Os efeitos do primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil, em junho, pesaram sobre os resultados da BRF no segundo trimestre. A empresa de alimentos fechou com lucro líquido de R$ 735 milhões, o que representou uma queda de 32,8% em relação ao mesmo intervalo de 2024, segundo balanço que a companhia divulgou nesta quinta-feira (14/8). A descoberta da doença ocorreu em granja de outra empresa, mas o caso afetou as exportações de carne de frango de todo o país, já que diversos importadores suspenderam as compras temporariamente.
No entanto, os desdobramentos da gripe aviária não impediram a companhia de registrar seu melhor primeiro semestre da história. Segundo a BRF, o forte desempenho no intervalo de janeiro a junho deveu-se, em grande parte, a seu programa de melhoria na eficiência operacional e à estratégia de diversificação de exportações, que a empresa já vinha adotando.
No primeiro semestre, o Ebitda da empresa cresceu 11% em comparação com o mesmo período de 2024, para alcançou R$ 5,3 bilhões. O lucro líquido, por sua vez, aumentou 14%, para R$ 1,9 bilhão. A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, chegou a 0,43 vez, seu menor nível.
“Quando você perde um mercado da relevância de Europa, China e Chile, e tem metade do trimestre sem as habilitações da maioria dos mercados, mais de 100 mercados (suspensos), olhamos como foi importante a diversificação”, disse o CEO da BRF, Miguel Gularte, a jornalistas.
No segundo trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado recuou 4,5%, para R$ 2,5 bilhões. A receita líquida, porém, aumentou 2,9%, para R$ 15,36 bilhões.
Sem detalhar qual foi o exato impacto da gripe aviária sobre o resultado operacional da empresa, o diretor de finanças e relações com investidores, Fábio Mariano, admitiu que, “certamente, a performance de Ebitda seria muito maior no segmento internacional”, não fosse a ocorrência da doença, causada pelo vírus H5N1.
De acordo com os dados do balanço, que a empresa divulgou na quinta-feira (14/8), o Ebitda ajustado do segmento internacional caiu 21,4%, para R$ 1,17 bilhão. Já receita dessa unidade de negócios recuou 4,7%, para R$ 6,74 bilhões. “A maior explicação para a queda na receita do segmento internacional foi a redução de 10% no volume [do segmento]”, disse Mariano.
O executivo ponderou, com base em dados do governo federal, que o Brasil perdeu 15% em volume de exportações em virtude dos embargos decorrentes da gripe aviária. Na BRF, segundo ele, a diminuição foi de 5%.
Para lidar com o momento adverso, não houve redução nos níveis de alojamento de pintos da empresa, um movimento que diminuiria a oferta. “Houve situações em que preferimos segurar os estoques, e a estratégia deu certo”, avaliou Mariano.
Além de segurar o estoque, a BRF optou por redirecionar a venda para mercados alternativos ou para o consumo doméstico, a depender das condições de preço e dos cortes de frango. Alguns itens de menor valor agregado que a companhia exportaria para a China foram enviados para graxarias para fabricação de farinhas. No caso dos pés de frango, item pelo qual a demanda chinesa costuma ser bastante elevada, a companhia conseguiu enviar lotes para Hong Kong e países da África, entre outras regiões.
O Brasil voltou a ser considerado livre do vírus H5N1 em granjas comerciais no fim de junho, mas China, Chile e União Europeia ainda não retomaram as compras. Outros importadores relevantes, como a Arábia Saudita, já normalizaram as importações.
“Ainda estamos fora do mercado chinês e do chileno. O chinês é relevante por preços e volume, e o chileno, por preço”, disse Gularte.
Por outro lado, ainda de acordo com o balanço da BRF sobre o segundo trimestre, no segmento Brasil, que abarca o mercado interno, o Ebitda ajustado cresceu 23,1%, para R$ 1,32 bilhão. Já a receita aumentou 17,6%, para R$ 8,08 bilhões.
Questionado sobre a fusão da empresa com sua controladora, a Marfrig, que criará a MBRF, Gularte disse que a previsão é de que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) defina o caso no dia 20. “Estamos otimistas de que esse processo se conclua”, afirmou.