Seca preocupa mais o agronegócio gaúcho do que as enchentes, afirma Farsul

Problemas climáticos estão empobrecendo o Rio Grande do Sul, afirma economista.

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 17/12/2024 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de mercado

Em sua coletiva de balanço de 2024 e perspectivas para 2025, realizada hoje em sua sede em Porto Alegre, a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) não apresentou projeções para a safra que deve ser colhida neste verão no Estado.

O motivo? Os efeitos que as estiagens tiveram sobre a produção gaúcha nos últimos anos foram tão severos que se tornou “impossível” utilizar um modelo adequado para projetar a próxima colheita.

“Faz três anos que não temos uma safra direito. É nosso entendimento que, tecnicamente, traríamos dados prejudicados”, afirmou o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz.

Os impactos das estiagens que afetaram o agronegócio gaúcho desde 2019 foram tão graves que nem mesmo as enchentes de abril e maio, que geraram destruições em várias regiões rurais do Rio Grande do Sul, impactaram tanto a produção. Luz destacou que, mesmo com uma queda de 2,7% na área colhida em 2024, redução causada diretamente pelas chuvas excessivas, a produção total teve um aumento de 30%, devido à recuperação sobre a forte quebra de safra gerada pela seca em 2022/23.

O economista lembrou que os impactos econômicos das estiagens, que geraram um forte endividamento dos agricultores gaúchos, foram piorados neste ano pelas perdas das enchentes. Com isso, a Farsul coloca em dúvida o quanto os produtores do Estado investiram em suas lavouras.

“Nós sabemos que a área foi plantada, mas não podemos aferir qual a condição dessa área, com qual nível tecnológico isso foi feito”, afirma Luz. Em seu último relatório, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o Rio Grande do Sul vai plantar 10,486 milhões de hectares nesta safra, um leve crescimento de 0,7% em relação ao ciclo 2023/24.

Financiamentos

Sobre os financiamentos e renegociações de dívida dos produtores gaúchos após as enchentes, a Farsul informou que foram realizados 166.396 contratos com instituições financeiras, no valor de R$ 24,5 bilhões. O que mais preocupa a entidade são cerca de 38 mil agricultores que realizaram renegociações a juros de mercado, somando um montante de R$ 6 bilhões.

“Esses produtores apenas empurram o problema com a barriga, esperando que haja uma boa safra no próximo ano para conseguir pagar as dívidas. Mas o Banco Central já indicou que a taxa Selic deve subir pelo menos mais duas vezes. Para onde vai a dívida desses produtores?”, questiona Luz.

PIB e a seca

O efeito das estiagens no agronegócio gaúcho pode ver visto no Produto Interno Bruto (PIB). O Rio Grande do Sul vem crescendo menos do que o resto do Brasil nos últimos anos, e a diferença entre os dois fica maior nos anos de estiagem.

Em 2023, o PIB brasileiro aumentou 2,9% em relação a 2022, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em comparação, a taxa gaúcha foi de apenas 1,7%. A diferença foi maior ainda em 2022: enquanto o Brasil avançou 3%, o Rio Grande do Sul caiu 5,7%, resultado do impacto da seca no agronegócio local.

“As estiagens estão nos empobrecendo”, afirma Luz, que também demonstrou preocupação com prognósticos climáticos que indicam chuvas abaixo da média no Rio Grande do Sul em janeiro e fevereiro.

Esforços e disputas

O presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, destacou os esforços feitos na área de irrigação e licenciamento ambiental para amenizar o impacto das secas, e as negociações para melhores condições aos produtores afetados pelo excesso de chuvas em maio. “Tivemos uma queda de braço forte com o governo federal, que não estava entendendo o que aconteceu no Estado”, disse.

Pereira também criticou a tentativa de importação e leilão do arroz logo após a enchente. “Discutimos muito sobre a não necessidade da importação, porque a produção foi absolutamente normal,” disse o presidente da Farsul.

Gedeão ainda mencionou o papel do Senar-RS no auxílio pós-enchente, através do programa Agro Solidário, que recebeu R$ 100 milhões da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Usamos parte da verba que a CNA nos destinou para ajudar a colocar em pé a propriedade de pequenos e médios produtores, com limpeza de áreas, alimentação de rebanho, até mesmo para reequipar moradias que foram totalmente destruídas”, destacou.

Globo Rural

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