Enquanto China e EUA ainda não chegam a um acordo comercial, o Brasil deve continuar exportando volumes elevados de soja ao país asiático neste segundo semestre, em um momento em que sazonalmente as vendas americanas à China costumavam tomar a dianteira.
Em junho, as importações de soja da China bateram recorde para o mês e alcançaram 12,26 milhões de toneladas, de acordo com dados da Administração Geral das Alfândegas. Desse total, 10,62 milhões tiveram como origem o Brasil, que aproveitou a guerra comercial de Donald Trump para acelerar as vendas aos clientes chineses.
“Desde a eleição [para presidente nos EUA em 2024], a China vem se preparando para comprar mais soja do Brasil, e os investimentos para ampliar a capacidade de embarques em alguns terminais no porto de Santos são a prova disso. A estratégia da China é voltar a trabalhar com estoques grandes para tentar se proteger das variações de preço que venham a acontecer devido à guerra comercial”, disse Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Recentemente, circularam rumores no mercado de que a China voltaria a negociar soja com os EUA em meio a uma tentativa de costura de um acordo comercial. Mas, para Brandalizze, o Brasil ainda deve dominar as negociações de soja com os chineses até setembro, quando terá início a colheita da safra 2025/26 em solos americanos.
“O foco nas exportações da safra americana deve acontecer em outubro, desde que China e EUA consigam um acordo comercial até agosto”, ressaltou o consultor. Em junho, a China importou 1,58 milhão de toneladas de soja dos EUA, alta de 20,6% na comparação anual.
Enílson Nogueira, analista da Céleres Consultoria, disse que também acredita que a China vai ter uma demanda maior pela soja da América do Sul por mais tempo neste segundo semestre.
“No curto prazo, não vejo os EUA comprando soja da China. Com as safras de Brasil e Argentina abundantes, as compras naturalmente direcionam-se para esses países. Além disso, como o Brasil tem uma produção na casa de 172 milhões de toneladas, ele está na frente da lista de embarques”, avaliou.
O aumento dos volumes de soja do Brasil para a China deve fazer com que os prêmios da oleaginosa nos portos brasileiros continuem no campo positivo, como no primeiro semestre, projetam os especialistas.
“Sazonalmente, os prêmios são maiores no segundo semestre, e, mesmo se China e EUA chegarem a um acordo, ainda assim teremos prêmios firmes, em US$ 0,80 positivos para os contratos de agosto”, disse Nogueira.
Já Brandalizze afirmou que há chances de o prêmio ceder caso americanos e chineses firmem uma parceria comercial. Os valores, no entanto, seguem elevados. “Os prêmios estão 160 pontos positivos para [o contrato de] setembro e 145 positivos para [o contrato de] outubro, sinal de que há muita demanda ainda pela soja que sai do Brasil”.
De acordo com Ismael Menezes, sócio da MD Commodities, ainda que a programação de embarques para a China tenha desacelerado nos últimos 60 dias, o Brasil deve manter o protagonismo no fornecimento de soja ao país.
A baixa demanda pela soja dos EUA e a aproximação do início da colheita no país devem acentuar a queda dos preços na bolsa de Chicago. Em 12 meses, as cotações do grão já acumulam desvalorização de quase 10%.
“Os prêmios permanecerão firmes e o preço em Chicago cairá pela pressão da safra americana. Se no curto prazo estamos vendo os contratos se segurando em
US$ 10 o bushel, podemos imaginar que o valor de US$ 9,50 passa a ser um teto neste segundo semestre”, projetou o analista da MD.