Trigo Brasil: Mercado opera sob cenário desafiador

Produtores enfrentam custos elevados, moinhos aguardam maior clareza da safra e importações crescentes acentuam a concorrência.

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 26/09/2025 por:

Economista | Analista de Mercado

Trigo Brasil

O mercado doméstico de trigo segue pressionado, apesar das oscilações registradas nas cotações nesta quinta-feira (25). O indicador Cepea/Esalq apontou no Paraná o preço de R$ 1.269,40 por tonelada para o trigo pão ou melhorador, avanço diário de 0,7%. Contudo, esse movimento positivo ocorre após um recuo acumulado de 4,6% na semana e de 9% no mês. No Rio Grande do Sul, o trigo brando apresentou retração, sendo comercializado a R$ 1.229,21 por tonelada.

No mercado físico, as cotações mantêm a mesma tendência de fragilidade. No Rio Grande do Sul, a saca é negociada a R$ 67,50 em média, enquanto em Santa Catarina alcança R$ 68,69. Já no Paraná, o valor médio gira em torno de R$ 67,19 por saca.

As negociações seguem pouco dinâmicas, reflexo da demanda enfraquecida por parte da indústria moageira e do ambiente externo desfavorável. Muitos moinhos optam por aguardar maiores informações quanto à próxima safra nacional, além da efetiva entrada de trigo importado, sobretudo da Argentina.

Por falar na Argentina, o governo havia anunciado, no início da semana, a suspensão temporária da tarifa de exportação de grãos e derivados, que no caso do trigo era de 9,5%. A medida, válida até o final de outubro ou até o atingimento de US$ 7 bilhões em registros de embarque, foi rapidamente revogada em apenas 48 horas. A meta foi alcançada por conta da forte demanda chinesa por soja, resultando no restabelecimento imediato da alíquota no dia 25.

O mercado aguardava que a isenção tarifária ampliasse ainda mais a competitividade do trigo argentino no Brasil, acentuando a pressão sobre os produtores nacionais, que enfrentam custos de produção elevados nesta temporada.

Entre janeiro e agosto, os moinhos brasileiros adquiriram 3,66 milhões de toneladas do cereal argentino, de um total de 4,68 milhões de toneladas importadas de diferentes origens, conforme dados oficiais.

Esse volume representa crescimento de 24% em relação ao mesmo período de 2024 e constitui o maior patamar anual até agosto desde 2021, quando somou 3,8 milhões de toneladas. Esse avanço reflete a expansão da colheita argentina, enquanto a produção brasileira foi prejudicada pelas adversidades climáticas no último ciclo.

No campo, até 22 de setembro, o Departamento de Economia Rural (DERAL) informou que a colheita avançava em praticamente todas as áreas produtoras do Paraná, embora com produtividades heterogêneas em função dos efeitos climáticos, sobretudo geadas e déficit hídrico.

Nas áreas não afetadas, a qualidade dos grãos é considerada elevada. Já em regiões ainda em enchimento de grãos, o manejo fitossanitário tem sido intensificado diante da incidência de doenças como oídio e pulgões. Do total da área cultivada, 41% já foi colhida, com 89% das lavouras avaliadas como boas, 9% em condição intermediária e apenas 2% classificadas como ruins.

No Rio Grande do Sul, até 24 de setembro, o relatório do Emater/RS apontou bom desempenho das lavouras, ainda que condicionado às variações climáticas regionais. A distribuição das fases fenológicas é a seguinte: 25% das áreas em desenvolvimento vegetativo, 35% em floração, 35% em enchimento de grãos e 5% em maturação, evidenciando grande heterogeneidade no ciclo produtivo. As áreas mais precoces já se aproximam do encerramento.

O estado nutricional das lavouras gaúchas é considerado satisfatório, beneficiado pela aplicação de adubação nitrogenada no momento adequado e pela umidade do solo em níveis favoráveis. As projeções de produtividade permanecem positivas, especialmente nas áreas conduzidas com maior nível tecnológico. No entanto, há apreensão quanto ao excesso de chuvas, que pode comprometer a qualidade dos grãos e limitar o potencial produtivo. A área cultivada no estado está estimada em 1.198.276 hectares, com produtividade projetada em 2.997 kg/ha.

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