confirmou a viagem até pouco antes de deixar a Malásia. A ida a Taiwan não aparecia no roteiro divulgado à imprensa, que incluía também escalas em Cingapura, Coreia do Sul e Japão.


Antes da chegada de Pelosi a Taiwan, a China anunciou uma série de exercícios de artilharia no Mar de Bohai, próximo ao Mar Amarelo. As manobras começaram na segunda-feira e devem seguir até a quinta. O comando militar chinês também anunciou manobras no Mar do Sul da China, e algumas áreas foram fechadas à navegação pelo menos até sábado.


Hoje, caças chineses voaram perto da linha que marca a metade da extensão do Estreito de Taiwan, que separa a ilha do continente, e o comando Sul do Exército de Libertação Popular, as Forças Armadas chinesas, está em estado de alerta elevado. Voos chineses de passageiros em regiões próximas a Taiwan tiveram seus itinerários modificados.Segundo a rede chinesa CGTN, caças chineses Sukhoi Su-35 cruzam o Estreito de Taiwan — o avião de Pelosi chegou pelo lado Leste da ilha, oposto ao estreito.


De acordo com o jornal South China Morning Post, de Hong Kong, dois porta-aviões chineses, Liaoning e Shandong, deixaram os portos onde estão baseados, e há movimento de tropas e blindados em Xiamen, cidade localizada a menos de 6 km de uma ilha controlada por Taiwan. Analistas, contudo, veem na movimentação mais uma demonstração de força dos chineses do que uma intenção real de militarizar a viagem de Pelosi.


A China vem advertindo há dias contra a viagem, e o próprio presidente Xi Jinping advertiu na semana passada, em conversa com o americano Joe Biden, que os EUA não deveriam “brincar com fogo”. Hoje, mais cedo, uma porta-voz da Chancelaria em Pequim, Hua Chunying, disse que os EUA “pagariam o preço” se Pelosi fosse a Taiwan.


— Os Estados Unidos carregarão a responsabilidade e pagarão o preço por minar a soberania e a segurança da China — disse Hua.
Na segunda, outro porta-voz da pasta prometera mais uma vez “respostas firmes e fortes”:


— Queremos dizer mais uma vez aos EUA que a China está de prontidão, e que o Exército de Libertação Popular jamais ficará inerte. A China adotará respostas firmes e fortes para defender sua soberania e integridade territorial — disse Zhao Lijian.


Hoje, houve ainda medidas comerciais, supostamente de retaliação à visita: empresas taiwanesas de alimentos afirmam que alguns de seus produtos estão sendo barrados nos portos chineses, e Pequim não explicou o motivo. Mais de 100 itens estariam banidos, incluindo biscoitos e doces.


Taiwan também pôs hoje suas forças em alerta máximo: a imprensa local afirma que as tropas se encontram em estado de prontidão, e devem reduzir o tempo necessário para agir no caso de algum tipo de agressão chinesa. Caças Mirage 2000 estariam prontos para decolar em bases no Leste da ilha, segundo o jornal Liberty News, ligado ao partido governista.


As forças dos EUA também elevaram o alerta: há quatro porta-aviões americanos nos arredores de Taiwan, além de um contratorpedeiro, que integra um destacamento que está na região desde meados de maio. Ao menos três Boeing P-8 Poseidon da Força Aérea dos EUA, responsáveis pelo monitoramento de atividades navais, foram identificados perto de Taiwan nas últimas 48 horas.


O governo de Biden mudou o tom em relação à visita na segunda-feira. Na semana passada, Biden afirmou que os militares não viam a ideia com bons olhos. Mas, na véspera da viagem, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, declarou que o governo americano iria garantir que a visita de Pelosi seria “segura”. Segundo ele, Pelosi “tem o direito de visitar Taiwan, e um presidente da Câmara já visitou Taiwan sem qualquer problema” no passado.


Kirby se referia à viagem do republicano Newt Gingrich em 1997, mas há diferenças entre os contextos: na época, a Câmara era controlada pela oposição ao presidente Bill Clinton, democrata, e Pequim tinha outras prioridades, como o retorno de Hong Kong ao seu controle e a integração comercial com o mundo. Os chineses ficaram irritados, mas preferiram “engolir” a presença do republicano em solo taiwanês.


Agora, com os ânimos acirrados entre Washington e Pequim, e a China como segunda maior economia do mundo, a visita traz riscos elevados.

O Globo

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