Primeira instituição de pesquisa agrícola da América Latina, o Instituto Agronômico (IAC) comemora 136 anos neste 27 de junho de 2023 com vários novos resultados em pesquisas e aumento na captação de recursos externos. Dentre as novidades estão duas cultivares de feijão – as primeiras do tipo Bamboo e Red Bamboo desenvolvidas e registradas no Brasil – que abrem novas oportunidades aos produtores brasileiros nomercado mundial de pulses. Para a citricultura, chegam seis porta-enxertos produzidos no Brasil – os primeiros materiais desse tipo do IAC, em análise pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), e três variedades-copa de citros desenvolvidas em parceria com a Embrapa e a Fundação Coopercitrus Credicitrus.
Na cerimônia de celebração, a partir das 15h, na Sede do IAC, em Campinas, também serão assinados dois acordos de parceria: um com a PUC-Campinas, em que o IAC irá compartilhar sua expertise agronômica na formação de engenheiros agrônomos, e outro com CATI e Apta Regional busca fortalecer pesquisa e transferência de tecnologia de mandioca e batata-doce.
Representantes do agronegócio e de vários outros setores estarão no evento, junto ao secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Antonio Junqueira.
“Aos 136 anos do IAC, temos muito a comemorar: inéditas tecnologias em várias de nossas áreas de atuação, além do aumento significativo de captação de recursos, como fruto da maior inserção do IAC nas principais cadeias do agronegócio, que geraram oportunidades de projetos que permitem ampliar os investimentos no Instituto”, comenta o diretor-geral do IAC, Marcos Landell.
O Programa de Melhoramento Genético do Feijoeiro do IAC tem dois novos resultados para o mercado mundial de pulses: as duas cultivares IAC VU 211 Bamboo com grão esverdejado e a IAC VU 212 Red Bamboo com grão vermelho. Esses materiais são conhecidos como “feijão-arroz”, destinados à exportação e com os principais mercados na China e Índia. O Red Bamboo é o mais procurado pelos consumidores, segundo o pesquisador do IAC, Alisson Fernando Chiorato.
O melhoramento foi feito para proporcionar nova opção para o mercado de feijão. “Havia pedidos no Mato Grosso porque os feijões desse tipo cultivados naquele Estado tinham muitos problemas de colheita, causados pelo alto crescimento das plantas, que também apresentavam muito cipó, que enroscavam na colheitadeira”, explica Chiorato. Além desse problema, o material plantado, até então importado, debulhava e caia muito fora na máquina, causando perdas. O IAC então se dedicou a reduzir os problemas de vegetação da planta e melhorar o porte, tornando-o mais ereto, com menos cipó.
“O IAC VU 212 Red Bamboo é um material muito eficiente, em comparação ao que tinha no mercado, principalmente porque ele não vegeta tanto e não abre as vagens na colheita. Esses são os dois grandes diferenciais do IAC VU 212 Red Bamboo”, avalia Leandro Lodéa, CEO da LC Sementes. Ele, que também é produtor de feijão, relata que irá aumentar a área de produção de sementes na safrinha de 2024, no Centro-Oeste. A empresa, em Sorriso, no Mato Grosso, também multiplica outras variedades de feijão IAC e de amendoim.
Essa pesquisa do IAC ainda visou a legalização da semente, visto que os materiais desse tipo cultivados no Mato Grosso eram instalados com sementes crioulas, piratas, que vêm de fora, porque não existia cultivar nacional. “Nós fizemos esse melhoramento genético para termos cultivares registradas no Registro Nacional de Cultivares, para então legalizar o sistema”, comenta Sérgio Augusto Morais Carbonell, pesquisador do IAC.
“A eficiência e a parceria conosco são muito boas. A agilidade que o IAC tem perante outros mantenedores é muito grande. Quando resolvemos fazer um projeto, em pouco anos temos resultados. São gargalos que estamos evoluindo na exportação desses materiais novos. O IAC encontra novas soluções para o mercado mundial de pulses”, diz Lodeá.
Novos porta-enxertos destacam-se por maior tolerância ao estresse hídrico
Os porta-enxertos IAC disponibilizados para os produtores nacionais se destacam por serem ótimas opções para minimizar problemas bióticos e abióticos existentes na citricultura paulista e brasileira, com destaque para a maior tolerância ao estresse hídrico. Os novos materiais – Citrandarins IAC 3128 Guanabara, IAC 3152 Itajobi, IAC 3026 Santa Amélia, IAC 3010 Pindorama, IAC 3070 Capão Bonito e IAC 3299 Muriti – também conferem boa qualidade da fruta e produtividade e diferentes padrões de tamanho de planta, incluindo portes ananicantes e semiananicantes, segundo a pesquisadora do IAC, Mariângela Cristofani Yaly.
De acordo com a cientista, as novas opções de porta-enxertos permitem a diversificação de variedades nos pomares brasileiros, com características superiores aos materiais padrões no desenvolvimento vegetativo e na qualidade da fruta para a indústria ou para o consumo in natura. “Dentre os materiais lançados destacam-se porta-enxertos ananicantes, isto é, de menor porte, e semi-ananicantes, permitindo ainda maior densidade de plantas nos pomares, facilitando os tratos culturais e a colheita”, explica Mariângela.
Esses porta-enxertos, recomendados para o estado de São Paulo e para outras regiões do país, servem para a implantação de pomares de laranja, limão e tangerina. São materiais que não apresentam incompatibilidades para a maioria das variedades comerciais de citros para a indústria de suco e para mesa.
Para o setor citrícola, a importância de ter porta-enxertos de citros produzidos e protegidos em território nacional está no fato de esses materiais serem resultado de seleção realizada após anos de avaliação nas principais regiões citrícolas brasileiras, condição importante para a sua recomendação.
Para o consumidor, os novos materiais têm impacto direto na qualidade do fruto consumido, uma vez que as novas variedades induzem frutos com qualidades físico-químicas superiores nas diferentes variedades copa. “Podem ainda ter um reflexo no preço, uma vez que esses porta-enxertos permitem maior produtividade nos pomares e a otimização de tratos culturais, reduzindo os custos de produção”, considera a pesquisadora do IAC, Marinês Bastianel.
As primeiras sementes desses seis novos porta-enxertos são disponibilizadas ao setor produtor de mudas citrícolas, por meio do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira” do IAC, e estão sendo validados com diferentes variedades-copas em diversas condições ambientais. Os interessados em adquirir devem contatar pelo e-mail sementes@ccsm.br.
“Os novos porta-enxertos e as novas variedades-copa ampliam o número de materiais disponibilizados ao citricultor, contribuindo para a diversificação genética dos pomares e o atendimento de programas de produção de mudas cítricas de alta qualidade”, comenta a cientista.
Segundo o pesquisador e diretor do Centro de Citricultura do IAC, Dirceu Mattos Jr., essa disponibilização de porta-enxertos atende ao mercado demandante e às novas cultivares tecnologicamente superiores, que exigem materiais genéticos diferenciados. “Atualmente dispomos de sementes de três categorias: cultivares tradicionais, especiais e exclusivas, num total de 15 variedades”, comenta.
As plantas fornecedoras de sementes estão no Centro de Citricultura “Sylvio Moreira” e registradas nos órgãos federais e estaduais. Os materiais serão os primeiros porta-enxertos protegidos no Brasil, representando um importante marco para o Programa de Melhoramento de Citros do IAC”, ressalta Mattos Jr.
A proteção de variedades de citros produzidas no Brasil garante ao país a manutenção dos seus recursos genéticos, tornando-os estrategicamente competitivos na citricultura mundial. A pesquisa que traz esses resultados teve início em 1994 e foi concluída em 2023, com recursos do Governo de São Paulo, agências de fomento e parcerias privadas.
Primeiros porta-enxertos de citros produzidos pelo IAC em análise no SNPC
A pesquisadora do IAC, Marinês Bastianel, explica que até esta disponibilização do IAC, os principais porta-enxertos comerciais adotados na citricultura brasileira são de materiais introduzidos de outros locais ou até mesmo seleções locais, não passíveis de proteção junto ao SNPC do MAPA.
“As novas variedades de porta-enxertos que foram obtidas no nosso programa de melhoramento, através de cruzamentos dirigidos entre tangerina Sunki x Poncirus trifoliata, são chamados de citrandarins e levaram cerca de 30 anos entre o processo de obtenção, avaliação e liberação”, explica Marinês, pesquisadora do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
Esse longo ciclo de seleção se deve às características biológicas e genéticas dos citros como, por exemplo, ser uma planta perene de longo ciclo vegetativo. Assim são resultantes de um programa de melhoramento que incluiu a obtenção e seleção, condição Sine qua non para proteção de cultivares, segundo a cientista.
Três novas variedades de citros se diferenciam pela produtividade, qualidade e adaptação às principais regiões de cultivo
As três novas variedades de citros – BRS IAC EECB Alvorada, BRS EECB IAC Ponta Firme e Navelina XR– diferenciam-se de outros materiais de laranjas-doces ou lima ácida já disponíveis no mercado pela produtividade, além do padrão superior de qualidade e adaptação às principais regiões de cultivo dos citros.
A Navelina XR é a única laranjeira resistente à uma importante doença dos citros, a clorose variegada dos citros (CVC), causada pela bactéria Xylella Fastidiosa, que ataca todas as variedades comerciais no campo e causa prejuízos à qualidade e produtividade.
Dirceu Mattos Jr. comenta que essas três novas variedades resultam de uma importante parceria entre o Centro de Citricultura do IAC, a Embrapa e a Fundação Coopercitrus Credicitrus.
“Foram variedades selecionadas inicialmente pelas empresas parceiras. O Instituto Agronômico graças a seu know-how no sistema de estabelecimento, manutenção e distribuição de materiais propagativos de citros estabeleceu plantas básicas com certificado de origem genética e qualidade fitossanitária e agora disponibiliza essas variedades ao setor citrícola”, ressalta o diretor do Centro de Citricultura do IAC, que disponibiliza com exclusividade as variedades.
Confira as características de cada cultivar
BRS IAC EECB Alvorada: essa variedade de laranjeira-doce e com frutos grandes e sem sementes tem alta qualidade de cor e de sabor para processamento de suco e também para consumo in natura.
É adequada para o Estado de São Paulo, preferencialmente em áreas irrigadas ou em regiões com temperaturas mais amenas, como Sudoeste e extremo-Sul paulistas.
BRS EECB IAC Ponta Firme: variedade de lima ácida Tahiti! Sim! Embora a maioria das pessoas conheça o Thaiti como limão, trata-se de uma lima ácida. Essa nova variedade tem elevada produtividade de frutos de alta qualidade, que é similar à dos Tahiti IAC 5 e IAC 304, variedades de referência em São Paulo. Pode ser destinada ao mercado de frutas frescas para mercados doméstico e de exportação, além de processamento de suco e extração de óleo essencial. Essa nova variedade apresenta maior produção de frutos em cultivo irrigado no segundo semestre, que é o período de entressafra do Tahiti. Neste período, os preços são mais elevados.
“Tem alta eficiência de produção de frutos por volume de copa. Como limitação, pode manifestar sintomas discretos do mosaico-das limeiras”, comenta Marinês Bastinel.
Navelina XR: com excelente qualidade de fruto para consumo in natura, essa variedade de laranjeira-de-umbigo tem alta qualidade de frutos e é resistente à CVC.
“Seus frutos são típicos de laranja Baianinha, sem sementes, com maturação precoce a meia-estação e que se conservam nas plantas após atingirem a maturidade comercial”, completa a cientista Mariângela.
A Navelina XR tem aptidão para cultivo nos pomares paulistas, preferencialmente em regiões com temperatura mais amena.
Sua produtividade média é de 15 quilos por planta aos 4 anos de idade e de 100 quilos por planta aos 10 anos. Mas, pode apresentar alternância de safra, sementes eventuais e sensibilidade a temperaturas altas durante o florescimento.
Parceria entre IAC e PUC-Campinas
Uma parceria entre o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, e a PUC-Campinas será assinada na cerimônia de aniversário de 136 anos. A Universidade passará a oferecer o curso de Engenharia Agronômica, em 2024, quando contará com a expertise e competência de áreas multidisciplinares do IAC para alavancar a formação de novos talentos, alicerçada em 136 anos de ciência dirigida para a solução de problemas ininterrupta.
Os acadêmicos terão a oportunidade de conviver no ambiente da ciência agronômica do IAC, que desenvolveu as bases da agricultura tropical conhecida em todo o mundo, por meio de atividades integradoras com foco em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, com projetos do 3°ao 8°período do curso.
O IAC também irá proporcionar visitas técnicas aos alunos do 1°ao 10° período do curso, diretamente nas áreas de pesquisa em Campinas e em cada um dos seus Centros e Núcleos Regionais de Pesquisa, localizados em Cordeirópolis, Jundiaí, Ribeirão Preto, Votuporanga, Mococa, Jaú, Capão Bonito, Tatuí e Itararé.
A parceria ainda traz a possibilidade de realização de estágios supervisionados, elaboração de Projetos Finais de Curso e ações voltadas ao empreendedorismo para a criação de novas empresas de base tecnológica dentro do IAC.
O objetivo dar parceria é desenvolver ações inovadoras de caráter técnico e de PD&I para formação e inserção de novos talentos no agro brasileiro, com foco na estruturação regional de novos segmentos do agronegócio.
Acordo entre IAC, CATI e APTA Regional busca fortalecer pesquisa e transferência de tecnologia de mandioca e batata-doce
O IAC, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e a APTA Regional, todos ligados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, firmam parceria para condução de ações de pesquisa, gestão da difusão e transferência de tecnologia para agricultores. O foco está na disponibilização de mudas sadias das principais cultivares IAC de batata-doce e de mandioca para mesa e/ou indústria, com alta qualidade sanitária, livres de bactérias e vírus.
O acordo prevê também o fortalecimento e o fomento ao Programa de Melhoramento Genético de Mandioca e Batata-doce do IAC a fim de atender melhor às crescentes demandas com relação aos produtos dessa cadeia.
A parceria é intermediada pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (FUNDAG).
Entrega do Prêmio IAC 2023
Tradicionalmente, no aniversário do IAC é entregue o Prêmio IAC 2023. Confira dos agraciados deste ano:
Categoria Interna
Pesquisador Científico – Dra. Regina Célia de Matos Pires
Servidor de Apoio Técnico – Sandra Heiden Spiering da Cruz
Servidor de Apoio Administrativo – Joana D’arc Grangeiro da Silva
Categoria Externa
Personalidade do Agronegócio – Francisco Matturro
Destaque Especial – Yara Brasil
Assinaturas de Acordos
Parceria – IAC e PUC-Campinas
Cooperação – SAA, IAC, CATI, APTA Regional e FUNDAG