O desembolso do crédito rural segue em queda no Plano Safra 25/26. Nos dois primeiros meses da temporada, o acesso caiu 23% na comparação com igual período do ciclo anterior. Foram concedidos R$ 93,6 bilhões, abaixo dos R$ 115,8 bilhões entre julho e agosto de 2024. Os valores consideram a emissão de Cédulas de Produto Rural (CPRs), que cresceram 4% no período, para R$ 33,1 bilhões, segundo análise preliminar do Ministério da Agricultura com base em dados do Banco Central.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, admitiu o desempenho aquém do esperado para o Plano Safra 25/26. Em entrevista ontem ao programa “Bom dia, ministro”, ele disse que as linhas de renegociação de dívidas previstas na Medida Provisória 1.314/2025 vão dar novo fôlego para a contratação de crédito rural no país.
Na avaliação do ministro, as instituições financeiras estão mais cautelosas na concessão de financiamentos rurais por conta do cenário de inadimplência e do crescimento do número de pedidos de recuperação judicial.
“Uma alta inadimplência de produtores, geradas por variações de preços dos produtos agrícolas aliada a intempéries, uma onda de recuperações judiciais, algumas inconcebíveis (…) O banco só quer emprestar com alienação fiduciária, dificultou muito”, afirmou Carlos Fávaro durante a entrevista.
Segundo ele, a inadimplência também afetou a capacidade das instituições financeiras de captarem novos recursos para emprestar. “As instituições tiveram que lançar prejuízo pela inadimplência, diminuindo a capacidade de alavancagem para tomar recursos e emprestar para produtores”, acrescentou. “Com isso [a renegociação], deve voltar à normalidade o Plano Safra. São 10 anos para repactuar e pagar as dívidas que vinham atrapalhando a performance do Plano Safra”, afirmou.
No primeiro bimestre da safra 2025/26, o desembolso nas operações de investimento caiu 54%, para R$ 8 bilhões. As quedas mais acentuadas foram entre grandes (63%) e médios produtores (61%). O número de contratos nessa modalidade foi 33% menor do que no mesmo período do ciclo anterior.
A aplicação está menor em todas as linhas de investimentos com recursos equalizáveis, com destaque para o Moderfrota, destinado à compra de máquinas e equipamentos. O desembolso caiu 77% entre julho e agosto deste ano na comparação com o mesmo período de 2024. Foram desembolsados apenas R$ 469 milhões — um ano antes, foram R$ 2 bilhões. A programação total para a linha é de R$ 12,5 bilhões nesta temporada.
As contratações de custeio recuaram 22%, para R$ 41,6 bilhões, e as de comercialização, 37%, para R$ 4,3 bilhões. Houve alta de 10% nos empréstimos para industrialização (R$ 6,3 bilhões). Ao considerar apenas as linhas de crédito tradicionais do Plano Safra, sem as CPRs, o desempenho foi 28% inferior ao do ano passado nesses dois meses, de R$ 60,4 bilhões contra R$ 83,8 bilhões no início do ciclo 2024/25.
O principal recuo foi entre grandes produtores (35%). O financiamento pelas linhas tradicionais do crédito rural para pequenos e médios também caiu 17% e 18%, respectivamente, no período. O número de contratos recuou 28%, para 308,7 mil.
Dados sobre crédito rural
Um relatório do Ministério da Agricultura mostra que outros R$ 22,3 bilhões em financiamentos rurais foram contratados entre julho e agosto deste ano, mas ainda não foram liberados, pois há um prazo para o desembolso do dinheiro pelas instituições financeiras. Se confirmados, os valores chegarão a R$ 115,9 bilhões, desempenho semelhante ao consolidado do primeiro bimestre da safra 2024/25.
A Pasta também divulgou o balanço definitivo dos dados referentes ao desempenho do crédito rural em julho, por conta da atualização de desembolsos ao longo de agosto. Na análise, a Pasta constatou recuo de 7% nos valores acessados pelos produtores no primeiro mês do Plano Safra 2025/26 pelas linhas tradicionais e por CPRs. A soma ficou em R$ 44,6 bilhões, abaixo dos R$ 48,1 bilhões concedidos em julho de 2024.