2ª maior taxa real do mundo: entenda como Selic a 10,50% impacta economia e seu bolso

Brasil vive período com a taxa de Selic mais alta desde 2021, o que segura o poder de compra das famílias e de investimento das empresas.

Tempo de leitura: 4 minutos

| Publicado em 21/06/2024 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de mercado

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve nesta quarta-feira (19) a taxa básica de juros do país, a Selic, inalterada em 10,50% ao ano, marcando o fim do ciclo de cortes iniciado em agosto de 2023, quando estava em 13,75%.

Seis cortes de meio ponto e um de 0,25 depois, a taxa continua posicionando o Brasil na segunda posição do ranking de maiores juros reais do mundo.

Principal ferramenta do Banco Central para controlar a inflação, a Selic afeta a economia como um todo, uma vez que mexe com o custo de quase todo produto e serviço produzido e realizado no Brasil, diz Michael Viriato, assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

“No final do dia, a taxa de juros mais alta aumenta o preço de tudo. Está em praticamente tudo que você compra, constrói ou movimenta”, diz o especialista.

É a Selic também que os investidores olham na hora de investir, já que é o valor mínimo de retorno que deve ser almejado.

“Para produzir um bem, você vai querer investir em uma máquina e para investir nessa máquina, você vai querer ter um retorno maior que o da taxa de juros, se não você se dá mal”, exemplifica Viriato.

Na prática, como a taxa de juros elevada, afeta o bolso do brasileiro?

No patamar mais alto desde 2021, a Selic é o instrumento do BC para reduzir a quantidade de dinheiro na economia, quando a autoridade almeja uma inflação mais baixa.

“A taxa de juros em 10,5% impõe ao brasileiro custos de empréstimos mais altos”, o que acaba reduzindo a capacidade de compra de uma família, por exemplo, explica Juliana Inhasz, economista e professora do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).  

Desta forma, os setores mais impactados pela redução do consumo são comércio e serviços, devido à diminuição na demanda.

“Se o meu consumo for um carro, uma casa, fica mais caro pegar empréstimo. Ao invés de comprar um celular novo, uma nova televisão ou roupa a pessoa pode deixar para consumir isso daqui a 6 meses, um ano e deixa seu dinheiro investido. Então isso gera um impacto na diminuição de consumo do dia-a-dia”, diz Inhasz.

Fora o consumo das famílias, a Selic em patamar elevado impacta também a chamada demanda agregada, que considera os gastos do governo, investimentos públicos, e saldo com exportações.

A demanda agregada em queda também desestimula a economia, explica Inhasz.

Impacto nas empresas

A Selic elevada também impacta os planos financeiros das empresas, sobretudo no que diz respeito a decisões de investimentos.

“Com o crédito mais caro, as empresas deixam de investir, por exemplo, em infraestrutura, compra de insumos, maquinário novo, tecnologias, logística e até em contratações, pois sua capacidade produtiva fica comprometida”, diz a professora.

Isso porque, além de ter retorno reduzido, a taxa mais alta traz imprevisibilidade.

“Dadas as incertezas com essa taxa mais alta e custos elevados, as companhias não conseguem apostar na economia. Elas enxergam uma grande cortina de fumaça com uma demanda imprevisível e não querem expandir os negócios. Num cenário extremo, elas passam a demitir, pois entendem que a demanda realmente não vai vingar”, aponta Inhasz.

No quadro geral, “é uma economia com o freio de mão puxado”.

Setores que mais sofrem com a taxa a 10,5%

Alguns setores sentem mais os impactos de uma Selic em patamares elevados. O comércio, por exemplo, pode ter mais dificuldades, já que precisa de mais insumos do que o de serviços.

“O setor de serviços é menos afetado, pois necessita de menos capital para girar. Agora, os setores que são altamente intensivos em capital ou que demandam de empréstimo pessoal para as pessoas comprarem sofrem bastante”, diz Viriato.

“O setor de varejo, para crescer, as pessoas precisam de empréstimo para comprar, seja uma camiseta ou um carro, grande parte é financiado”, diz.

A professora da Insper, Juliana, também lembra que os bens de consumo duráveis geralmente são mais caros e não tão essenciais, por isso, menos consumidos.

“As pessoas deixam de trocar a geladeira, deixam de trocar a televisão, deixam de comprar um celular novo, causando uma desaceleração desse mercado”, afirma.

Alimentos e remédios são itens essenciais e não são tão afetados por conta de sua necessidade de compra e especificidade, ou seja, não são produtos substituíveis.

Outra área afetada negativamente é a da construção civil, que depende, principalmente, do financiamento de imóveis que acabam sendo evitados pelos compradores pelo seu alto custo nesse momento.

A demanda fica em queda e o mercado imobiliário sente.

“Construção civil e o mercado de automóveis sofre ainda mais, pois quanto mais caro o produto mais caro o financiamento”, comenta o estrategista-chefe na Casa do Investidor.

Ademais, Viriato pondera que, apesar de a taxa de juros alta ser como um freio de mão para a economia, também não é bom baixar de forma compulsória sem que haja as condições necessárias, porque ela pode causar mais inflação no longo prazo.

Investidores

A Selic em alta também aumenta a atratividade no investimento em renda fixa, como títulos do Tesouro, por oferecerem um retorno mais alto e seguro.

Pesquisa da Fundação Dom Cabral mostram que a margem de lucro média das empresas de médio porte no Brasil ficou em 7,90% em 2022 – só um ponto acima do juro pago por papéis do Tesouro Direto. Isso mostra que o país volta a ter um cenário pouco atrativo para investimentos produtivos.

“Se o investidor tem liquidez, ele aproveita esses momentos no mercado para conseguir de alguma forma taxas pós-fixadas maiores”, explica Inhasz.

CNN Brasil

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