Arroz mais caro: Índia proíbe exportações e acende alerta para crise global; Brasil pode ser afetado?

Bloqueio resulta em altas nos preços internacionais do arroz; analista vê risco com perda da rentabilidade e avanço das importações do Brasil

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 18/08/2023 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de Mercado

No fim do mês de julho, a Índia, maior exportador global de arroz, anunciou a proibição das exportações do arroz branco não basmati.

A Índia é o segundo maior produtor mundial de arroz, com 134 milhões de toneladas sendo previstas para a temporada 2023/24, queda de 1,5% sobre a temporada anterior, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

A medida do país, que representa 40% do comércio global de arroz, acontece após o produto registrar alta no varejo indiano, depois que fortes chuvas prejudicaram áreas produtoras do país.

Evandro Oliveira, analista de arroz na Safras & Mercado, ressalta que o país já havia proibido os embarques de algumas variedades de arroz no ano passado.

“A Índia exporta para mais de 140 países, ou seja, todo o planeta consome arroz indiano, o que gera uma preocupação sobre um possível desabastecimento e garantia da alimentação, principalmente em países mais pobres, em especial nações da África Oriental”, comenta.

Segundo Oliveira, esse bloqueio já tem resultado em altas nos preços internacionais do produto. Em 20 de julho, quando foi anunciado o embargo, os preços do arroz futuro em casca com contrato para setembro passaram de US$ 15,87 para US$ 16,09 até quinta-feira (10), alta de 1,39%, sendo que, ao longo do ano, os preços de exportação em países como Tailândia, Vietnã e Paquistão têm avançado.

“Esse bloqueio resultou em críticas por parte da indústria dos Estados Unidos. Então, estamos vendo um aumento nos preços de exportações norte-americanos, grande concorrente do Brasil. E o avanço desses preços pode ser favorável para as exportações brasileiras, uma alternativa que traz rentabilidade ao produtor em um momento delicado para a atividade”, explica.

De acordo com dados do Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz), o custo do arroz no Brasil está acima de R$ 90 por saca. “Os custos estão muito elevados, o produtor precisa voltar a ter lucro após registrar prejuízos ao longo do ano”, diz.

Produção e exportação de arroz do Brasil

O Brasil é o 11º maior produtor e o 11º maior consumidor mundial de arroz. Dados do USDA colocam o Brasil como o nono maior exportador mundial.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), os principais destinos das exportações brasileiras nos sete primeiros meses de 2023 foram: México (26,8%), Senegal (17,7%), Venezuela (12,8%), Costa Rica (10,5%), Gâmbia (6,7%), Países Baixos (Holanda) (4,9%), Peru (4,1%), Serra Leoa (3,6%) e El Salvador (3,1%). Outros 94 destinos representaram os 9,9% restantes.

Dentre as origens do arroz importado pelo Brasil em julho, 94,74% vieram de países do Mercosul, sendo 64,23% do Paraguai, 28,3% do Uruguai e 2,8% da Argentina.

Itália, Vietnã, Tailândia, Paquistão, Índia e Camboja foram responsáveis pelo envio do restante ao Brasil (4,77%) em julho.

Nesta temporada, a produção de arroz do Brasil está estimada em 10 milhões de toneladas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Há risco para o Brasil?

Segundo o analista da Safras & Mercado, o grande problema para a perda da rentabilidade dos produtores fica pela opção por cultivo de outras culturas.

“A tendência (com a perda da área) fica para o aumento das importações, com o Brasil dependendo ainda mais do Paraguai, Argentina e Uruguai para abastecer o mercado interno. E, a partir deste cenário, há uma maior propensão para pagarmos mais caro pelo produto no supermercado”, pontua Oliveira.

Ao longo dos últimos 12 meses, o arroz acumula inflação de 12,24%.

Para Lucilio Alves, professor da Esalq/USP e pesquisador da área de grãos do Cepea, a balança comercial brasileira vem sendo superavitária. Com isso, restrições por parte da Índia não devem impactar a disponibilidade no Brasil.

“Se a restrição de exportação da Índia ocorrer em percentuais expressivos e por tempo maior, isso pode favorecer impactos positivos nos preços em outros principais exportadores, principalmente na Ásia. Preços mundiais maiores, por sua vez, poderão impactar as paridades de exportação e de importação no Brasil, em dólares. Para o mercado interno, a transmissão de preços dependerá também da taxa de câmbio”, conclui Alves.

Money Times

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