Soja Balanço 1º Sem 2022

Soja Balanço 1º Sem 2022: com menor oferta de soja na América do Sul, preços tiveram expressivos aumentos

Tempo de leitura: 8 minutos

| Publicado em 13/07/2022 por:

Engenheira Agrônoma | Analista de Mercado

O primeiro semestre de 2022 foi marcado por grandes influências nos preços da soja. A começar pela redução na produção de soja da América do Sul, fator este, que somado as preocupações de abastecimento da oferta global de grãos, provocados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, elevaram a soja a patamares nominais recordes na Bolsa de Chicago e também no Brasil. Já a partir de abril, a preocupação se concentrou na demanda pela oleaginosa, diante das novas restrições para contenção da Covid-19 imposta pela China, que só foi flexibilizada novamente ao final de junho, bem como, a evolução do plantio e qualificações da safra de soja dos EUA. Por fim, a soja chega ao final desta primeira metade do ano contabilizando ganhos expressivos, diante de uma demanda forte e estoques apertados por mais um ano. Confira:

Soja Brasil

A estiagem que afetou as lavouras de soja no Brasil durante boa parte do ciclo de cultivo acabou causando um corte nas estimativas de produção da safra 2021/22, resultando numa expressiva alta nos preços neste começo de ano. No indicador Cepea/Esalq do Porto de Paranaguá, a soja encerrou o mês de janeiro de 2022 valendo R$ 183,80/saca com alta de 6,65% na variação mensal. Por outro lado, a demanda que começou bem aquecida nas primeiras semanas de janeiro aos poucos foi sinalizando calmaria, já que a diferença entre os preços pedidos e ofertados acabaram limitando a comercialização.

Em fevereiro o preço da soja brasileira alcançou um de seus maiores patamares no Indicador Cepea/Esalq do Porto de Paranaguá, chegando a operar acima dos R$ 200/saca. Diante de tantos fatores atuando sobre os preços, como menor produção da safra 2021/22, estiagem ou excesso de chuvas e queda do dólar, o mês se mostrou de grande volatilidade para os índices tanto no mercado doméstico, como nos futuros, mas em sua maioria mais altos. E, por fim, ainda teve o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, que alavancou ainda mais as cotações na reta final do mês perante as preocupações sobre o abastecimento global de suprimentos e alta dos combustíveis.

Em março, essa tendência forte de alta seguiu, com o Indicador Cepea/Esalq Porto de Paranaguá registrando o seu maior recorde histórico nominal da série iniciada em julho/97. O valor da soja no dia 10 de março chegou a R$ 207,14/saca, correspondendo a um aumento de 22% quando comparado com o mesmo período do ano anterior. Já a média mensal do preço da soja em março ficou em R$ 199,60 atingindo o seu maior patamar do ano de 2022 até o presente momento, com ganho de 16,1% ante o mesmo mês do ano anterior.

Depois de um potencial aumento em março, o mês de abril registrou uma drástica queda, mediante ao recuo do dólar e afastamento dos compradores internos e externos do mercado. Além disso, as cotações domésticas também foram influenciadas por estimativas do USDA indicando aumento da área de soja nos Estados Unidos na safra 22/23. Mesmo que o volume total da produção de soja na safra 2021/22 da América do Sul tivesse previsão de ficar bem menor que o da temporada anterior, o mercado acabou sendo pressionado ainda pelo avanço da colheita do grão. Por outro lado, na reta final do mês, os preços esboçaram uma reação positiva, diante da firme demanda global pelo óleo de soja e atraso no plantio da oleaginosa nos Estados Unidos.

No mês de maio o mercado seguiu se recuperando, já que o cenário era de procura firme tanto pelos compradores internos, como pelos importadores. Além disso, naquele momento o dólar se encontrava fortalecido perante o real, o que seguiu dando suporte aos índices.

Devido ao bom momento, os colaboradores do Cepea informaram que, no geral, vendedores estavam mais ativos no mercado, diante dos vencimentos de custeio; contudo, uma parcela de sojicultores seguia retraída, à espera de novos avanços dos preços nos próximos meses, para quando a paridade de exportação indicaria preços maiores frente aos observados no spot nacional. Com diversas questões políticas, fiscais e situação crítica da economia brasileira e global mediante ao reflexos pós-pandemia, o dólar continuou em alta, o que refletiu em novos aumentos de preços.

Em junho, o mercado da soja operou com lentidão, depois de um término de colheita do grão no Brasil e foco dos produtores no cultivo de milho segunda safra. Além disso, com algumas quedas do grão na Bolsa de Chicago, os produtores se retraíram dos negócios, assim como os compradores. Contudo, a valorização do dólar conseguiu manter os índices médios da oleaginosa em patamares bem semelhantes ao do mês anterior.

Por fim, de acordo com a última estimativa de oferta e demanda realizada pela Conab no dia 10 de junho, a produção de soja da safra 2021/22 ficou em 124,26 milhões de toneladas, com uma queda de 10,05% em comparação com as 138,15 milhões de tons colhidas na safra passada.

Neste sentido, o volume destinado para exportação deve ter recuo neste ano, ficando projetado em 75 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, nota-se um ligeiro crescimento no consumo doméstico para o processamento de soja, ficando em 47,74 milhões de toneladas. Isso reflete num estoque final de 4,864 milhões de toneladas, com queda de 21% ante o estoque do final da safra passada.

Exportações de Soja Brasileira

Nesta temporada 2021/22 há grande probabilidade dos embarques da oleaginosa do Brasil não serem tão fortes quanto em 2021 por conta da firme demanda da indústria para a produção de farelo e óleo de soja localmente, além da quebra da safra. Isso se confirma nos dados previstos pela Conab apontados anteriormente.

Sendo assim, o que se observa no gráfico das exportações de soja para o primeiro semestre de 2022 é uma significativa queda no volume embarcado no período de março, abril e maio, momento de maior escoamento do grão ao mercado externo.

Por outro lado, quando observado os dados das exportações de óleo de soja, nota-se um crescimento potencial em relação as vendas externas do ano anterior. O que realmente demonstra que a tendência neste ano, é o Brasil aumentar a sua participação global nas vendas dos produtos de soja processados. Isso se confirma ainda para as vendas de farelo de soja, que também apontaram crescimento em todos os meses deste primeiro semestre de 2022.

Soja Mercado Externo

Nos primeiros dias de 2022, o foco principal do mercado externo da soja estava no relatório de oferta e demanda global de grãos, o WASDE, do USDA, que foi divulgado no dia 12 de janeiro. Ante disso, os preços futuros da soja caminharam a passos lentos na segunda semana do mês, com alguns recuos para realização de lucros, já que na semana anterior o mercado havia subido expressivamente diante da estiagem que as lavouras enfrentavam na América do Sul.

Por outro lado, com a divulgação do primeiro relatório de OeD do USDA, realizando um severo corte na produção da safra de soja do Brasil, os preços esboçaram forte elevação, assim como, aumentaram as perspectivas dos produtores de soja dos EUA em verem sua demanda crescer em seu novo ciclo.

Em fevereiro os investidores se voltaram totalmente para o andamento da safra de soja da América do Sul, onde Brasil e Argentina apresentavam dificuldades no desenvolvimento das lavouras perante a forte estiagem que afetou principalmente o Sul do Brasil, assim como o excesso de chuvas em outras regiões. Além disso, desde final de janeiro os traders também acompanhavam as estimativas de produção, que passou por diversos cortes nos rendimentos desde o começo do ano. Com isso, uma menor oferta global sustentou as cotações internacionais, que ficou ainda mais elevada depois de mais um corte nas estimativas do relatório de oferta do USDA em sua versão de fevereiro.

Para completar o cenário de viés altista, ao final de fevereiro a Rússia invadiu a Ucrânia para algo que se denominou pelo presidente Vladimir Putin de “operação militar especial”. O conflito entre os dois países da região do Mar Negro, colocou em xeque toda a oferta exportável de trigo, milho, óleo de girassol e outros importantes suprimentos, causando uma séria preocupação sobre o abastecimento global das commodities agrícolas. Sendo assim, o contrato de mar/22 que era o vencimento mais próximo negociado na época, fechou o mês com alta de 10,32% na variação mensal.

No mês de março, a sequência de aumentos seguiu, já que o preço do petróleo disparou, elevando assim a cotação do óleo de soja e por consequência a matéria-prima, além disso, a alta no preço das outras commodities, em especial o trigo, também deram suporte adicional para que a soja continuasse sua escalada de preços.

No mês de abril, o mercado externo da soja seguiu atento aos desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia, na medida em que as negociações de paz pouco avançaram.

Ao mesmo tempo, uma nova onda de Covid-19 voltou a fazer com que a China fechasse grande parte de seu mercado novamente, com lockdowns em cidades importantes, como Xangai, o que acabou afetando a demanda chinesa, assim como a sua oferta de fertilizantes para o mundo, além de outros problemas. Esse contexto, somado a consecutivas rodadas de vendas técnicas para realização de lucros no começo do mês, após a soja atingir patamares recordes em abril, acabaram depreciando os preços do grão.

No entanto, ainda em abril, o plantio de soja safra 2022/23 foi iniciado nos EUA com muita dificuldade e atrasos, já que a ocorrência de chuvas naquele período deixou o solo muito úmido, impedindo assim que as máquinas pudessem realizar suas atividades. Isso auxiliou a retomada de ganhos na reta final do mês e inclusive, resultou em maiores preços da oleaginosa comparado ao mês anterior.

Já em maio, os contratos futuros da soja se comportaram de maneira muito volátil nas primeiras semanas, com o mercado observando diversos fatores atuarem sobre os preços. Na América do Sul, os agentes observavam a reta final da colheita e números oficiais de produção. Nos EUA, a demanda pela oleaginosa, avanço da colheita e condições climáticas, foram os assuntos que mais estiveram em pauta.

Por outro lado, na reta final do mês, os preços da soja tiveram consecutivas rodadas de compras na Bolsa de Chicago, motivados pela reabertura de Shangai, após a China ter realizado alguns bloqueios para conter uma nova onda de Coronavírus. Sendo assim, os preços das ações de energia aumentaram, assim como o óleo de soja, o que fez os preços da soja a se valorizarem também.

Essa movimentação mais otimista permeou o mês de junho, que somado as preocupações com a evolução no cultivo da soja e possível redução nas áreas de plantio nos EUA, além da queda nas qualificações da oleaginosa norte-americana, levaram os preços a retomarem seu viés de alta, que foi ainda mais expressivo na reta final do mês, com o USDA publicando dois importantes relatórios ao mercado, o de intenção de plantio da nova safra e o balanço trimestral de estoques.

Os estoques trimestrais de soja foram reportados em 26,43 milhões de toneladas, ligeiramente acima da média esperada, que era de 26,26 milhões de toneladas, dentro de um intervalo de 20,14 a 29,94 milhões. Em março, o número era de 52,55 milhões.

Com relação as intenções de plantio, o USDA projetou uma área de soja em 35,73 milhões de hectares, queda em relação à projeção do fim de março, de 36,83 milhões de hectares. Embora essa redução tenha sido menor que o esperado pelos analistas, o que fez os preços futuros da soja caírem consideravelmente na reta final do mês, a média mensal em junho ficou ligeiramente mais alta que a média de maio para grande parte dos contratos. Já com relação a variação do semestre, considerando as cotações de junho/22 comparada ao mês de janeiro/22 os ganhos para as entregas de jul/22 a jan/23 ficaram entre 14% a 19%. Confira no gráfico a seguir:

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