Fed, banco central dos EUA, mantém juros entre 5,25% e 5,5%

Atividade econômica ainda forte na maior economia do mundo deixa instituição mais cautelosa em relação à inflação. Patamar dos juros no país é o maior desde o início de 2001.

Tempo de leitura: 4 minutos

| Publicado em 22/03/2024 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de mercado

O Federal Reserve (Fed), banco central americano, decidiu hoje manter a sua taxa de juros inalterada entre 5,25% e 5,5% pela quinta vez seguida. A manutenção da faixa, que está no mesmo patamar desde julho de 2023, era consenso entre os agentes de mercado.

A grande expectativa dos agentes nesta quarta-feira era justamente em relação ao pronunciamento do presidente da autoridade americana, Jerome Powell, que falou à imprensa logo em seguida ao comunicado.

O presidente do Fed indicou que, apesar de esperar os dados do comportamento da economia dos EUA, a instituição deve iniciar seu ciclo de cortes em breve. Ele ressaltou o comportamento da inflação e as incertezas do cenário, mas disse de que as decisões serão tomadas “de reunião em reunião”.

– O aperto monetário provavelmente atingiu seu pico neste ano. O comitê acredita que o início da redução do aperto quantitativo deve ter início em breve — afirmou Powell.

O presidente do Fed ressaltou que efeitos sazonais podem ter elevado a inflação em janeiro, mas disse que o dado não muda a trajetória de desinflação em curso, o que pode favorecer corte dos juros adiante.

Uma economia que não esfria

De acordo com o comunicado do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), os dados de emprego e inflação, divulgados recentemente, sugerem que a atividade econômica vem se expandindo num ritmo sólido.

Portanto, o colegiado informou que espera receber os dados de inflação, emprego e atividade econômica dos próximos meses para balizar as próximas decisões: “Não acreditamos ser apropriado reduzir o intervalo da meta até que exista confiança de que a inflação caminha de forma sustentável para a meta de 2%”, diz o comunicado.

O Fed manteve a projeção mediana de três cortes de 0,25% ainda neste ano, terminando 2024 com juros em torno de 4,6% ao ano. Para 2025, a mediana das expectativas calcula que a taxa de juros seja de 3,9%.

Em comparação a dezembro, houve uma diminuição da expectativa de redução, já que a estimativa era de 3,6%. Já para 2026, houve um aumento da mediana para 3,1%, diante de uma expectativa de 2,9% em dezembro.

Para analistas, corte ainda vai demorar

No começo de 2024, o início da trajetória de queda da taxa americana era esperado para ser anunciado na reunião de hoje. Mas os dados positivos de emprego e inflação anunciados posteriormente, demonstrando um aquecimento na maior economia do mundo, já eram lidos como um motivo para a postergação do anúncio.

Para analistas, esse ainda é um resquício do momento de afrouxamento monetário. Gustavo Cruz, da RB Investimentos, avalia que o tom desses dados recentes demonstra que a conversão da inflação para a meta de 2% só deve acontecer no médio prazo:

– Esse aumento nas taxas futuras passa uma mensagem de que talvez eles precisem conviver com uma inflação persistente por mais tempo.

Apesar de buscar alcançar a meta, a instituição revelou que a mediana de expectativas para o PCE “cheio”, índice de inflação do país incluindo os preços de alimentação e energia, finalize o ano em 2,4%. Para 2025, houve um ligeiro aumento na expectativa, para 2,1%.

Já para o PIB, a autoridade monetária americana projeta um crescimento da economia americana em 2,1%. Há três meses, a mediana das expectativas era de 1,4%. Para Francisco Nobre, economista da XP, a resiliência da economia dos EUA impulsionou o aumento da previsão:

– Houve surpresa nos indicadores do início do ano e, com mercado de trabalho também aquecido e crescimento salarial alto, isso deve sustentar o consumo nos Estados Unidos. Isso fez o Fed incorporar esse movimento, até mais agressivo do que se esperava.

Na primeira semana de março, uma pesquisa mostrou que o número de vagas de trabalho em aberto no mês de janeiro ficou estável em 8,9 milhões nos EUA. Foram cerca de 5,7 milhões de contratações no primeiro mês do ano, contra 5,3 milhões de demissões.

Já a inflação dos preços ao consumidor veio acima do esperado pelo mercado nos dois primeiros meses do ano: em fevereiro, o índice foi de 0,4%, após o registro de alta de 0,3% em janeiro. No acumulado de 12 meses, o índice já alcança 3,2%.

A taxa básica de juros americana é um importante indicador da maior economia do mundo. Sua influência é global. Atualmente em um patamar alto, a diferenciação dos percentuais das taxas em relação a outros países pode levar os agentes a migrarem seus investimentos de países emergentes, como o Brasil, para os Estados Unidos, que têm a renda fixa considerada como a mais segura do mundo.

Decisão pode impactar o Brasil

O anúncio do Fed impacta a economia de todo globo, inclusive a brasileira. Para Cruz, da RB, a manutenção dos juros americanos indica que o BC deverá demonstrar paciência nas próximas reuniões do Copom, indicando que o fluxo negativo de recursos estrangeiros deixando a bolsa brasileira pode ser lido como um termômetro.

Dados divulgados pela Bolsa de São Paulo, a B3, e compilados pelo Valor mostra que o fluxo negativo de investimentos estrangeiros beira os R$ 21,2 bilhões.

Apesar da diminuição do diferencial de juros — com a americana estabilizada e a brasileira em trajetória de queda —, Nobre aponta que a possibilidade de pressão sobre o câmbio e também sobre a inflação já devem estar no radar do Banco Central do Brasil para definição de suas próximas suas reuniões:

– Ainda acho que há espaço para cortar juros. Estamos no meio do processo de flexibilização monetária. Eventualmente, ao se aproximar de taxas consideradas neutras, a diferenciação dos juros entre os dois países entrará em pauta.

O Globo

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