Mudanças climáticas podem fazer brusone reduzir em 13% a produção mundial de trigo

Pesquisadores perceberam que doença de clima tropical tem chegado a lavouras de região temperada.

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 10/09/2024 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de mercado

As mudanças climáticas estão favorecendo o fungo causador da brusone, doença que ataca folhas e espigas de trigo e reduz a qualidade do cereal. Segundo pesquisa da Embrapa Trigo, publicado na Nature Climate Change, a doença tem potencial de afetar 13,5 milhões de hectares e risco de reduzir em 13% a produção mundial de trigo.

A brusone é considerada a doença de importância econômica mais recente identificada em trigo no mundo. Ela é causada por um fungo, o Pyricularia oryzae Triticum (Magnaporthe oryzae patótipo Triticum) e pode comprometer até 100% do rendimento de uma lavoura.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo (RS) José Maurício Fernandes, no estudo Production vulnerability to wheat blast disease under climate change (Vulnerabilidade da produção de trigo à brusone sob mudanças do clima) , o desenvolvimento do fungo causador da doença é favorecido por altas temperaturas e umidade, condições presentes em países de clima tropical e subtropical. Segundo ele, o que tem chamado a atenção é a incidência da doença também em condições de clima frio ou mesmo com baixa umidade.

Nos últimos anos, lavouras com brusone têm sido observadas ao norte de Bangladesh, onde o fungo sobrevive ao clima seco e às baixas temperaturas durante a safra de trigo, especialmente em função de as temperaturas mínimas terem subido nos últimos anos.

As temperaturas mais elevadas no inverno gaúcho também resultaram em surtos localizados de brusone na safra de trigo 2023 no Rio Grande do Sul, principalmente na região noroeste do Estado, onde as temperaturas mínimas estiveram acima de 15ºC ao longo da safra.

“Num cenário de mudanças climáticas globais, com aumento de temperaturas e variação do regime de chuvas, o fungo vai encontrar novos ambientes para se instalar”, prevê o pesquisador, lembrando que a dispersão dos esporos do fungo pode ser pelo vento ou pelo comércio internacional por meio de grãos e sementes contaminadas.

Recentemente, afirma ele, a doença foi encontrada em lavouras de Santa Rosa, no oeste do Estado. “Diferentemente de outras regiões do país, o Rio Grande do Sul tem muita umidade e pode encontrar a doença nesta safra que está sendo marcada em outras regiões pelo tempo extremamente seco. É preciso continuar o manejo”.

Arroz , trigo e outros cereais

O fungo é um velho conhecido do arroz, já que os primeiros relatos de brusone na cultura datam de 1600 na China. A Embrapa Recursos Genéticos inclusive testa atualmente usar a mutação genética para combater a doença no cereal.

Em trigo, o microrganismo causador da brusone foi identificado pela primeira vez no Brasil, em 1985, em lavouras no Paraná, mas a doença rapidamente disseminou-se para outros Estados (Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e Minas Gerais), além de diferentes países da América do Sul.

Conforme informações do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), uma epidemia de brusone afetou 3 milhões de hectares com trigo na América do Sul na década de 1990. Em 1996, o primeiro surto de brusone na Bolívia resultou em quase 80% de perdas na produção. No Paraguai, a primeira epidemia ocorreu em 2002, quando foram registradas perdas de produção de mais de 70%.

No Brasil, ocorreram perdas por brusone em trigo nos anos de 2009 e de 2012, quando danos acima de 40% comprometeram lavouras na fase de espigamento no Paraná, em Mato Grosso do Sul e em São Paulo. Nos anos seguintes, cresceu a incidência de brusone também nos Estados do Sul do Brasil, com registros frequentes no Rio Grande do Sul e no centro-sul do Paraná.

Na Argentina, décimo maior produtor mundial de trigo, a brusone apareceu em 2007, em lavouras ao norte do país, mas foi em 2012, quando ela chegou à província de Buenos Aires, principal polo da triticultura argentina, que a doença acendeu o alerta vermelho para o risco de perdas nas lavouras. Em 2023, o problema foi registrado pela primeira vez no Uruguai.

Globo Rural

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