Preço do café subiu mais de 70% em dois anos: saiba o que esperar para 2026

Melhora da safra brasileira pode ser indicativo de redução no preço, mas não é certeza, explica especialista

Tempo de leitura: 4 minutos

| Publicado em 11/12/2025 por:

Economista | Analista de Mercado

Nos últimos dois anos, o café percorreu um caminho cada vez mais caro entre a lavoura e a mesa do consumidor brasileiro. O reajuste, marcado por sucessivas altas, foi impulsionado por uma combinação de fatores: problemas climáticos nos principais países produtores, queda da oferta no mercado interno, forte ritmo das exportações e a desvalorização do real frente ao dólar.

O grão pesou no orçamento das famílias em 2025, assim como ocorreu em 2024, acumulando 36% entre janeiro e novembro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta quarta-feira (10/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No caso do café moído, o reajuste foi praticamente o mesmo do ano passado, quando atingiu 39,60%, totalizando 75,60%. Para o café solúvel e o cafezinho, que também dependem da matéria-prima, o aumento é de 22,66% e 16,70%, respectivamente, no período.

O comportamento contrasta – e muito – com o resultado de 2023. Na ocasião, um dos principais itens da cesta básica teve queda de -9,07% no indicador oficial de inflação após subir 13,51% em 2022 e 50,24% em 2021 (veja abaixo).

2025

  • Café moído: 36%
  • Café solúvel: 22,66%
  • Cafezinho: 16,70%

2024

  • Café moído: 39,60%
  • Café solúvel: 8,85%
  • Cafezinho: 8,72%

2023

  • Café moído: -9,07%
  • Café solúvel: -3,91%
  • Cafezinho: 5,36%

2022

  • Café moído: 13,51%
  • Café solúvel: 18,76%
  • Cafezinho: 14,14%

2021

  • Café moído: 50,24%
  • Café solúvel: 12,77%
  • Cafezinho: 4,36%

2020

  • Café moído: 7,70%
  • Café solúvel: 5,33%
  • Cafezinho: 8,05%

“Se compararmos 2025 com 2024, vamos ver que o preço do café moído se manteve semelhante, enquanto o solúvel e o cafezinho mais do que dobraram. Ainda assim, o aumento acumulado no pó de café é de quase 80% em quase dois anos. É muito alto. Como é uma commodity, quando tem a expectativa de seca, o preço sobe. Se é de chuva, ela se reverte”, analisa Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro).

Por que o preço do café continua alto?

A resposta está no campo. Em 2024, o Brasil, maior produtor e também exportador de café do mundo, enfrentou sérios problemas na safra devido ao clima. A combinação de seca com temperaturas acima da média no terceiro trimestre prejudicou a florada, etapa essencial para definir o potencial produtivo das lavouras. Como consequência, os cafezais produziram menos cerejas (os frutos do cafeeiro) e muitos grãos se desenvolveram com defeitos, reduzindo a qualidade e a oferta no mercado.

Em resumo, o principal motivo para o consumidor continuar pagando caro pelo café em 2025 é o prejuízo acumulado da safra anterior. “O Brasil teve problemas na sua colheita. A gente olha também para o sudeste da Ásia e vê que até foi razoável, com destaque para Vietnã e Indonésia, mas não foi gigantesca para recuperar perdas anteriores e abastecer o restante do mundo”.

Outra explicação que ajuda a entender a manutenção do reajuste em alta é o avanço do consumo global de café, aponta o especialista ouvido pela Globo Rural. Enquanto no Ocidente a demanda está consolidada, no Oriente, especialmente em países asiáticos, o interesse pela bebida cresce. O avanço, no entanto, não é acompanhado pela mesma velocidade na produção.

“Essa demanda não cresce de maneira muito acelerada, mas cresce. O café está caindo no gosto e no hábito da sociedade do Oriente. O descompasso, com a demanda mais rápida do que a oferta, naturalmente, deixa os preços operarem em patamares bastante pressionados. Foi isso o que vimos acontecer ao longo de 2025”, diz Serigati.

No caso do café solúvel e do cafezinho, a alta não é tão significativa quanto o pó, mas também pesa no orçamento, porque utiliza a matéria-prima.

“Quando a gente olha aquele café um pouco mais manufaturado, que é o café solúvel, ele responde por uma fração menor no copo, mas tem reflexo pelo encarecimento do grão. Para o cafezinho, aquele no balcão da padaria e lanchonete, a fração é ainda menor e, neste caso, o grosso do custo é o serviço associado, como a locação do espaço, o aluguel, a mão-de-obra, a máquina, etc. Então, embora a inflação tenha sido menor, temos a combinação de dois fenômenos: o encarecimento do grão e a inflação de serviços, a que mais tem preocupado o Banco Central”.

O preço do café vai cair em 2026?

Ainda é cedo para cravar qualquer projeção, diz o pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas. No entanto, os primeiros sinais no campo são positivos, especialmente pela melhora na florada dos cafezais.

Em outubro, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) destacou que as lavouras de café arábica do Sudeste registraram boa floração, impulsionada pelas chuvas após 20 de setembro, cenário que trouxe otimismo ao setor para a safra 2026/27. No mês seguinte, o Cepea informou que grande parte das floradas já havia se encerrado e que o foco agora seria a fixação e o desenvolvimento dos chumbinhos.

“A safra será maior, não recorde e também não vai operar no seu potencial, mas, de fato, será mais positiva. Todas as condições objetivas sugerem que deve ser uma safra melhor. E, por isso, devemos observar a queda do café? Eu ainda não contaria com isso. Mesmo que seja uma safra maior, estamos observando uma demanda crescente pelo café e o mercado tem operado de maneira estreita há pelo menos uns dois anos, uma maneira mais apertada com problemas na safra, onde vimos uma forte contração nos estoques. A indústria de moagem ainda vai passar por um processo de recomposição”.

Para 2026, assim como ocorreu neste ano, o comportamento da taxa de câmbio também será decisivo para o café. Como o grão é uma commodity negociada no mercado internacional, qualquer movimento de valorização ou desvalorização do dólar frente ao real interfere diretamente na forma como chega ao consumidor brasileiro.

No caso do café arábica, as referências de preço são formadas na bolsa de Nova York. Já o conilon (ou robusta) segue as cotações de Londres. A dinâmica reforça o peso do câmbio na formação de preços no Brasil.

“Elas (as commodities) são precificadas em dólar, e quando o dólar fica mais barato, tudo o que é precificado em dólar fica mais barato. Eu digo isso porque ano que vem temos uma série de choques e não sabemos qual a direção, mas vamos ter movimentos. O grande evento é a eleição presidencial”, finaliza Serigati.

Globo Rural

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