Ministério da Agricultura tenta ampliar mercado para carne suína no Japão

Atualmente, apenas empresas de Santa Catarina podem exportar ao país, pois o Estado tem o reconhecimento de zona livre de aftosa sem vacinação desde 2007.

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 12/08/2025 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de mercado

Uma missão do Ministério da Agricultura ao Japão nesta semana tentará avançar nas conversas para ampliar o mercado para a carne suína brasileira. Atualmente, apenas empresas de Santa Catarina podem exportar aos japoneses, pois o Estado tem o reconhecimento de zona livre de aftosa sem vacinação desde 2007. A tentativa é estender a autorização para Paraná e Rio Grande do Sul e superar “medidas protelatórias” do governo japonês.

Em 2024, as exportações de carne suína dos frigoríficos catarinenses ao Japão alcançaram 93,4 mil toneladas, alta de 131% em relação ao ano anterior, com faturamento de US$ 312,5 milhões. O Estado detém a maior fatia dos embarques totais do segmento, com cerca de 55% das vendas para todos os destinos.

No ano passado, o Brasil exportou 1,3 milhão de toneladas da proteína, das quais 791,3 mil toneladas saíram de Santa Catarina Rio Grande do Sul (280,4 mil toneladas) e Paraná (183,6 mil toneladas) aparecem na sequência no ranking de exportadores, o que reforça a importância de uma eventual abertura do mercado japonês para esses Estados.

Em março deste ano, nas vésperas da viagem da comitiva brasileira liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão, o Ministério da Agricultura, Silvicultura e Pesca japonês (MAFF) enviou um questionário adicional ao Brasil relativo ao processo de análise de risco sanitário para a importação de carne suína do Paraná e Rio Grande do Sul.

A autoridade japonesa afirma ter “priorizado a consolidação de informações” referentes ao mercado suíno nos dois Estados. No questionário, os japoneses solicitaram os documentos que o Brasil apresentou à OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal) referentes ao sistema de vigilância sanitária para febre aftosa e peste suína clássica.

Na oportunidade, a embaixada brasileira em Tóquio comentou, em comunicado enviado ao Itamaraty e ao Ministério da Agricultura, obtido pela reportagem, que a indicação reitera o “ímpeto protelatório japonês”. O documento avalia que a intenção dos japoneses, com o novo pedido, era “munir-se de argumentos para contrariar comentários sobre a morosidade do processo de análise”.

A diplomacia avaliou ainda que a retórica japonesa é “calcada no apego ao processo formal de análise e à necessidade de dados científicos”. A mesma postura é adotada na tentativa de abertura do mercado de carne bovina para as exportações brasileiras, ressalta o texto.

Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), afirmou que o Brasil vai reforçar aos japoneses o status de livre de febre aftosa sem vacinação, referendado pela OMSA, como argumento para expandir o mercado. “Essa condição nos permitiria vender para o Japão, além da carne com osso de Santa Catarina, também carne com osso e miúdos do Rio Grande do Sul e do Paraná. Esperamos que esse seja um passo positivo”, disse ao Valor.

Ele ponderou que a decisão cabe ao governo do Japão, por meio da análise dos documentos que o Ministério da Agricultura tem enviado para lá para que as autoridades japonesas se sintam “seguras” para estender a habilitação aos dois Estados. O dirigente acompanha o secretário de Comércio e Relações Internacionais da Pasta, Luis Rua, nas agendas no país asiático.

As primeiras exportações de carne suína de empresas catarinenses para o Japão foram realizadas em agosto de 2013, ainda como cargas comerciais de amostras. Nove plantas foram habilitadas em outubro daquele ano. Segundo o Ministério da Agricultura, Silvicultura e Pesca japonês, atualmente são 27 plantas brasileiras autorizadas a exportar para lá.

Comércio com japoneses

O Brasil demorou a ganhar espaço no mercado japonês. Ao fim dos primeiros cinco anos de mercado aberto, o país tinha apenas 0,15% de participação nas importações japonesas da proteína. O “salto” ocorreu a partir de 2022, com a desvalorização do iene, que reduziu o valor do “preço de entrada” do produto. A cotação da moeda saiu de 109,01 por dólar em 2021 para 151,48 no ano passado.

Avaliação atualizada recentemente pela embaixada brasileira em Tóquio diz que o Brasil foi quem mais se beneficiou dessa queda na cotação da moeda japonesa, por oferecer produtos com preços mais competitivos e com alta qualidade. Na carne suína congelada, os exportadores catarinenses já são o segundo maior fornecedor, com 13% do mercado em termos de volume, aponta outro documento obtido pela reportagem.

A fatia atual do Brasil no mercado de carne suína em geral no Japão está perto de 8% e há planos dos exportadores para alcançar, ao menos, 10%. A possível abertura de Paraná e Rio Grande do Sul é considerada fundamental para atingir a meta.

O ponto de atenção, reforça a diplomacia brasileira em Tóquio, são possíveis “mudanças de rumo” da economia japonesa. A eventual valorização do iene, por exemplo, poderia eliminar a vantagem competitiva do produto brasileiro e beneficiar fornecedores de regiões mais próximas, que têm custos de transporte menores.

Pesa a favor do Brasil o fato de que nenhum país asiático e africano é habilitado para exportar para o Japão. Na lista de requisitos, os japoneses exigem que os fornecedores sejam livres de febre aftosa sem vacinação, peste suína africana e peste suína clássica. Os principais exportadores são Canadá, Estados Unidos, Espanha e México.

Globo Rural

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