Café Brasil
Iniciamos o primeiro mês de 2023 com as bolsas da Inglaterra e Estados Unidos fechadas, porém com movimento no Brasil.
Já na primeira segunda-feira do ano, tivemos a atualização da Balança Comercial brasileira referente ao mês de dezembro, a qual foi liberada pelo Ministério da Economia. Segundo os dados, o país exportou 182,101 mil toneladas de café não torrado, o que representou um recuo de 12,3% no volume ante ao mesmo mês de 2021, que contou com 207,641 mil toneladas exportadas.
Quanto aos cafezais, o Cepea comentou a respeito da safra 2023/24, alegando que o clima quente e úmido realmente proporcionou uma boa florada, mas que muitas plantas não estão em boas condições, apresentando até mesmo abortamentos ao final de 2022. Em conjunto com os comentários feitos pelos cafeicultores consultados pela AF News, alegando floradas irregulares e danos significativos no campo devido às chuvas de granizo ao Sul de Minas Gerais, podemos imaginar que a produção não será como o esperado.
Dentro deste cenário, vimos pouca coisa sendo negociada no mercado doméstico ao longo desse mês de janeiro, com os produtores firmes em suas decisões de segurar o grão no aguardo de preços mais elevados.
Basicamente, a primeira quinzena do mês foi negativa para os preços do café, que no dia 12 atingiram o menor valor de janeiro.
Após quedas significativas nos preços, o mercado se estabiliza com dados importantes que foram liberados no Brasil. A CONAB liberou o seu 1° Levantamento da Safra 2023, apontando uma estimativa produtiva em torno de 54,94 milhões de sacas.
No ano de 2022, a produção de café no país foi de 50,92 milhões de sacas, havendo então um aumento de 4 milhões de sacas para esse ano. Apesar de positivo, essa diferença não foi o suficiente para acalmar o mercado quando falamos de oferta global, afinal, o USDA está estimando uma produção brasileira de 62 milhões de sacas. Com uma diferença tão significativa, os preços ganharam um forte suporte.
Desde o dia 12 de janeiro, os futuros do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures NY) estão escalando seu caminho de volta ao topo. E não para pôr aí, pois no mercado físico do Brasil a saca de café também começou a valorizar.
As cotações seguiram com um viés altista apoiadas nos dados cafeeiros do Brasil e na queda do dólar.
No estado do Paraná, a variação mensal do café arábica foi de +8,95% levando a saca a valer R$1.065,00, ganhando destaque frente aos demais estados. Em Minas Gerais a variação foi de +6,40%, em São Paulo de +3,77% e na Bahia de +4,73%.
E dando apoio aos dados da Conab, o Conselho Nacional do Café (CNC) apresentou um relatório na última semana do mês com os dados coletados pelo “Rally da Safra de Arábica 2023”, onde foi estimado uma produção para o café deste tipo entre 38,25 e 41,3 milhões de sacas, o qual somado com os dados do Conilon oferecidos pela Conab, devem somar um total de 55 milhões de sacas de 60 kg, volume considerado baixo após as quebras de safra nos últimos 2 anos.
Agora voltando um pouco para dezembro de 2022, lembram do relatório do USDA? Ele estimou que as exportações de café devem recuar -1,63%, juntamente com os estoques finais que devem cair para 34,114 milhões de sacas. Porém, a importação e o consumo devem aumentar, indo para 136 e 167,9 milhões de sacas, sucessivamente. Acredito que não preciso falar muito mais.
Abaixo podemos verificar as estimativas de consumo para as 6 maiores nações consumidoras de café.
E é claro que vou trazer para vocês os dados das exportações de café em janeiro. Com a atualização da Balança Comercial segundo os dados da Secex, o volume de café não torrado somou 169,553 mil toneladas exportadas, abaixo das 178,05 mil de 2022. Tal resultado também serve de suporte às cotações. A receita acumulada neste mês foi de US$626.237,8 mil.
Café Mercado Externo
Na Colômbia, segundo maior produtor mundial de arábica, a Federação Nacional dos Cafeicultores atualizou na primeira quarta-feira do mês, os dados de produção e exportação no país. A produção no ano de 2022 somou 11,084 milhões de sacas, apresentando queda de -12% ante ao volume do ano anterior de 12,577 milhões de sacas.
Nas exportações não foi diferente, com as vendas externas do café colombiano caindo para um volume de 11,404 milhões de sacas, queda de -8% ante aos 12,439 milhões de 2021. Com a menor safra desde 2013, a Colômbia também sofreu com os efeitos do La Niña, que trouxe excesso de chuvas para a região. Os números contam como suporte aos preços, mas não impedem maiores quedas visto que o mercado já havia precificado a situação no país.
E falando em negócios mais escassos, Honduras, maior exportador de café na América Central, teve publicado pelo Instituto IHCAFE que as exportações apresentaram queda de 15% em dezembro, vendendo apenas 252,656 mil sacas de 60kg ante as 296,539 mil sacas exportadas em 2021.
A comercialização estava sendo afetada pela instabilidade nos preços, principalmente pela incerteza no tamanho da safra brasileira e no consumo global. Entretanto, segundo a Euromonitor, é estimado que o consumo de café no mundo aumente 1,62% em 2023 e 2,22% até 2024.
É fato a resiliência do café em momentos de crise, assim não é novidade que o consumo pelo produto se mantenha ou ainda cresça. Segundo os dados do USDA, o consumo mundial aumentou em cerca de 20 milhões de sacas desde 2015, sem apresentar quedas significativas durante a pandemia do Covid-19, como podemos observar no gráfico abaixo. Basta acompanharmos as cenas dos próximos capítulos.
E como vocês já acompanharam no texto sobre o café no Brasil, o dia 12 foi finalmente positivo para os preços físicos e para os futuros do café arábica em Nova York. Após 9 sessões seguidas de desvalorização, o contrato março volta a subir +3,96%, encerrando aquele dia cotado a 149,60 cents/lp.
Um dos motivos foi a divulgação da inflação ao consumidor nos EUA, que veio abaixo do esperado pelo mercado. Segundo o Departamento do Trabalho, a inflação no país norte-americano caiu 0,1% no mês de dezembro, acumulando assim uma alta anual no CPI de 6,5%.
Tal notícia trouxe alívio para os ativos de risco ao redor do globo, em especial o café, pois aumentava a possibilidade de que o Fed reduziria o ritmo de aumento de juros naquele país, que é o maior consumidor mundial da bebida.
O contrato março de arábica em Nova York teve uma valorização mensal de +9%, encerrando a última sessão do janeiro cotado acima de 181 cents/lp.
Os futuros do café robusta também seguiram um viés altista, e apesar de algumas sessões encerrarem levemente no vermelho, o total acumulado no mês para o contrato março na Bolsa de Londres ainda é positivo de +12%.
O suporte para o cenário acima estava vindo do Brasil, maior produtor e exportador mundial de café, e das exportações do Vietnã, maior produtor e exportador de café robusta, as quais caíram cerca de 30,9% no mês de janeiro, para apenas 160 mil toneladas. No Brasil, a preocupação estava quanto ao tamanho da nova safra e, portanto, a oferta dessa commodity.
Ademais, devemos ficar atentos ao cenário macroeconômico, principalmente nesta 1° semana de fevereiro, que conta com anúncio da decisão política monetária pelos Bancos Centrais na Eurozona e no Reino Unido. No primeiro dia de fevereiro, já vimos o anúncio do Fed sobre o aumento da taxa de inflação dos EUA em 25 pontos bases, em par com o esperado pelo mercado. Essas informações impactam diretamente na perspectiva de consumo para o nosso querido café.