O mês de agosto foi marcado por um cenário desafiador para a farinha de trigo no mercado brasileiro. As cotações apresentaram pouca reação e encerraram o período em retração em todos os estados.
No Rio Grande do Sul, os preços registraram queda média de 4,4% em relação a junho de 2025, enquanto no Paraná a desvalorização foi de 4,3%. Já em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, as reduções foram mais moderadas, de 1,4%, 0,7% e 0,3%, respectivamente.
Ao longo do ano, o segmento enfrentou mudanças importantes no padrão de consumo. Muitas indústrias que utilizam a farinha como matéria-prima, especialmente para pães, bolos e biscoitos, reduziram o peso das embalagens, o que impactou diretamente a demanda.
Além disso, a pressão por preços mais acessíveis tem comprimido as margens de rentabilidade dos moinhos.
Apesar desse cenário de retração, a perspectiva para os próximos meses é de melhora na procura do insumo. Tradicionalmente, a busca por farinha de trigo aumenta no período que antecede as festas de fim de ano, quando padarias, confeitarias e indústrias alimentícias intensificam a produção para atender às campanhas natalinas.
O setor também acompanha com expectativa a divulgação dos dados da balança comercial pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), prevista para esta quinta-feira. No acumulado até a quarta semana de agosto, o Brasil importou 338,1 mil toneladas de trigo e centeio em grão. Esse volume corresponde a 62,1% do total adquirido em agosto de 2024, indicando um ritmo mais lento nas compras externas em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Há expectativas também do andamento da safra de trigo na América do Sul. No Rio Grande do Sul, o ambiente segue estável, e as lavouras estão se desenvolvendo bem. A expectativa é de que, ao longo de setembro, os estoques da safra antiga se esgotem nas mãos dos armazenadores, ficando sob controle da indústria moageira.
Em Santa Catarina, os primeiros lotes da safra 2025 começam a ser ofertados, mas a produção deve apresentar queda expressiva, estimada em 16,77%.
No Paraná, a colheita já foi iniciada em algumas áreas mais adiantadas, embora ainda de forma parcial devido à umidade dos grãos. A expectativa é de intensificação dos trabalhos nas próximas semanas.
Segundo o Departamento de Economia Rural (DERAL), 80% das lavouras apresentam boas condições, 14% estão medianas e 6% em situação ruim.
Na Argentina, as perspectivas seguem positivas. De acordo com a Bolsa de Cereales de Buenos Aires (BCBA), 84,8% das lavouras apresentam condições hídricas adequadas ou excelentes, enquanto 99,5% estão em estado normal ou ótimo.
Apesar da retração da produção nacional em relação à safra anterior, a competitividade dos preços internacionais deve estimular um aumento das importações de trigo pelo Brasil.
Esse cenário ocorre em um contexto de maior disponibilidade global do cereal, fator que tende a exercer pressão baixista sobre as cotações domésticas. Consequentemente, a farinha de trigo deve prolongar o movimento de desvalorização já observado em agosto.
