A Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer) e a Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel), duas das maiores exportadoras de café do país, informaram que os importadores de cafés dos Estados Unidos suspenderam novas compras, enquanto aguardam o avanço das negociações de tarifas entre Brasil e EUA.
A suspensão se dá em um momento crítico para o setor, que começa neste mês a exportar a nova safra, em fase de colheita. Segundo o levantamento da Safras & Mercado, até o dia 9, os produtores de café do Brasil haviam comercializado 31% da safra 2025/26, volume abaixo da média dos últimos cinco anos para este período, de 38%.
“Em face a esse aumento de tarifa importa pelos EUA, os importadores de cafés americanos suspenderam novas compras, até que haja definição desse cenário”, afirmou Simão Pedro de Lima, diretor-presidente da Expocacer. Ele acrescentou que, no caso dos contratos já firmados, não há movimento de renegociação. “A suspensão de novas compras é um reflexo imediato do aumento da tarifa de importação”, observou Lima.
A Expocacer, sediada em Patrocínio (MG), exportou no ano passado 550 mil sacas de café para 35 países, sendo que 15% dos embarques foram para os Estados Unidos. A cooperativa investiu em um novo hub logístico nos EUA, em Delaware, para expandir as vendas para o país. A meta da Expocacer com a iniciativa seria dobrar as entregas para os EUA até 2028 e expandir os embarques em 15% neste ano.
Lima disse que a imposição de uma tarifa adicional ao café brasileiro, se for confirmada, terá impacto negativo nas exportações. “Considerando que o café brasileiro, em média, compõe 30% dos blends dos cafés industrializados nos EUA, o aumento gera impacto imediato no custo para industrialização dos cafés. Isso pode gerar uma diminuição do volume de cafés verdes importados do Brasil pela indústria americana”, afirmou o executivo.
A Cocatrel, sediada em Três Pontas (MG), informou que os importadores dos Estados Unidos paralisaram os negócios depois do anúncio do tarifaço. Já as negociações realizadas anteriormente seguem o rumo normal.
“Não houve nenhum movimento no sentido de suspender ou renegociar os contratos já fechados. As operações comerciais com os Estados Unidos seguem ativas”, acrescentou Chico Pereira, gerente de comercialização de café da Cocatrel.
Os Estados Unidos são o destino de 12% das exportações da cooperativa. Em 2024, a Cocatrel exportou 121 mil sacas de café para os Estados Unidos. Neste ano, a cooperativa já exportou 200 mil sacas até o momento, das quais 50 mil foram destinadas ao mercado americano. “A expectativa é manter o ritmo das exportações ao longo do ano”, afirmou Pereira. O executivo estima que a demanda pelo café brasileiro será mantida, devido à oferta limitada de café no mundo.
A Cocatrel é a segunda maior do setor de café, com receita de R$ 3,3 bilhões em 2024, atrás da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé). Procurada, a Cooxupé disse que as suas negociações para exportar café para os Estados Unidos seguem em ritmo normal.
O presidente da Expocacer disse ainda que não seria uma operação simples para o Brasil ampliar as vendas para outros países caso os EUA reduzam as compras do grão brasileiro, como também não será fácil para os americanos encontrarem fornecedores substitutos, dado o cenário de oferta apertada de café no mundo.
A Associação Nacional do Café (NCA, na sigla em inglês), entidade que representa as indústrias de café dos EUA, realizará uma rodada de conversas com o governo Trump nesta semana, para tentar incluir o café na lista de produtos estratégicos, ficando fora da lista de tarifas. Segundo a entidade, 32% do café consumido nos Estados Unidos é importado do Brasil.
Reações
No Brasil, o governo discutiu com o setor privado como reagir ao tarifaço. Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), participou das discussões em Brasília com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin. Ele disse que a reunião serviu para mostrar que existe senso de urgência e necessidade de negociação. “Busca-se a compreensão dos impactos econômicos para ambos os países”, afirmou.
Os executivos são unânimes na avaliação de que o governo brasileiro deve negociar de maneira diplomática com os Estados Unidos, demonstrando de forma pragmática as consequências para o mercado americano e para a oferta de cafés brasileiros.
Eduardo Carvalhaes, sócio do Escritório Carvalhaes, considera natural que em um momento de incerteza como estes importadores busquem o diálogo com os exportadores de café, para não deixar as negociações para a última hora. Isso porque os contratos são fechados para embarque daqui a alguns meses. “É um momento de espera e muita conversa. Mas há uma expectativa de que os EUA voltem atrás com a tarifa porque não vão conseguir repor café em outro país”, avaliou Carvalhaes.