Desempenho recente da China preocupa economistas sobre atividade global

Além da segunda maior economia do mundo, incertezas relacionadas aos Estados Unidos também estão no radar.

Tempo de leitura: 4 minutos

| Publicado em 25/08/2023 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de mercado

A economia global tem dado sinais um pouco diferentes do que era esperado por parte dos economistas para o segundo semestre deste ano e para 2024, principalmente com as recentes notícias vindas da China.

Sendo a segunda maior economia do mundo e o principal parceiro comercial do Brasil, os especialistas consideram necessária maior cautela por parte do governo com relação ao desempenho chinês, assim como das demais economias, incluindo os Estados Unidos e os países da zona do euro.

A avaliação é de que as projeções otimistas podem não se concretizar, uma vez que o “jogo está virando lá fora”.

“O cenário no exterior está mais desafiador. Quando olhamos para a China, muitos achavam que a reabertura seria parecida com o que vimos nos países ocidentais, principalmente, nos Estados Unidos. Isso não aconteceu”, explica o economista-chefe da Ryo Asset, Gabriel de Barros.

“Os dados de exportação, de vendas do comércio, entre outros, mostram a economia bastante fraca”.

Jennie Li, estrategista de ações da XP, reconhece um cenário diferente daquilo que se imaginava para segundo semestre, tanto no caso da China como também dos Estados Unidos.

“A recessão nos EUA não chegou e, cada vez mais os economistas e analistas de mercado têm jogado essa estimativa muito mais para 2024, dado que a economia americana tem se mostrado persistente. Ela está desacelerando e estamos vendo a atividade econômica esfriando. Por um lado, a inflação está caindo dos picos mas, por outro, o mercado de trabalho tem continuado forte”, diz a estrategista.

Ela lembra que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) tem sinalizado uma dependência dos dados econômicos para continuar ou não a alta dos juros.

A queda das taxas, no entanto, não parece muito próxima.

Segundo a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), o Fed teme que a inflação não desacelere ainda mais e, por isso, não estão descartadas novas altas nos juros da maior economia do mundo.

Já sobre a China, Li cita que foi observado um forte crescimento no início do ano. Mas o ritmo mudou, e nos últimos meses esse movimento perdeu grande parte do fôlego.

“Essa fraqueza se mostra bastante no setor imobiliário. Já era uma pauta que preocupava os investidores, e a retomada tem desapontado as expectativas”.

Alerta para o Brasil

Um contexto adverso na China e no mundo pode respingar no Brasil, por isso, a recomendação é de cautela.

Para Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, o governo deve ter cuidado com programas como o Novo PAC ou semelhantes, que demandam volumes altos de recursos.

“Sempre temos impactos dos EUA e da China aqui por se tratarem de grandes parceiros do país e com muitas empresas que exportam para essas regiões”.

Segundo os especialistas, o problema de uma piora do cenário global é a queda nos preços das commodities, um fator importante para o Brasil, que se destaca pela exportação de produtos do agronegócio – setor que tem tido papel importante para crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Segundo o Ministério da Agricultura, as exportações brasileiras de produtos do agronegócio alcançaram em julho um valor recorde para o período, totalizando US$ 14,43 bilhões, crescimento de 1,2% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Contudo, a pasta acrescentou que os preços médios de exportação dos produtos recuaram.

Preço menor significa arrecadação mais fraca, o que pode dificultar a execução das metas fiscais do governo, como atingir o déficit zero no ano que vem.

“Era o esperado [a queda nos preços das commodities]. Ano passado foi algo fora da curva pela Guerra na Ucrânia, os preços deveriam retornar ao normal até pela desaceleração global com os juros mais altos. Isso impacta os empresários e também na arrecadação do governo, e sabemos que o fiscal é dependente do aumento de arrecadação”, explica Cruz.

O próprio Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo está acompanhando a situação do país asiático. Para ele, o contexto “inspira cuidados”.

“Continuamos acompanhando a China, mas o diagnóstico ainda não está concluído. As pessoas têm visões diferentes do que está acontecendo lá e, mais particularmente, sobre o alcance do problema que eles estão enfrentando”, declarou o ministro na quarta-feira (23), em Joanesburgo, na África do Sul.

Cenário chinês

O gigante asiático vem ganhando os holofotes dos economistas nas últimas semanas com dados econômicos mais fracos e com o recente noticiário de piora no setor imobiliário, um dos principais pilares da sua economia.

“Esse setor vai muito mal. Existe um excesso de estoque para o atual nível de atividade econômica bastante preocupante. Então, o ritmo de venda do setor caiu mais ou menos 30%, o preço das casas, tanto residências quanto comerciais, está caindo no segundo mês seguinte”, explica Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos.

“O governo utiliza fundos de investimento para poder captar recursos e investir em projetos imobiliários locais nas províncias, e agora vemos eles com dívidas”.

Na semana passada, a gigante do mercado imobiliário chinês, Country Garden, alertou sobre incertezas para o pagamento de dívidas.

Na noite da última quinta-feira (17), o Grupo Evergrande — que já foi a segunda maior incorporadora da China — entrou com pedido de proteção contra falência.

A empresa acumulou diversos empréstimos e deixou de pagá-los em 2021, o que gerou uma enorme crise imobiliária na economia da China.

Segundo Lima, pode existir um contágio para outros setores da economia chinesa.

“Parece que vai saindo do setor imobiliário, para as construtoras e para o setor financeiro chegando, eventualmente, na população. O risco país da China subiu mais de 20 pontos nas últimas duas semanas e está se espalhando para os mercados emergentes. Em agosto, a bolsa já caiu mais de 8% e a moeda desvalorizou”.

CNN Brasil

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