Após a primeira conversa entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aconteceu nesta segunda-feira (06), o mercado está na expectativa dos Estados Unidos ampliarem a lista de exceções de produtos brasileiros a tarifas, especialmente para a carne bovina.
De acordo com informações levantadas pelo Broadcast Agro, exportadores avaliam que a tendência é de ampliação das exceções à sobretaxa de 40% no curto prazo. A retirada completa do tarifaço, porém, deve ficar condicionada a negociações mais amplas, que envolvem também minerais, café, etanol e carne bovina, estas últimas entre os produtos considerados mais sensíveis.
A perspectiva é que a ampliação da lista de exceções deve seguir o interesse dos americanos. Além disso, alguns empresários republicanos e doadores de campanha do Trump informaram que estão perdendo dinheiro em virtude do embargo com o Brasil.
De acordo com alguns jornais, Wesley Batista se reuniu com Donald Trump semanas antes de o presidente americano fazer um aceno público ao presidente Lula durante a abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. O empresário teria desempenhado um papel central na reaproximação e na abertura de diálogo entre os dois governos.
O empresário Wesley Batista, integrante da família controladora da JBS, afirmou ao Financial Times neste domingo (6) que os Estados Unidos não produzem carne bovina em volume suficiente para suprir a demanda crescente por dietas ricas em proteínas. Segundo ele, essa limitação tem levado o país a aumentar sua dependência das importações.
Os americanos estão pagando o preço mais alto da história pela carne bovina e precisam importar cada vez mais, já que a produção interna não consegue acompanhar a demanda. Segundo dados do Departamento do Trabalho dos EUA, o preço médio da libra de carne moída atingiu US$ 6,32 em agosto, um aumento de 13% em relação ao ano anterior.
Um levantamento do International Food Information Council mostra que 71% dos consumidores norte-americanos buscaram aumentar o consumo de proteína em 2024, ante 67% em 2023 e 59% em 2022 — uma tendência que, segundo Batista, reflete mudanças nos hábitos alimentares e mantém a demanda aquecida, mesmo diante da alta nos preços.
Por outro lado, a alta nos preços internos da carne beneficia diretamente os pecuaristas americanos, concentrados principalmente no Meio-Oeste, região que é bastião eleitoral de Trump.
“Trump precisará equilibrar interesses políticos e impactos econômicos. Os pecuaristas representam uma base eleitoral importante, por isso é mais provável que se abra exceção para o café do que para a carne. Em uma eventual negociação direta, o café tende a deixar a lista antes da carne”, afirmou uma fonte ligada ao setor exportador ao Broadcast Agro.
Quando o assunto é carne bovina, fontes do Executivo adotam um tom de “otimismo cauteloso”, lembrando que os Estados Unidos têm papel de destaque no mercado global do produto. Esse otimismo se apoia, em parte, na percepção de que a carne bovina está diretamente ligada à inflação americana — em um momento de redução do rebanho local e de maior dependência das indústrias dos EUA em relação às importações.
As articulações do setor brasileiro junto ao governo americano têm sido conduzidas por meio do Meat Import Council of America (MICA), entidade que reúne empresas importadoras, processadoras e distribuidoras de carne nos EUA. O conselho já solicitou formalmente à administração norte-americana que inclua a carne brasileira na lista de exceções ao tarifaço.
Em ligação com o presidente americano, o Brasil pediu pela retirada total da sobretaxa de 40%, alegando o déficit comercial brasileiro na relação bilateral. Segundo fontes do Broadcast Agro, a retirada uniforme da sobretaxa de 40% deve envolver discussões mais amplas e contrapartidas do Brasil em áreas sensíveis para os Estados Unidos, como exploração de terras raras, regulação das big techs e acesso do etanol americano ao mercado brasileiro.
Mesmo com a sobretaxa de 50% para os produtos brasileiros, as importações de carne pelos americanos cresceram 30% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2024. No caso do Brasil, as compras aumentaram 91% antes de recuar em agosto, após o aumento das tarifas.