Oferecer maior proteção ao trabalhador durante a aplicação de defensivos agrícolas nas propriedades rurais e descartar corretamente as vestimentas utilizadas resultou em estudo inédito de pesquisadores brasileiros. O trabalho tem como objetivo reduzir a possibilidade de intoxicações na pele do trabalhador rural, segundo o pesquisador Hamilton Ramos, do Instituto Agronômico (IAC), com estudos feitos em laboratórios sobre o produto que se fixa nas roupas.
Coordenado por Hamilton, no centro de pesquisas do IAC, em Jundiaí, o trabalho sobre os índices de pesticidas nas vestimentas do campo teve início há duas décadas. Atualmente, Hamilton conta com a parceria da pesquisadora da Universidade de Maryland Eastern Shore, nos Estados Unidos, Anugrah Shaw. Além disso, a técnica e o laudo final dos estudos serão compartilhados com países do Consórcio Internacional de Equipamentos de Proteção Individual na Agricultura, onde o Brasil é representado pelo pesquisador do IAC.
“Quando falamos sobre a vestimenta, o que inclui calça, camisa e capuz usados para as aplicações de agrotóxicos no campo, podemos dizer que o trabalhador está muito mais seguro do que estava há 12 anos”, explica Hamilton. Ele diz ainda que as amostras de tecidos contaminadas passam por vários ensaios em laboratório para avaliar os riscos para a pessoa que aplica o defensivo químico.
Em outro método, o pesquisador avalia se a vestimenta que veio da produção agrícola pode ser descartada como lixo comum e não como resíduo químico. “Observamos que a segurança da fabricação da vestimenta, que é exigida por lei inclusive, é maior e o resíduo é mínimo. Então, o trabalhador poderia utilizar essa vestimenta em outras atividades, sem precisar descartar a roupa”, pontua.
Conforto
Em outra fase da pesquisa, há também a preocupação com o conforto que o equipamento de proteção individual ofereça ao trabalhador. “Os tecidos podem ser mais leves para o trabalhador de regiões mais quentes, mas a segurança do tecido é a mesma, sem risco algum durante a aplicação dos pesticidas”, destaca Hamilton.
No campo, uma equipe verificou ainda o uso de aplicação em plantação de laranja, com diferentes tipos de vestimentas para se avaliar o nível de contaminação do defensivo agrícola.
Estudos serão feitos com equipamentos de proteção adequados a propriedades em situações de alta exposição do trabalhador a agrotóxicos, como ocorre no cultivo de tomate. Nesse projeto, a americana Anugrah Shaw irá coordenar os estudos nos Estados Unidos, em parceria com uma faculdade de moda da Eslovênia, especializada em design funcional. “Em diferentes cenários, como no Brasil, Quênia e Índia, países onde o uso de pulverizadores costais por produtores rurais é mais comum, iremos avaliar o tipo de vestimenta que se adapta melhor no campo”, afirma Hamilton, que pretende propor possíveis novos designs para a indústria de EPI.
País tem legislação
A Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg) aponta que, no setor da agropecuária existam 575 mil empresas no País, com 101,3 mil trabalhadores. Quanto às vestimentas (Equipamento de Proteção Individual- EPI) certificadas, o levantamento aponta ainda que, em setembro de 2021, um total de 4.577 itens foi fabricado por empresas nacionais ou de outros países.
No histórico da legislação brasileira, o pesquisador Hamilton Ramos lembra que não havia uma legislação específica para os equipamentos de proteção do setor agrícola. “Antes de um estudo aprofundado que fizemos, a legislação brasileira se adequava para as roupas com riscos químicos de uma forma geral, de todos os setores que usavam EPIs”, comenta.
Em 2006, segundo o pesquisador, o programa IAC-Quepia contribuiu para reduzir reprovações de qualidade de vestimentas agrícolas protetivas produzidas no Brasil. Em 2010, dentre as peças analisadas pelo IAC, 52% eram reprovadas. Atualmente, este índice caiu para 15%. Ele trabalha ainda para que os estudos tenham alcance mundial e destaca que a legislação brasileira é segura e de qualidade no que diz respeito às vestimentas destinadas ao uso no campo.
Mercado atende para risco
Em vários setores, o equipamento de proteção individual é obrigatório por lei para resguardar a saúde do trabalhador e os riscos de acidentes. No setor agrícola, o equipamento contribui para evitar o contato com produtos tóxicos, como fumaças e partículas suspensas de defensivos e outros produtos. Para as roupas, é importante o trabalhador rural ter calça, camisa e touca que não causem danos à pele quando em contato com os produtos químicos.
Segundo Rodrigo Pelicer, responsável pelo departamento de vendas da loja Comitiva (especializada na comercialização de EPI), é importante a vestimenta com o tratamento hidrorrepelente, que contribui para a não contaminação de agrotóxico no corpo do trabalhador. “Não tenho um levantamento, mas comercializamos muitas vestimentas dessas para o uso em diversas culturas agrícolas, como na laranja, limão, pimenta e outras”.
Um conjunto de calça comprida, camisa de manga longa e avental, de acordo com Rodrigo, tem preço médio de R$ 90. Além desse conjunto, Rodrigo explica que também o EPI, com touca (conhecida como árabe), bota em PVC, luvas e viseira com proteção facial são bastante procurados. “Temos o conjunto de roupas e de outros equipamentos para cada tipo de atividade. O importante é a proteção do trabalhador quando está em contato com a pulverização de agrotóxico e a vestimenta já é própria para prevenir esse contato com o produto”, diz o vendedor.