Preços de commodities agrícolas limitados por grandes safras e por incertezas atreladas à guerra tarifária devem pesar sobre os resultados de empresas comercializadoras de grãos nesta safra 2025/26. No lado das companhias de insumos, margens de produtores abaixo de recordes de anos anteriores também devem afetar os resultados. Já as empresas de carnes que sentiram os impactos da gripe aviária no Brasil e do tarifaço americano no terceiro trimestre, agora, devem encarar um ambiente de mercado melhor.
No terceiro trimestre do ano, as principais empresas de grãos com ações em bolsa registraram queda das margens Ebitda ajustado — indicador que compara o quanto de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização foi gerado em relação à receita. O indicador da SLC caiu 2,9 pontos percentuais, para 25,5%; o da BrasilAgro, 15 pontos, para 22%; e o da 3tentos cedeu 6,5 pontos, para 3,3%. Já a margem Ebitda da Camil recuou 0,4 ponto, para 8,5%.
Em relatórios, o BTG Pactual divulgou que prevê para a SLC uma recuperação da margem nesta safra em relação à anterior, mas que espera redução dos indicadores de rentabilidade operacional para a BrasilAgro e a 3tentos.
Mesmo empresas que operam com diferentes commodities estão sentindo o efeito da queda dos preços no mercado internacional. Na BrasilAgro, a margem bruta da soja recuou 1 ponto percentual na comparação anual, para 30%, em função da queda de 9% no preço da soja vendida. A companhia também teve margens menores na cana, além de margens negativas em feijão (-14%), algodão (-16%) e pecuária (-3%). A exceção foi o milho.
No caso da 3tentos, foi determinante para a compressão da margem a queda de 27,5% do lucro bruto ajustado do segmento da indústria (produção de biodiesel). Segundo a empresa, preços de farelo de soja em baixa e cotações do grão no Brasil sustentadas por prêmios em alguns momentos pressionaram as margens da divisão.
A redução dos preços, aliada à alta dos custos em dólar, também pegou em cheio o negócio de grãos da Adecoagro. A empresa, que negocia ações na Nasdaq, viu sua margem Ebitda recuar tanto no terceiro trimestre quanto no acumulado do ano, e decidiu reduzir a área de plantio para a próxima safra em 25%, para maximizar sua margem por hectare.
Para Gabriel Barra, analista do Citi, o desempenho das empresas de grãos nesta safra até o momento está dentro do esperado, pois já havia expectativa de preços ainda em baixa. A apreciação do real trouxe desafio adicional àquelas mais dependentes de exportação, além dos juros altos, que dificultam sua capacidade de financiamento. “Esse tema deve se manter no próximo ciclo”, disse.
O aumento dos custos operacionais e financeiros também apertou os resultados dessas empresas. SLC e BrasilAgro tiveram prejuízo no trimestre, enquanto a 3tentos viu seu lucro cair, e apenas a Camil teve alta no resultado líquido.
Barra citou o exemplo da SLC, que começou a safra mais alavancada após movimentos de aumento de área. “Foram bons movimentos, mas os juros mais altos pressionam o resultado, principalmente a geração de caixa”, avaliou.
No início do ano, a SLC acertou a compra de terras da Agrícola Xingu e a Sierentz Agro Brasil, que afetaram o último trimestre com o pagamento de parcelas. A alavancagem aumentou para 2,34 vezes — no início da safra era de 1,8 vez. As altas taxas mexeram também com dívidas atreladas ao CDI e arrendamentos de terras, segundo balanço da companhia.
O aumento dos custos agrícolas também devem impactar os resultados deste ano. “Vemos a SLC com um custo mais alto do que o mercado imaginava para a próxima safra, puxado por uma combinação de preços de insumos, mesmo com uma produtividade um pouco melhor”, afirmou o analista do Citi.
Margens menores dos produtores e alta alavancagem de parte deles influenciaram ainda os resultados de empresas de insumos, segundo o head de agro, alimentos e bebidas da XP, Leonardo Alencar. Vittia e Boa Safra tiveram queda em suas margens Ebitda ajustado de 1,2 ponto e 0,1 ponto, respectivamente, embora tenham ampliado lucros.
Esse cenário, que vem castigando o varejo de insumos, não teve o mesmo efeito sobre essa divisão da 3tentos, afirmou o analista do Citi. “Foi muito falado neste ano sobre o risco de crédito poder impactar a carteira de crédito, os recebíveis. Mas não vemos esse risco hoje para a 3tentos, que tem feito um trabalho de diligência muito forte em sua carteira de crédito”, disse.
