As exportações de carne bovina do Brasil somaram 273,4 mil toneladas em abril, alta de 15,3% em relação ao mesmo período no ano passado, conforme dados do governo federal compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), nesta quinta-feira (8/5). A receita de exportação chegou a US$ 1,33 bilhão em abril, avanço de 27,6%, impulsionada por preços maiores.
O presidente da Abiec, Roberto Perosa, disse a jornalistas que a China continua sendo o principal destino da carne bovina brasileira, mas a grande surpresa foi o elevado volume adquirido pelos Estados Unidos. “Fizemos quase 48 mil toneladas [embarcadas para os EUA] em abril. Saímos de um número, em abril de 2024, de 7,99 mil toneladas”, ressaltou o dirigente.
O salto de 498% no volume embarcado para o mercado americano, no comparativo anual, vem na esteira das restrições de oferta causadas pelo ciclo de baixa na pecuária dos EUA, além da “necessidade da população americana sobre novas fontes de carne”, pontuou Perosa.
A China, por sua vez, manteve a liderança das compras em abril, com 107,8 mil toneladas adquiridas, que representaram 39,4% do total enviado pelo Brasil ao exterior.
Novo escritório
O presidente da Abiec reafirmou que a entidade abrirá um escritório no país asiático, em parceria com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). A unidade comercial será inaugurada na próxima semana.
Apesar da guerra comercial estabelecida entre os dois maiores clientes da carne brasileira, China e EUA, Perosa não prevê uma disparada nos preços do produto no mercado internacional. “Acho que o preço vai subir, mas não algo muito significativo. Podem vir aumentos acompanhados de processos naturais, inflacionários”, afirmou. “Não há desabastecimento no mercado global, não há uma corrida pela carne no mundo”, acrescentou.
Até mesmo em termos de volume, Perosa tem uma perspectiva moderada sobre eventuais aumentos de demanda da China em substituição ao produto americano. “O Brasil já exportou quase sete vezes mais carne que os EUA para a China ano passado, é um mercado consolidado. O canal pelo qual os EUA vendiam é diferente do Brasil”, explicou o dirigente, citando que há distinção entre os tipos de cortes fornecidos por cada país aos chineses.
Neste contexto, a Abiec mantém a expectativa de crescimento de 10% a 12% para as exportações de carne bovina neste ano. No acumulado de janeiro a abril, o Brasil exportou 949,9 mil toneladas de carne bovina, crescimento de 13,5% frente ao mesmo período de 2024. A receita somou US$ 4,55 bilhões, avanço de 23,7%.
Habilitações de frigoríficos
Às vésperas da missão do governo e empresários brasileiros para a China, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, não espera por novas habilitações dos chineses para frigoríficos de carne bovina de imediato. “O momento de entendimento entre o Brasil e a China é de que isso [habilitações] deve ocorrer mais no final do ano ou no ano que vem. Existem outras negociações importantes em curso”, disse.
Segundo Perosa, os temas mais urgentes devem ser a revisão do protocolo para evitar o embargo das exportações de todo o país em casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como “doença da vaca louca”. O objetivo do Brasil é que os embargos, nestes casos, se restrinjam ao local de ocorrência da doença.
“O Brasil ainda não tem oportunidade de exportar subprodutos [de bovino] para a China, seria mais nesse segmento para discussão durante a missão”, ressaltou Perosa. “Não vejo a possibilidade de novas habilitações agora”, enfatizou.
Isso porque no ano passado os chineses habilitaram 38 frigoríficos brasileiros de uma só vez. Agora, segundo Perosa, o foco das autoridades sanitárias chinesas é avaliar as solicitações das indústrias de aves e suínos, que tiveram volumes menores de habilitação na última leva de aprovações.
“Ainda assim analisaram recentemente os pedidos de 28 plantas [de bovino] e devolveram”, lembrou o presidente da associação. As solicitações citadas por Perosa foram negadas pela China pela existência de inconformidades e agora os retornos de documentação com os devidos ajustes estão sendo novamente enviados aos chineses.
Outro ponto é a necessidade de esperar que seja concluída a investigação de salvaguardas da China, que termina em setembro. Para Perosa, somente após isso devem ser retomadas as análises para a abertura de plantas de bovina, termina em setembro.
Existe a possibilidade de que algum fato político possa antecipar as análises, mas, a priori, este deve ser o cronograma dos acontecimentos.
Em relação a outras aberturas, as negociações estão adiantadas com o Japão. Segundo Perosa, autoridades do país visitaram o Brasil na última sexta-feira (2/5) e agendaram um retorno para a segunda quinzena de junho, para avaliar o sistema sanitário brasileiro.
A partir de então, há um período de formulação de documentações pelo Japão e a abertura de mercado para a carne bovina do Brasil pode vir em alguns meses.