Café Brasil
Se vocês gostam de emoção, acompanhar essa commodity é um parque de diversões, afinal o que mais acompanhamos é a montanha-russa dos preços, mais conhecida como volatilidade.
Já acostumada com esse movimento de montanha-russa, digo que continuaremos a ver muito desse sobe e desce até, pelo menos, final de fevereiro do ano que vem, quando teremos uma definição do real tamanho da safra brasileira, o que tende a determinar um rumo para os preços.
Iniciando pelo Brasil, maior produtor mundial de arábica, ao final do mês de novembro o USDA reduziu as estimativas da produção de café para o ano de comercialização julho/junho 2022/23, apontando novo volume de 62,6 milhões de sacas de 60 kg (arábica + robusta) frente as condições climáticas adversas que as regiões com plantio de arábica vêm sofrendo nas últimas semanas. Para as exportações brasileiras do grão, o novo volume está estimado em 36,65 milhões de sacas.
Tal fato fez com que o mercado entrasse mais atento para o mês de dezembro, quando a Conab atualizou o seu acompanhamento da safra brasileira de café, estimando uma produção total de 50,920 milhões de sacas, sendo 32,720 milhões de café arábica e 18,199 milhões de café conilon. Os números revelaram um outro lado para o mercado, um lado que, como muitos cafeicultores me falaram, é bem mais realista.
Com a realização de que a safra brasileira 2022/23 pode não ser tudo aquilo que imaginaram, a diferença de 11,68 milhões de sacas entre as estimativas do USDA e da Conab pesou muito sobre as cotações da commodity, atuando como um importante suporte para os preços.
O La Niña está afetando negativamente os países da América do Sul e, apesar do foco ser na Argentina, vemos as consequências também no Brasil. Apesar do bom volume de chuvas no parque cafeeiro, a região Sul de Minas Gerais sofreu com chuvas de granizo que trouxeram sérios danos aos cafezais, o que serviu de base para as reduções na produção da safra, juntamente com as floradas desuniformes apontadas pelos produtores.
Encerrando o mês, na última semana no dia 26, tivemos atualização dos dados preliminares Balança Comercial pelo Ministério da Economia. Até a 4° semana de dezembro, o Brasil exportou 143,119 mil toneladas de café não torrado, um volume 31% menor que o total exportado no mesmo período em 2021.
Segundo os dados da Cecafé, as exportações até o dia 29 somaram 3,108 milhões de sacas, volume que também ficou abaixo dos 3,379 milhões exportados no mesmo período do ano anterior.
Todo este cenário, levou os Indicadores da Esalq a atuarem em valorização mensal de +3,48% para o café arábica e de +14,43% para o robusta. Vale lembrar que o mês de dezembro não apresentou muitos negócios no mercado doméstico, reflexo dos cafeicultores segurando o seu produto na expectativa de que os preços alcancem patamares mais elevados.
Café Mercado Externo
Nas últimas semanas, acompanhamos os principais pontos de pressão para a commodity: preocupação com o consumo na Europa e nos Estados Unidos, devido a fatores macroeconômicos, e temor com a oferta da safra 2022/23 do Brasil. Entretanto, não podemos nos ater apenas a isto e certamente o mercado não o faz.
Para a Colômbia, segundo maior produtor mundial de arábica, o USDA revisou para baixo a produção, estimando um volume de 12,6 milhões de sacas. Em um mesmo movimento, as exportações daquele país devem cair para 1,9 milhões de sacas.
Apoiado nessa mesma linha de pensamento, na segunda-feira dia 05 de dezembro, a Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia informou que a produção do café colombiano teve queda de -6% no mês de novembro. Em 2021 o volume produzido foi de 1,131 milhão de sacas de 60kg. Para a exportação o cenário é ainda pior e, em comparação com o mesmo mês em 2021, representa -25% do volume total, saindo de 1,135 milhão de sacas para o atual 854 mil.
Quanto ao Vietnã, maior produtor mundial de café do tipo robusta, o USDA informou que deve haver redução na produção do país, acumulando cerca 30,22 milhões de sacas apenas. As exportações dos grãos dessa mesma safra devem chegar a 27,65 milhões de sacas, um bom volume a ficar disponível para o mercado.
Já na quinta-feira dia 08 de dezembro, o governo do Vietnã informou que as exportações de café no mês de novembro aumentaram para 124,8 mil toneladas, cerca de 56,2% a mais que o volume do mês anterior. No acumulado de janeiro a novembro o volume somou 1,58 milhão de toneladas. Como o país é o maior exportador mundial de café do tipo robusta, após a liberação do relatório, os futuros do café na Bolsa de Londres passaram a segurar novas altas e operar no campo negativo, puxando o contrato janeiro (RCF3) para US$ 1.916,00.
Apesar do fantasma de uma recessão econômica e aumento na inflação assombrarem as cotações dessa commodity, os fundamentos da oferta impedem maiores quedas. Com as condições climáticas adversas no Brasil, maior produtor mundial de café, o mercado permanece atento ao volume que estará disponível na nova safra.
A questão é que, apesar da preocupação com o clima no Brasil, outros fatores externos ainda movimentam os preços. Ao final do dia 16, a Green Coffee Association informou que os estoques de café verde nos Estados Unidos subiram +1,1% no mês de novembro. Como se não bastasse, os estoques certificados da ICE também aumentaram, chegando a 808,201 mil sacas no dia 29 de dezembro, uma alta significativa após ter chegado a bater os menores níveis em 23 anos.
Assim, após algumas sessões positivas para a commodity apoiados pelos dados da Conab sobre a produção de café no Brasil e a queda de produção na Colômbia, voltamos a acompanhar a baixa nos preços na última semana de dezembro, ainda que limitadas. Desta vez, a maior pressão veio da forte alta do dólar, que valorizou +1,42% no dia 27 e somou na semana +2,45%, valendo R$ 5,29. Como sabemos, dólar para cima, commodities para baixo.
Apesar disso, o contrato de café arábica março (KCH3) na Bolsa de Nova York encerra o mês valorizando +5,17%, cotado na manhã de sexta-feira (30) a 171,80 cents/lp.