Entenda por que preço do café robusta supera cotação do arábica pela 1º vez em sete anos

Dados foram divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), do campus da USP em Piracicaba.

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 03/09/2024 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de mercado

Pela primeira vez em mais de sete anos, e pela segunda vez na história dos levantamentos da Esalq-USP, o preço do café robusta ficou acima da variedade arábica, no comparativo dos indicadores. Entre os motivos da mudança está o clima quente e com poucas chuvas enfrentado por Brasil e Vietnã, principais produtores das variedades.

Os dados foram divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP).

Recorde histórico

  • De acordo com o Indicador Cepea/Esalq, o café robusta fechou o último dia 30 a um valor de R$ 1.483,95 na saca de 60 kg, o que representa um avanço de 16,73% em agosto e um recorde histórico da série de levantamentos iniciada pelo centro de estudos em 2021.
  • O valor da saca do robusta, pelo Indicador do Café Arábica Cepea – Esalq, é de R$ 35,71 a mais do que café arábica, comercializado na mesma data a R$ 1.448,24 saca com alta de 2,3% no acumulado do mês.
  • Segundo o Cepea, a única vez que a variedade robusta superou a arábica foi há mais de sete anos, entre outubro de 2016 e janeiro de 2017.

Entretanto, naquele período, a maior diferença de preços entre as variedades, registrada no dia 3 de janeiro de 2017, foi de R$ 20. “Isso significa que o robusta nunca esteve tão mais caro que o arábica”, aponta o Cepea.

Indicadores

O Indicador do Café Arábica Cepea/Esalq refere-se a sacas de 60 quilos líquido, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, valor descontado o Prazo de Pagamento pela taxa CDI, posto na cidade de São Paulo.

Já o Indicador do Café Robusta Cepea/Esalq refere-se a sacas de 60 quilos líquido, à vista, tipo 6, peneira 13 acima, com 86 defeitos, valor descontado o Prazo de Pagamento pela taxa CDI, a retirar na origem, no Espírito Santo.

Consumo no mercado interno

De acordo com o pesquisador Renato Garcia Ribeiro, responsável pela área de café no Cepea, ambas as variedades são usadas na mistura para consumo no mercado interno.

“Esse café que nós consumimos diariamente, que nós passamos no coador de filtro de papel, que nós compramos no mercado, ele é um blend (mistura) de café arábica e robusta. No Brasil, dois terços da produção é de café arábico e um terço é de café robusta”, afirma.

O pesquisador explica que o Brasil é o maior produtor do mundo na soma das variedades arábica e robusta e também o maior produtor somente de arábica. Já o Vietnã, é o maior produtor da variedade robusta.

“Tanto Brasil como Vietnã vêm sofrendo com problemas climáticos, o Vietnã na produção desse ano deve ter uma quebra principalmente por causa do calor e da falta de chuvas e o Brasil já vem há algumas safras registrando dificuldades em termos de produção. Esse ano mesmo esperava-se mais, mas, em função do calor principalmente, o volume produzido deve ser inferior ao que se esperava anteriormente. Tudo isso tem levado a um aumento de preços”, aponta Ribeiro.

De acordo com o pesquisador do Cepea, uma vez que Brasil e Vietnã são os principais produtores, qualquer cenário climático adverso e qualquer problema de produção nesses países gera um impacto de preço.

O especialista aponta ainda que, nos últimos anos, os estoques mundiais têm sido apertados, o que gera uma crise entre oferta e demanda, acarretando alta de preços.

Por que o preço do café robusta sempre foi menor?

Renato Garcia Ribeiro explica que o preço do café robusta sempre foi menor que o do arábica porque o primeiro, geralmente, é utilizado nos blends e pouco consumido sozinho, as exceções são os cafés solúveis. Mas, por conta da restrição de oferta, principalmente pelo impacto da produção no Vietnã, os preços da variedade robusta vêm subindo no mercado internacional.

“Vale ressaltar que problemas de fluxo logístico mundial de navios tem encarecido bastante o transporte e além disso o envio de café para a Europa (a União Europeia é o segundo maior bloco consumidor do mundo, o principal são os EUA). Isso fez com que esses problemas de encarecimentos de frete e essa dificuldade logística de enviar produto da Ásia para a Europa, aumentasse demais a exportação do café robusta brasileiro, que geralmente é quase todo consumido no mercado interno”, diz o pesquisador.

Ajuste de blends

A curto prazo, o pesquisador espera que, para lidar com os preços, indústria realize um “ajuste de blends”. O que possui limite.

“O que a gente espera a curto prazo e já está acontecendo por parte da indústria é um ajuste de blends quanto à proporção de arábica e robusta. Isso tem um limite, senão a empresa acaba mudando o padrão de sabor do café e pode ser que, caso haja mais altas isso possa ser repassado ao consumidor final, mas isso vai depender muito do que vai acontecer para frente”, completa.

G1

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