O ritmo menor de desembolso nas linhas do Plano Safra não é resultado apenas de uma busca dos produtores rurais por outras fontes no mercado privado. Há uma seletividade maior na concessão de financiamentos por parte de algumas instituições financeiras neste ano, reflexo da aversão maior ao risco dado o cenário de margens achatadas no campo, problemas climáticos em regiões produtoras e redução nos preços das commodities agrícolas.
O ambiente está ruim para o crédito e já impactou as perspectivas de um grande banco privado que atua no financiamento do setor agropecuário. A carteira de clientes do agronegócio da instituição, de algumas dezenas de bilhões de reais, não deve crescer pela primeira vez após anos de expansão, confidenciou um executivo da instituição, sob anonimato.
Com maior aversão ao risco, buscar novos clientes significa “trazer problemas” de outros bancos, segundo ele. “Não é uma tragédia, mas será um ano mais duro”, estimou. “Todo mundo está apertado de caixa”, disse.
A cautela maior dos bancos espelha as dúvidas que o mercado de capitais enfrenta após o aumento do endividamento e dos pedidos de recuperações judiciais e as interrogações entre gestores após impactos em fundos de investimentos e operações estruturadas.
Mas há situações diferentes. O dirigente da área de agronegócios de outro grande banco disse que a concessão de crédito aumentou 20% com recursos obrigatórios, oriundos de depósitos à vista, nos três primeiros meses do Plano Safra. “Operamos de porteira aberta”, afirmou.
A estratégia será financiar recursos livres e CPRs agora. Há atenção dos bancos para cumprir a aplicação dos recursos direcionados, que precisam ser liberados sob pena de multa do BC.
“Cada banco tem sua própria estratégia de alocação de recursos, de avaliação de risco do cliente e de meta de mercado que quer atingir. As instituições não vão deixar de cumprir as exigibilidades”, disse Rafael Baldi, diretor-adjunto de Produtos da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).
A redução dos custos dos insumos também impacta a procura por crédito rural neste ano, já que a necessidade de recursos cai. No mercado, outro ponto destacado sobre a queda dos desembolsos é a base comparativa. Nos primeiros três meses da safra passada, o desembolso foi 20% superior ao ciclo precedente. Não deve haver problemas para custear a safra, disseram executivos, mas menos investimentos e expansão.