Fertilizantes: Clima irregular já afeta as vendas de fertilizantes no país

Dados de consultoria mostram que o ano de 2024 deve registrar o menor volume comercializado em um primeiro semestre

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 27/11/2023 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de Mercado

O clima irregular, que afeta a produção agrícola, está interferindo também na dinâmica do mercado de fertilizantes. Dados levantados pela consultoria StoneX e repassados à Globo Rural, com exclusividade, mostram que o ano de 2024 deve registrar o menor volume de fertilizantes comercializado em um primeiro semestre, considerando a série iniciada em 2020, principalmente para o cultivo de milho da segunda safra.

Segundo a consultoria, apenas 31% do volume de fertilizantes estimado para os primeiros seis meses do próximo ano já estão negociados. O número é o menor da série de pesquisas da consultoria realizadas no mês de novembro de 2020, 2021 e 2022, quando a negociação atingiu, respectivamente, 48%, 49% e 41%.

“Isso pode ser explicado pelo atraso e pelas incertezas no plantio da safra de verão 2023, conjugados com a relação de troca pouca atrativa em face da queda das cotações do milho e dos altos preços dos fertilizantes, principalmente nitrogenados, que prevaleceu até recentemente”, destaca o diretor de fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello.

A pesquisa entrevistou produtores que representam uma área de plantio estimada de 29,5 milhões de hectares, equivalente a 44% da área de cultivo de grãos, englobando o milho safrinha (2023/24) e a soja que será plantada para a safra 2024/25.

“O calendário atual de soja atrasou em muitas regiões do país. Como consequência adia a decisão de plantio de milho segunda safra. Depois, ainda atrapalha a colheita que, fora da época, tende a ser mais lenta. Tudo isso rouba cerca de um mês da janela do milho”, diz o especialista.

É o que está acontecendo com o produtor de soja Pedro Nicoli, de Santo Augusto, no Rio Grande do Sul. As chuvas na região bagunçaram a semeadura nos 200 hectares da propriedade, fazendo com que ele só comprasse o fertilizante que precisava para a soja, que ele ainda não sabe se vai conseguir terminar de plantar até dezembro.

“Os preços de fertilizantes ainda estão caros para nós. A tendência para o ano que vem é segurar, porque o preço da soja ainda segue muito ruim. Isso junto com as frustrações das últimas duas safras que vivemos. Em geral, o produtor da nossa região vai segurar ao máximo para não gastar dinheiro”, avalia.

Regiões

Na principal região de grãos do país, o Centro-Oeste, o atraso será ainda mais significativo nos primeiros seis meses do ano que vem, com 41% negociado, número muito aquém dos registros de 71% em 2020, 59% em 2021 e 52%, em 2022. Os números também consideram o Estado de Rondônia.

A explicação para o recuo das negociações de fertilizantes também passa pela expectativa de redução de área de plantio do milho safrinha no ciclo de 2023/24 em cerca de 4%, chegando a pouco mais de 16 milhões de hectares, como projeta o vice-presidente de marketing e inovação da ICL na América do Sul, Ithamar Prada.

Ele avalia que é cedo para a indústria projetar os dados de negociações em 2024, já que os produtores não estão olhando adubo para a safrinha agora. “A partir do momento em que o produtor vencer os problemas climáticos da safra de verão, vai começar a avaliar o milho e a retomada de investimentos em fertilizantes”, acredita.

Segundo semestre

Para o segundo semestre de 2024, a pesquisa de StoneX revela que o índice de negociação chegará a apenas 14%, o menor de toda a série histórica, iniciada em 2020.

De acordo com Mello, a trava nas negociações de adubo para o próximo ano não denota falta de produto nas praças brasileiras, ainda que o nó logístico seja incerto. “Praticamente ninguém comprou [fertilizante] para a safra de verão 2024/25. E a indicação dos analistas é esta mesmo: não comprar agora, pois ainda haverá momentos mais adequados de compra para o segundo semestre”, diz.

Para o consultor, a cadeia vive uma tendência inversa à de 2021, quando a antecipação nas compras era a melhor estratégia para garantir bom preço e entrega do produto dentro do calendário agrícola. Agora, o atraso da safra de verão respinga na safrinha e afeta a dinâmica do mercado.

Assim, o comportamento “deixar para depois” deve continuar, pois o produtor ainda tem medo de pagar caro pelos fertilizantes, como aconteceu em 2022 em decorrência da escalada da guerra entre Rússia e Ucrânia, além da relação de troca desfavorável para as commodities.

Entretanto, Mello não acredita nessa repetição em 2024, já que os preços do pacote NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) apresentam estabilidade ou até queda, no caso da ureia, insumo à base de nitrogênio mais usado na safrinha de milho.

Procurada, a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) informou que ainda está fechando as projeções para 2024.

Nas estimativas de Prada, da ICL, até o fechamento de 2023 o volume de fertilizantes comercializados no país deve ter alta de 7% a 8% em relação ao ano passado.

Globo Rural

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