Trigo Balanço Mensal – Out/25: Preços internacionais reagem com fatores geopolíticos, mas fundamentos continuam fragilizados

Movimento externo contrasta com cotações internas, que caíram devido a evolução da colheita no país, principalmente no Sul, que modificam o quadro de oferta e demanda.

Tempo de leitura: 6 minutos

| Publicado em 03/11/2025 por:

Economista | Analista de Mercado

Trigo – Mercado Externo

O mercado global de trigo encerrou outubro pautado por recuperação nas cotações. Na Bolsa de Chicago (CBOT), os contratos do trigo SRW registraram avanço expressivo: o vencimento de dezembro acumulou alta mensal de 4,87%, encerrando a US$ 5,34/bushel, enquanto o contrato de março valorizou-se 3,98%, finalizando a US$ 5,48/bushel.

Em Kansas, os preços do trigo HRW seguiram trajetória semelhante. O contrato para dezembro aumentou 5,85%, cotado a US$ 5,24/bushel, e o vencimento de março avançou 3,87%, fechando a US$ 5,36/bushel.

A sinalização de possível reaproximação diplomática entre Washington e Pequim ampliou o apetite dos investidores por ativos vinculados ao complexo de grãos, fornecendo sustentação aos preços e levando as cotações do trigo aos maiores níveis desde o início de agosto.

Apesar do movimento altista, a estrutura fundamental do mercado segue frágil para impulsionar novos ganhos. A oferta global permanece ampla, com forte presença competitiva de exportadores como Rússia e Austrália. No consumo, a demanda por trigo para ração encontra limitações devido ao custo relativamente mais atrativo do milho, o que reduz a competitividade do farelo do cereal.

Outro fator que adiciona incerteza é a paralisação do governo norte-americano desde setembro, que suspendeu a divulgação dos principais relatórios do Departamento de Agricultura (USDA), como o WASDE e as atualizações sobre condições de lavouras. A ausência dessas informações tem gerado cautela e restringido movimentos mais agressivos por parte dos agentes.

O único dado mantido pelo governo são as inspeções semanais de exportação. Até 23 de outubro, foram inspecionadas 258 mil toneladas, queda de 47,6% em relação à semana anterior e recuo de 12,3% frente ao mesmo período de 2024. No acumulado do ano comercial, os embarques somam 11,46 milhões de toneladas, aumento de 19,5% em comparação ao mesmo intervalo do ciclo anterior.

Na Rússia, o Ministério da Agricultura reajustou a tarifa de exportação em 69,2%, elevando-a de 99,1 para 197,7 rublos por tonelada, após forte descompressão na semana antecedente. As tarifas permanecem vigentes até 6 de novembro. Produtores têm pressionado pela eliminação do sistema de taxas flutuantes, alegando que seus efeitos são limitados, apesar do propósito oficial de sustentar a renda do setor. O governo, entretanto, reafirma que manterá o mecanismo por considerá-lo importante para equilibrar o mercado interno. O país projeta safra de 93,5 milhões de toneladas, alta de 7,8% sobre a temporada anterior, com produtividade média cerca de 14% superior. Para o ciclo de julho de 2025 até junho de 2026, a expectativa é de exportação de 44 milhões de toneladas.

Na Ucrânia, agricultores haviam semeado até 28 de outubro 5,34 milhões de hectares de culturas de inverno, equivalente a 82% da área prevista, sendo 3,85 milhões destinados ao trigo. No comércio exterior, o país já exportou 5,81 milhões de toneladas no ano 2025/26.

No Canadá, desde o início da temporada (1º de agosto), foram embarcadas 4,75 milhões de toneladas de trigo pão, avanço de 19% frente ao ano anterior, além de 736 mil toneladas de trigo duro (+11%). A expectativa oficial é de exportações totais de 27,4 milhões de toneladas, queda de 6,2% ante o ciclo precedente.

Na Austrália, as perspectivas de colheita foram revisadas para cima, com ganhos de produtividade no Oeste compensando perdas decorrentes da seca no Sul. A safra agora é estimada em 35,7 milhões de toneladas, cerca de 500 mil toneladas acima da projeção de setembro. A colheita segue até janeiro.

Na Argentina, a safra 2025/26 avança em ritmo acelerado no norte do país. A Bolsa de Cereais de Buenos Aires indica produtividades acima da média histórica, apoiadas por clima favorável. A projeção é de colheita recorde, próxima a 23 milhões de toneladas, segundo a Bolsa de Comércio de Rosário. Os embarques devem ultrapassar 12 milhões de toneladas em 2025, após aumentos significativos nas duas temporadas anteriores. Brasil, Chile e países do Norte da África permanecem como principais destinos. Para o Brasil, o trigo argentino atende, em média, cerca de 70% da demanda externa.

Trigo – Mercado Interno

No mercado brasileiro, outubro foi marcado por expressiva desvalorização, em movimento contrário ao observado no cenário externo. Segundo o Cepea/Esalq, o trigo pão ou melhorador no Paraná foi cotado a R$ 1.193,61/tonelada, queda de 6,23% frente a setembro. No Rio Grande do Sul, o trigo brando recuou 11,24%, para R$ 1.079,84/tonelada.

No mercado físico, os preços médios estaduais também apresentaram retração: Rio Grande do Sul (-7,67%; R$ 60,09/saca), Santa Catarina (-7,2%; R$ 62,50/saca) e Paraná (-2,25%; R$ 64,32/saca).

O avanço da colheita e a recomposição natural do quadro de oferta explicam a pressão baixista, intensificada nos estados do Sul, onde a entrada de novos volumes tem sido mais concentrada. No Paraná, boa parte da correção já havia ocorrido em setembro, dado o estágio mais adiantado dos trabalhos de campo.

No Rio Grande do Sul, a falta de negócios entre produtores e moinhos mantém o mercado praticamente travado. Em Santa Catarina, com a colheita ainda inicial, a oferta reduzida tem levado moinhos a buscar trigo nos estados vizinhos. No Paraná, as quedas nas cotações comprometem a viabilidade econômica dos agricultores. Cálculos do Departamento de Agricultura Rural (Deral) indicam prejuízo médio de 14,06% frente aos custos.

A incidência de chuvas durante a colheita representa risco adicional, podendo deteriorar a qualidade do grão e ampliar a necessidade de importações, pressionando custos da indústria moageira. O trigo argentino chega aos portos brasileiros por aproximadamente R$ 1.379,54/tonelada, reforçando o papel do produto importado na formação de preços internos. Caso se confirme perda de qualidade mais significativa no Rio Grande do Sul, é provável que o trigo gaúcho sofra maior pressão, enquanto o produto paranaense apresente valorização no curto prazo.

No comércio exterior, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, até a quarta semana de outubro (18 dias úteis), o Brasil importou 459 mil toneladas de trigo e centeio, volume equivalente a 83,3% do total adquirido em outubro de 2024.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou a projeção de produção nacional para 7,69 milhões de toneladas, alta de 2,1% em relação ao levantamento anterior, embora ainda 2,4% abaixo da safra passada. A área cultivada foi mantida, permanecendo 19,9% inferior a 2024/25. As importações foram ajustadas para 6,63 milhões de toneladas (-2,9%), enquanto o consumo doméstico seguiu estimado em 11,8 milhões. Os estoques finais foram elevados para 1,85 milhão de toneladas, avanço de 23,8% em relação à projeção anterior e de 34,9% sobre o volume final da temporada passada.

No campo, a Conab divulgou que até 26 de outubro, 43,3% da área plantada havia sido colhida no país. No Paraná, o tempo firme permitiu avanço consistente. No Rio Grande do Sul, a colheita ganhou ritmo nas regiões do Alto Uruguai e Missões, com produtividade acima das expectativas iniciais, embora algumas áreas tenham registrado perdas por doenças.

Em Santa Catarina, lavouras da região Serrana estão majoritariamente em enchimento de grãos, enquanto áreas do Meio-Oeste retomaram a colheita após redução das chuvas. Há relatos de queda na qualidade em função do excesso de umidade, que favoreceu a ocorrência de manchas foliares e giberela. Em algumas áreas, as chuvas recentes provocaram acamamento.

Em São Paulo, os trabalhos se aproximam da conclusão, com boa produtividade e qualidade satisfatória. Na Bahia, o desenvolvimento das lavouras segue adequado, com avanço gradual da colheita. Já em Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, a safra está finalizada, com resultados dentro das expectativas.

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