Conflitos globais impactam o mercado de fertilizantes e, portanto, a produção agrícola brasileira, aponta nota técnica da Embrapa; presidente de empresa produtora de potássio menciona importância de “estratégias abrangentes” para lidar com a crise.
A nota técnica NT45 da Embrapa, que analisa as implicações dos conflitos Israel-Hamas e Rússia-Ucrânia no mercado global de fertilizantes, apontou que os conflitos podem impactar significativamente a atividade agrícola do Brasil. Israel é, segundo a nota, o terceiro maior fornecedor de fertilizantes agrícolas, representando 10% das importações brasileiras de cloreto de potássio (KCl) em 2022.
O conflito entre Rússia e Ucrânia, segundo a Embrapa, também provocou desarranjo no mercado global de fertilizantes e tornou instável o sistema alimentar global. Países que dependem das importações de fertilizantes para a produção de grãos sofreram interrupções na cadeia de suprimentos.
Ainda segundo a nota, as importações brasileiras de fertilizantes representam mais de 80% da demanda nacional por esse tipo de produto. Assim, a Embrapa aponta a “vulnerabilidade” do agronegócio do Brasil a problemas no comércio global provocados por conflitos em países exportadores de fertilizantes.
Adriano Espeschit é presidente da Potássio do Brasil e acrescenta que a Rússia e a Ucrânia são grandes produtores de fertilizantes e matérias-primas relacionadas, como potássio, nitrogênio e fosfato. “Os conflitos na região afetam diretamente a cadeia de suprimentos global desses insumos. O Brasil é altamente dependente da importação de potássio de outros países, em volumes crescentes a cada ano, atualmente, com valores da ordem de 97%”, diz ele.
Segundo a nota técnica, o potássio é o fertilizante mais importante para o Brasil, sendo que o país é o maior importador global do produto. No ano passado, o Brasil importou, da Rússia e Bielorrússia, 40% do potássio utilizado, o que indica o quanto a produção agrícola brasileira depende do mercado global neste caso.
“Em resposta a esses desafios, a produção nacional de potássio ganha importância estratégica”, diz Espeschit. “Países que conseguem desenvolver ou expandir sua própria produção de potássio podem reduzir sua dependência das importações e, consequentemente, sua vulnerabilidade a choques externos”, completa o especialista.
Apesar disso, a contribuição do Brasil na produção mundial de potássio é muito pequena, alcançando no máximo 0,1%, segundo o Plano Nacional de Fertilizantes 2050.
Na América Latina, de forma geral, os fertilizantes nitrogenados são essenciais para a produção regular de grãos como milho e trigo. Assim, a Embrapa espera que estes últimos quatro meses do ano sejam “cruciais” para determinar a situação do mercado agrícola.
Como conclusão, a Embrapa aponta a “urgência e a necessidade de novos incentivos para melhorar a eficiência dos recursos” na produção de fertilizantes.
“É importante destacar que a solução para a crise dos fertilizantes e a insegurança alimentar não se limita apenas ao aumento da produção de potássio”, diz. “Estratégias abrangentes que incluam a diversificação de fontes de fertilizantes, o aumento da eficiência no uso desses insumos e o desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis são essenciais para enfrentar esses desafios de maneira efetiva”, finaliza Espeschit.