Chuva de até 450 mm em poucas horas inunda lavouras de arroz e de soja no RS

Estimativa preliminar é que 10 mil hectares de plantações tenham sido atingidos.

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 22/01/2025 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de mercado

Produtores rurais do extremo sul do Rio Grande do Sul estão esperando a água baixar para calcular as perdas causadas por chuvas intensas que atingiram a região nesta segunda-feira (20/01). Parte das lavouras de arroz e de soja ficaram inundadas com as precipitações que chegaram a acumulados entre 250 mm a 450 mm em poucas horas, segundo a Metsul.

O produtor Leandro Vieira Paiva, que é também conselheiro do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), afirma, em entrevista à reportagem, que em torno de 10 mil hectares de plantações de soja e de arroz devem ter sido atingidas na região. Áreas em Santa Vitória do Palmar, na fronteira com o Uruguai, são as mais prejudicadas. “Ainda tem muita água em cima das lavouras, por isso é difícil calcular o tamanho da perda”, comenta Paiva.

Nesta safra, ele plantou 900 hectares de arroz irrigado e 350 hectares de soja, no sistema rotacionado conhecido como ping pong. “Choveu em torno de 260 milímetros em seis horas. As duas culturas foram atingidas, mas a situação mais agravante é a da soja, que não tolera o encharcamento”, explica. Ele acredita que as perdas na cultura atingirão pelo menos 50%.

O produtor Marcelo Bueno, que também cultiva soja e arroz em Santa Vitória do Palmar, conta que os 1.800 hectares de soja foram atingidos: “choveu 400 milímetros em aproximadamente 12 horas e 100% da lavoura está embaixo d’água”.

Com chuva e seca atrapalhando o plantio, no início do ciclo, ele precisou replantar 30% da lavoura. “Nessa área, depois das chuvas de ontem, com certeza, a soja não irá mais nascer”, observa. Dos outros 70% da plantação, ele acredita que metade está bastante comprometida: “será uma perda muito grande”.

A estimativa inicial era colher entre 45 sacas a 50 sacas por hectare, pois já vinha sendo um ano difícil. “Agora, se colher 20 sacas por hectare, a gente ficará muito satisfeito”, lamenta. Na lavoura de arroz, que tem 2.900 hectares, ele acredita que o prejuízo será menor. Sem seguro para a área, Bueno espera a situação do campo normalizar para poder ter a real ideia das perdas.

Recuperação

Suzana Machado Terra, secretária municipal de Agricultura e Pesca de Santa Vitória do Palmar, conta que os produtores estão assustados com o volume extremo de chuva que atingiu a região e confirma que a soja é a cultura mais atingida. Ela conta que as estradas rurais também foram bastante prejudicadas. “É uma situação muito preocupante, estamos trabalhando em conjunto com a Defesa Civil e a secretaria de Saúde para atender as famílias atingidas”, afirma.

Com todos os campos plantados de arroz e soja, a água transbordou das lavouras para as vias, o que também dificulta o acesso às propriedades. O atendimento a moradores de nove agrovilas instaladas ao longo da BR-471, segundo a secretária, é prioridade. Ela também afirma que o município está unindo esforços para iniciar os trabalhos de recuperação das estradas rurais, garantindo a trafegabilidade na região, e conta com apoio do governo estadual, assim como espera ajuda no âmbito federal.

Roberto Ghigino, vice-presidente da Federarroz, ressalta que enquanto a chuva intensa atingiu a região, outros pontos do Estado ainda sofrem com a estiagem. “No momento ainda é difícil saber a dimensão dos estragos e das perdas, estamos começando a fazer um levantamento”, diz.

Ghigino também comenta que o prejuízo maior será para os sojicultores, uma vez que o arroz, dependendo do estádio do ciclo, aguenta alguns dias embaixo d’água sem resultar em maiores problemas. “Pode ter uma quebra, mas a região atingida começou a plantar mais tarde, então não deve ter tanto prejuízo”, considera. Ele completa que a produtividade média de arroz para a região, estimada inicialmente, gira em torno de 8.500 kg por hectare: “é uma zona bem produtiva”.

inda conforme o vice-presidente da federação, a região Sul do Estado semeou uma área aproximada de 166 mil hectares de arroz e a área atingida pelas chuvas desta segunda-feira deve representar um percentual pequeno.

Segundo a Metsul, a chuva de 419 mm em menos de 24 horas significa um terço da média anual inteira de precipitação de Santa Vitória do Palmar, ou seja, chuva de quatro meses.

Globo Rural

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