A fabricação de adubo nitrogenado se mostrou ineficiente ao longo dos anos no Brasil e a reabertura Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados de Araucária (Fafen), no Paraná, com investimento da Petrobras, não causou furor no segmento de adubos, que desconfia da viabilidade econômica do negócio.
Contudo, há quem opine ser um investimento que pode ser rentável no futuro, e que está previsto no Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), de 2022.
Uma fonte ligada ao segmento não vê sentido no investimento da Petrobras na Fafen porque a produção depende de gás natural, que é caro e tem carga de imposto “cavalar”. Além disso, o fornecimento de gás para a fábrica é por via marítima, o que encarece ainda mais a operação.
Estrutura obsoleta
Ao longo dos anos, esse tipo de fábrica se mostrou altamente custosa e, por ter ficado parada, sua estrutura tecnológica se tornou obsoleta, acrescentou.
Para essa fonte, a Fafen do Paraná é uma planta “extremamente ineficiente”. A fábrica tem capacidade de produção na ordem de 700 mil toneladas de produtos nitrogenados ao ano, mas, quando esteve em funcionamento no passado, não conseguia atingir 400 mil toneladas anuais de produção.
A fábrica foi fechada em 2020 e reaberta nesta quinta-feira (15/8) para começar a voltar a operar no segundo semestre de 2025 com um aporte de R$ 870 milhões da Petrobras.
“A fábrica do Paraná é ferro velho se comparada ao que existe hoje. Em nível internacional, não há mais planta desse tipo sendo utilizada no mundo”, afirmou a fonte.
Competitividade
Além disso, a competitividade no negócio da ureia está mais difícil, pois já há fornecedores estrangeiros estabelecidos e os preços estão em baixa.
“Atualmente, o preço da ureia está na faixa de baixa, por volta de US$ 350 a tonelada. Se fosse em 2022, depois do início da guerra entre Rússia e Ucrânia, quando a cotação chegou a US$ 1 mil a tonelada, talvez fosse viável produzir”, afirmou.
Além do Paraná, o Brasil possui mais três fábricas de fertilizantes estatais, duas arrendadas para a Unigel em Camaçari (BA) e Laranjeiras (SE). A Unigel entrou em recuperação judicial.
Em uma realidade hipotética, mesmo que o Brasil coloque para funcionar todas as fábricas de controle estatal de nitrogenados, atingiria nos próximos cinco anos cerca de 3 milhões de toneladas produzidas ao ano. Porém, nesse período, o consumo da matéria-prima pelo agronegócio já estaria maior, avaliou a fonte.
Programa Nacional de Fertilizantes na prática
Para o analista sênior de fertilizantes do Rabobank no Brasil, Bruno Fonseca, a retomada de produção na fábrica de Araucária pode ser encarada como parte de investimentos do governo para que o PNF “saia do papel”.
“Pelo lado da Petrobras, a produção de fertilizantes nitrogenados pode ser interessante, pois se trata de mais um produto dentro do portfólio da empresa. O fato de os nitrogenados estarem ligados ao gás natural como matéria-prima faz com que a empresa tenha condições de entender sobre a volatilidade de custos de produção da ureia e amônia, uma vez que o próprio gás natural faz parte do portfólio da empresa”, explicou.
Contudo, ele não descartou os riscos de mercado, que também atingem a Petrobras, por ser um mercado diferente dos combustíveis, onde a estatal já opera, e que exige alto investimento para retomar a operação. “Mas o consumo nacional do produto deve continuar robusto nos próximos anos, o que traz previsibilidade pelo lado da demanda”, ponderou Fonseca.
Dependência externa
Hoje, o Brasil é o maior importador de fertilizantes do mundo, principalmente da Rússia. No caso dos adubos à base de nitrogênio, o país compra 70% do exterior.
“Desde 2014, a Petrobras saiu do setor de produção de fertilizantes nitrogenados devido à crise política, hibernando unidades produtivas. A retomada do processo é gradual e a reabertura da Fafen em Araucária é uma boa notícia”, afirmou a analista de fertilizantes da Safras & Mercado, Maísa Romanello.
Segundo a especialista, na época, a paralisação dessas unidades fez aumentar a dependência do Brasil de nitrogenados, como a ureia, sulfato e nitrato de amônio. Assim como Fonseca, ela vê a reabertura alinhada às diretrizes do PNF, que prevê a reaberturas das plantas da Petrobras.
Ao mesmo tempo, ela concordou que o principal gargalo será o custo da produção e a consequente competição com origens produtoras de ureia no mundo, cujos custos são mais baixos do que os do Brasil.
Para ela, será necessário acompanhar os próximos passos e ter estratégias montadas para concorrer com o mercado internacional.