Importadores dos EUA travam compras de café do Brasil e prorrogam pedidos

Estados Unidos lideraram as compras de café do Brasil nos sete primeiros meses de 2025, com a importação de 3,713 milhões de sacas.

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 13/08/2025 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de mercado

Com a entrada em vigor da nova tarifa de 50% dos Estados Unidos contra produtos brasileiros, os importadores americanos travaram as negociações de café com o Brasil e estão prorrogando pedidos já realizados, o que pode ser extremamente prejudicial ao setor, avalia o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Os EUA lideraram as compras de café do Brasil no acumulado dos sete primeiros meses de 2025, com a importação de 3,713 milhões de sacas, que correspondeu a 16,8% dos embarques totais do período. Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, lembrou que as vendas transcorreram normalmente até julho, pois a vigência da nova medida começou em 6 de agosto.

“A partir de agora, as indústrias americanas estão em compasso de espera, pois possuem estoque por 30 a 60 dias, o que gera algum fôlego para aguardarem um pouco mais as negociações em andamento. Porém, o que já visualizamos são eventuais pedidos de prorrogação, que são extremamente prejudiciais ao setor”, afirmou o dirigente em nota, nesta terça-feira (12/8).

Ferreira explicou que, quando o exportador realiza o negócio, ele fecha também o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC), um financiamento pré-embarque que permite que as empresas obtenham recursos antecipados com base em um contrato de câmbio.

“Com a prorrogação dos negócios (com os EUA), o ACC não é cumprido e passamos a sofrer com mais juros, com taxas altas, e custos adicionais, com overhead (despesas operacionais), por exemplo”, ressaltou.

Outro fator de impacto é a movimentação dos preços do café no mercado futuro. Quanto mais distantes são os vencimentos dos contratos, menores são os valores.

“O vencimento dezembro de 2026 na Bolsa de Nova York, por exemplo, está com deságio de 9% a 10% frente ao dez/25. Já esse dez/25 possui depreciação de cerca de US$ 10 por saca ante o set/25. Ou seja, a prorrogação de um embarque de agosto, tendo como referência o set/25, para os próximos meses, que terão como base o dez/25, geraria uma perda adicional de US$ 10 por saca, além do impacto dos juros do ACC e dos custos adicionais com carrego, armazenagem e logística”, disse Ferreira.

“Portanto, prorrogar embarques, além de atrasar divisas e compromissos, tem esse impacto negativo acumulado e acentuado”, completou.

Negociações

O café foi um dos produtos que ficou de fora da lista de exceções que o governo americano determinou e, por isso, sofreu a taxação de 50%. Então, o Cecafé trabalha na tentativa de que os cafés do Brasil entrem na lista de isenção do tarifaço, contando com negociações junto ao governo brasileiro, aos pares do setor privado norte-americano e a outros membros do setor nos EUA.

O argumento é de que o produto não é cultivado em escala nos EUA, desempenha um papel importante na economia americana, e pelo fato de os dois países possuírem uma relação de interdependência. De um lado, o Brasil é o maior produtor e exportador mundial, líder no fornecimento de café ao país, e do outro, os EUA ocupam o posto de maior importador e consumidor global, além de principal destino do produto brasileiro.

Mediante os prejuízos que inevitavelmente virão com as tarifas americanas, o Cecafé também vem mantendo diálogos com os governos federal e dos Estados produtores a respeito da necessidade de implantações de medidas “temporariamente compensatórias” ao setor.

Acordos bilaterais

Em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), o conselho de exportadores solicitou ao governo brasileiro que intensifique ações junto a outras nações compradoras do produto, visando acordos bilaterais com reciprocidade comercial, na intenção de que países importadores possam dar, aos cafés solúveis do Brasil, a mesma isenção oferecida a outras origens concorrentes.

Sobre o credenciamento, por parte da China, de 183 novas empresas exportadoras de café do Brasil, o presidente do Cecafé esclareceu que muitos desses exportadores já atuavam no mercado chinês e que isso não necessariamente implica aumento dos embarques cafeeiros ao país asiático.

“Esse credenciamento por cinco anos, como divulgado nas mídias, é positivo do ponto de vista de desburocratização, mas, por si só, não representa nenhum aumento de exportações à China, o que esperamos (que) siga ocorrendo de forma natural, a ser alcançado ao longo dos próximos anos e décadas, dado o aumento de interesse por parte do consumidor, como experimentamos em outros países da Ásia”, afirmou Ferreira.

Até o momento, a China é vista como um mercado em crescimento potencial. O país importou 571.866 sacas brasileiras de janeiro a julho e ocupa a 11ª posição no ranking dos principais parceiros dos cafés do Brasil em 2025.

Globo Rural

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