O ano em que faltou chuva no início e um guarda-chuva sobre as lavouras na reta final Chegado o fim de ano, é o período de fazermos um balanço anual sobre os principais fatores que impactaram no mercado. Os números do balanço constam em planilhas e gráficos disponibilizados no link ao final do texto.
Em 2018 o Brasil produziu uma safra maior que em 2017, em termos de volume de produção, pois no quesito qualidade o clima seco no período de implantação das lavouras e o excesso de chuvas na fase final de desenvolvimento impactaram negativamente a qualidade do cereal.
No Paraná e no Rio Grande do Sul, diversos são os relatos de compradores alegando falta de padrão nos lotes e dificuldade de encontrar trigo de qualidade satisfatória para produção de farinhas. Portanto, neste segundo semestre do ano, observa-se maior oferta de trigo com pH entre 75 e 77 e disponibilidade restrita de trigo pH78.
A qualidade do cereal, portanto, ditou os preços neste segundo semestre, que, com a proximidade da colheita sofreu pressão de baixa, mas que com a sinalização dos resultados negativos na qualidade começaram a ganhar força novamente, com triticultores indispostos a vender por menores cotações e compradores sem conseguir precificar a farinha de acordo. Neste cenário, o fim de ano está caracterizado com negociações travadas no mercado de balcão.
Em se tratando de menor volume de trigo de qualidade para moagem no mercado doméstico, o fator importação passa a atuar sobre os preços do trigo e seus derivados. O Brasil terá a dependência intensificada de trigo importado, precificado pela forte valorização do dólar, que está em torno de R$3,90 nesta semana.
Na Argentina, segundo a Bolsa de Cereales, a projeção de produção de ajustou para 19 milhões de tons na safra 2018/19, resultado das geadas e fortes chuvas que atingiram as principais regiões produtoras do país. Apesar das adversidades climáticas, ainda será a produção recorde no país, o que disponibilizará para exportação cerca de 13 milhões de tons de trigo.
O QUE ESPERAR EM 2019?
Vamos falar do ponto que mais preocupa os setores do mercado de trigo: preços.
O ano de 2018 encerra com as cotações do cereal, tanto no mercado doméstico quanto no externo, com preços maiores em relação a 2017. Analisando o cenário externo, o USDA projeta uma redução na produção mundial de trigo em 24,8 milhões de tons, reflexo de quebra de produção, em comparação a 2017/18, nos principais exportadores mundiais, Austrália (-4,3 milhões de tons), União Europeia (- 14 milhões de tons), Rússia (- 15 milhões de tons). O destaque de incremento na produção vai para EUA ( + 4 milhões de tons), Canadá (+2 milhões), Argentina (+1,5 milhão).
Portanto, alguns agentes do mercado acreditam que a quebra na produção mundial dará força a subida dos preços do trigo no mercado externo. Porém, este aumento pode ser limitado considerando os estoques finais em 268,1 milhões de tons.
Vale lembrar ainda que a cotação do dólar e as relações comerciais do novo presidente eleito, Jair Bolsonaro, também são fatores que impactam nos preços do trigo que desembarca no Brasil, aos quais o mercado estará atento em 2019.
O esfriamento das exportações Russas, principalmente em janeiro e fevereiro/19 quando o rigoroso inverno dificulta a logística no país, pode impulsionar as vendas de trigo dos EUA e os preços do cereal norte-americano valorizarem. A redução nas exportações russas, segundo agentes do mercado, pode se dar em função do esgotamento de trigo de qualidade “padrão Rússia” para exportação.