Os produtores de algodão no Brasil, que é o novo maior exportador global da pluma, estão atentos à oscilação de preços no mercado internacional e acelerando a colheita. Em Mato Grosso, líder no ranking nacional de produção, a colheita ainda está no início. Um termômetro é a companhia Bom Futuro, que aposta na commodity e já colheu mais de 20% da área de 192 mil hectares prevista para a cultura.
Por outro lado, há uma tendência de queda nas cotações há alguns meses, ainda que a Bolsa de Nova York, onde se precifica a commodity, tenha demonstrado pontuais reações. De acordo com uma análise divulgada nesta sexta-feira (2/8) pelo banco alemão Commerzbank, no final de julho, o preço no ICE atingiu o seu nível mais baixo desde o outono de 2020, em 67,5 centavos de dólar por libra-peso.
Em comparação, o algodão ainda custava mais de 100 centavos de dólar no final de fevereiro. Um dos fatores que pressionam as cotações é a previsão de oferta global, que está maior.
Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), há um salto significativo na oferta global de 1,4 milhão para 26,2 milhões de toneladas nesta safra 2024/25, que acaba de começar. No mês passado, a entidade revisou para cima sua projeção em mais 170 mil toneladas.
“Nos EUA, em particular, o volume de colheita deverá ser expressivamente maior este ano, nomeadamente mais de 1 milhão de toneladas superior ao do ano anterior. A razão para isto é uma área colhida significativamente maior, uma vez que a área plantada foi ampliada e espera-se que haja uma taxa de abandono significativamente menor”, informa o relatório do Commerzbank.
O resultado norte-americano deve ser de 3,2 milhões de toneladas colhidas, em uma área 50% maior em comparação ao outono do que no ano anterior. Contudo, o banco alerta para cauteloso acompanhamento da safra para verificar se as estimativas irão se confirmar, apesar de concordar com o USDA de que a oferta global maior é uma realidade. E a produção brasileira contribui para isso.
Atualmente, 90% do algodão do Brasil segue para exportação. As grandes propriedades estão investindo em estrutura para beneficiamento no próprio local, o que deve agilizar a cadeia. Com mais investimentos à vista e os preços não tão favoráveis, as negociações da pluma brasileira podem ficar à mercê das movimentações dos agentes de mercado.
No momento, produtores focam na colheita e observam com cautela o andamento das cotações para escolher entre travar o preço no mercado futuro, armazenar ou apostar em aumentar o excedente que vai para a indústria de fiação nacional.
Segundo o USDA, o consumo deverá subir para 25,5 milhões de toneladas, o que significa que o mercado de algodão estaria sobre ofertado. Os estoques globais de algodão deverão aumentar em conformidade. A expectativa é que cheguem a 18 milhões de toneladas ao final de 2024/25, cerca de 730 mil toneladas a mais que no início do ano-safra.
“A maior parte do armazenamento está ocorrendo nos EUA. Em julho, houve também uma revisão ascendente significativa nos estoques de algodão dos EUA devido à revisão ascendente da safra norte-americana”, aponta o banco alemão.