Taxa alta de juros no Brasil não se justifica e enfraquece economia, diz Nobel de Economia à CNN

Em entrevista exclusiva à CNN, Joseph Stiglitz critica bancos centrais e diz que com juros altos está surpreso que só o SVB tenha falido.

Tempo de leitura: 2 minutos

| Publicado em 16/03/2023 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de mercado

O prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz defendeu a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua batalha travada contra o Banco Central e o alto patamar de juros no país. Para ele, as taxas altas não se justificam nem no Brasil, nem nos Estados Unidos, porque as causas da inflação em ambos os casos não serão combatidas com mais aumentos de juros.

“O presidente Lula está absolutamente certo sobre sua visão sobre como as altas taxas de juros reais enfraquecem a economia e as taxas de juros reais brasileiras são muito, muito altas”, disse Stiglitz em entrevista exclusiva à CNN, em evento em Paris organizado pelo Iris (Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas), em parceria com a a Icrict, organização independente que defende reforma internacional sobre taxação de empresas, da qual o economista é vice-presidente.

Na semana que vem, o Nobel de Economia chegará ao Brasil para participar de um seminário realizado pelo BNDES e a Fiesp, justamente sobre os impactos dos juros na economia. A defesa de que o atual patamar das taxas é contraprodutivo deve dar o tom da sua fala.

Stiglitz também afirmou que “está surpreso” que o Sillicon Valley Bank (SVB) seja um dos únicos bancos que faliram, diante do aumento recente dos juros americanos.

“Quando o Fed aumenta taxas tão rapidamente quanto aconteceu, de uma forma imprevista como foi, na verdade, estou surpreso que este seja o único banco que faliu e, claro, agora há mais alguns que faliram.”

Stiglitz afirmou que a crise do SVB expôs uma outra importante fragilidade do sistema: a possibilidade de clientes sacarem seu dinheiro em milésimos de segundos, o que pode provocar corrida aos bancos. “A tecnologia moderna introduziu um novo elemento de fragilidade em nosso sistema financeiro e eu não tenho certeza de que os testes de estresse e a maneira como pensamos no sistema financeiro levam em consideração essas fragilidades”, afirmou.

Stiglitz foi laureado com o prêmio Nobel de Economia em 2001 por sua pesquisa sobre a assimetria do mercado. Ex-economista-chefe do Banco Mundial e presidente do Conselho de Assessores Econômicos no governo Clinton, ele é um forte crítico do pensamento liberal e da teoria de Adam Smith sobre a mão invisível e a autorregulação do mercado, segundo a qual os mercados funcionam de maneira ótima, sem a necessidade de intervenção do Estado. Em coluna no jornal britânico The Guardian, em 2002, escreveu que a “razão pela qual a mão invisível é invisível é porque ela não existe ou, quando existe, está paralítica”

Ele também faz parte do clube de economistas adeptos da visão da “economia do gotejamento” (trickle-down economics), que defende que não necessariamente o enriquecimento dos mais ricos vai “gotejar” para os mais pobres. Stiglitz diz que as últimas décadas provaram que quando o bolo da economia cresce, nem todos se beneficiam, já que o crescimento pode ser desigual.

No evento do Icrict, Stiglitz defendeu que impostos mais progressivos permitiriam aos governos resolver problemas fiscais e financiar serviços públicos de maior qualidade para todos. Além de corrigir injustiças, como o fato de os pobres serem muito mais taxados que os ricos, como no Brasil, o que provoca a raiva da população, que passa a não acreditar mais na democracia.

CNN

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