Trigo Mercado Externo: Oferta internacional mais ampla redefine sentimento do mercado

No Brasil, o avanço da colheita e a competitividade do cereal importado moldam o ambiente doméstico.

Tempo de leitura: 6 minutos

| Publicado em 17/11/2025 por:

Economista | Analista de Mercado

Trigo – Mercado Externo

O mercado internacional do trigo encerrou a última semana com comportamento heterogêneo entre os principais vencimentos. Na Bolsa de Chicago (CBOT), em 14 de novembro, o contrato de trigo SRW para dezembro registrou leve baixa de 0,15% no acumulado semanal, encerrando a US$ 5,27 por bushel. O vencimento de março apresentou retração semelhante, negociado a US$ 5,41 por bushel. Já os contratos mais alongados, maio, julho e setembro de 2026, avançaram suavemente no período.

Movimento semelhante foi observado na Bolsa de Kansas. O trigo HRW para dezembro recuou 0,77% frente à semana anterior, cotado a US$ 5,15 por bushel, enquanto o contrato de março diminuiu 0,19%, alcançando US$ 5,31 por bushel. Da mesma forma que em Chicago, os vencimentos mais longos também encerraram a semana em território positivo.

O relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), publicado na sexta-feira após pausa desde as estimativas de setembro, trouxe números de produção e estoques superiores ao esperado, pressionando as cotações internacionais ao indicar oferta mais elevada.

No panorama global, o USDA projeta a produção mundial de trigo para a safra 2025/26 em 828,89 milhões de toneladas, aumento de 3,5% sobre a temporada passada e de 1,6% em relação ao relatório anterior. O consumo deve atingir 818,9 milhões de toneladas, avanço anual de 1,1%. Os estoques finais foram estimados em 271,43 milhões de toneladas, 3,8% acima da safra 2024/25 e 2,8% superiores às projeções de setembro.

A Rússia, maior produtora global, teve sua colheita estimada em 86,5 milhões de toneladas, alta de 1,8% frente à leitura anterior e crescimento de 6% ante o ciclo anterior. O consumo interno deve atingir 41,2 milhões de toneladas, enquanto as exportações foram ajustadas para baixo, agora projetadas em 44 milhões de toneladas, ainda assim, 2,3% acima do volume da última temporada. Os estoques russos devem somar 12,19 milhões de toneladas, avanço expressivo de 15,1% em relação à safra passada.

Nos Estados Unidos, a produção total foi estimada em 54,01 milhões de toneladas, aumento de 3% sobre setembro e ligeira alta de 0,7% frente à safra anterior. O consumo doméstico permanece em 31,41 milhões de toneladas, e as exportações foram mantidas em 24,49 milhões, aumento de 8,9% ante o ciclo passado. Os estoques finais foram revisados para cima, totalizando 24,52 milhões de toneladas.

Entre outros grandes players, o USDA revisou para cima as estimativas de produção da Argentina, agora projetada em 22 milhões de toneladas (+12,8% frente ao relatório anterior); da Austrália, estimada em 36 milhões de toneladas (+5,5% ante 2024/25); e do Canadá, com produção ajustada para 37 milhões de toneladas. Já a Ucrânia manteve a projeção de 23 milhões de toneladas, leve recuo em relação ao ciclo anterior.

Para o Brasil, importador líquido, a produção deverá alcançar 7,7 milhões de toneladas, elevação de 2,7% sobre a estimativa anterior, embora 2,4% abaixo da temporada passada. O consumo interno, superior à oferta doméstica, está projetado em 12,35 milhões de toneladas. As importações devem atingir 7,3 milhões, e os estoques finais foram elevados para 2,84 milhões de toneladas.

Em relação ao comércio exterior dos EUA, o USDA informou que, até 6 de novembro, as inspeções semanais somaram 290 mil toneladas, queda de 17,1% ante a semana anterior. Apesar do recuo, o acumulado do ano comercial alcança 12,115 milhões de toneladas, alta de 19,2% frente ao mesmo período do ciclo anterior.

Na Rússia, o Ministério da Agricultura anunciou que, entre 12 e 18 de novembro, a taxa de exportação de trigo subirá de 76 para 185,5 rublos por tonelada. O país enviou 2 milhões de toneladas nos primeiros dez dias de novembro, acumulando 16,8 milhões desde o início do ciclo.

Na Ucrânia, até 7 de novembro, a colheita de grãos superou 43 milhões de toneladas, das quais 22,8 milhões correspondem ao trigo. Na Austrália, o cereal manteve-se como principal produto exportado na temporada 2024/25, com embarques de 23,48 milhões de toneladas para 44 destinos, o quarto maior volume da história.

A Argentina, por sua vez, teve nova revisão altista da Bolsa de Cereales de Rosário (BCR), que elevou a produção projetada para 24,5 milhões de toneladas. Caso confirmada, a safra superará o recorde de 2021/22. A melhora é atribuída a chuvas abundantes em fases críticas da cultura e ao avanço tecnológico, especialmente em genética e manejo fitossanitário.

Trigo – Mercado Interno

O mercado doméstico brasileiro apresentou desempenho divergente entre as praças na última semana. De acordo com o Cepea/Esalq, o trigo pão ou melhorador recuou 0,44% no Paraná, negociado a R$ 1.192,33 por tonelada, enquanto no Rio Grande do Sul o trigo brando permaneceu praticamente estável, cotado a R$ 1.042,79 por tonelada.

No mercado físico, o Rio Grande do Sul registrou queda expressiva na saca, encerrando a semana a R$ 57,16 (-3,36%). Em Santa Catarina, as cotações médias avançaram levemente para R$ 62,54, enquanto no Paraná os preços médios permaneceram estáveis em R$ 64,19 por saca.

As negociações apresentaram ligeira melhora ao longo da semana, embora ainda em ritmo contido. Produtores seguem retendo oferta na expectativa de melhores preços, enquanto a indústria atua com cautela, adquirindo volumes reduzidos diante da ampla disponibilidade interna.

A rentabilidade da atividade continua sendo um fator crítico. As cotações deprimidas comprimem margens e podem resultar em retração da área plantada para 2026. Muitos produtores já reduziram investimentos tecnológicos, o que impacta rendimento e qualidade dos grãos.

Apesar do recente anúncio da Conab de um aporte de R$ 67 milhões para apoiar a comercialização no Paraná e no Rio Grande do Sul, agentes avaliam que o montante é insuficiente para reverter o quadro adverso.

A pressão adicional vem do trigo importado, que se tornou mais competitivo em relação as últimas semanas com a recente desvalorização do dólar. O trigo argentino, responsável por cerca de 70% das compras externas do Brasil, chega ao país por R$ 1.356,71 CIF. Além de preços competitivos, o grão argentino tem um padrão de qualidade superior ao nacional.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), até a primeira semana de novembro, o Brasil importou 130 mil toneladas de trigo e centeio não moídos, o que representa 30,7% do total adquirido ao longo de novembro de 2024.

No campo, a colheita avança de forma consistente. Até 9 de novembro, 63,7% da área plantada estava colhida, conforme a Conab. No Paraná, a maior parte das lavouras já foi retirada, com parcelas pontuais apresentando perdas por granizo e excesso de chuvas. No Rio Grande do Sul, o ritmo foi acelerado pela dessecação antecipada diante da previsão de precipitações intensas. A produtividade se mantém próxima das estimativas iniciais, embora algumas áreas registrem PH inferior.

Em Santa Catarina, o avanço da colheita é moderado em razão do clima adverso. No Planalto Norte, tempestades e granizo causaram danos significativos, somados à incidência de doenças como oídio, ferrugem e giberela. No Meio-Oeste, a alternância entre chuvas e estiagens tem elevado a pressão de doenças, enquanto no Extremo-Oeste o acamamento das plantas dificulta as operações, apesar de produtividades ainda satisfatórias.

No relatório de 13 de novembro com relação a oferta e demanda, a Conab ajustou a produção nacional para 7,68 milhões de toneladas, ligeira redução de 0,1% frente ao mês anterior e queda de 2,6% em relação à safra passada. A área cultivada foi revisada para baixo e deverá ser 20,1% inferior à de 2024.

As importações foram projetadas em 6,70 milhões de toneladas, aumento de 1,1% no mês, embora queda anual de 1,9%. O consumo doméstico foi mantido em 11,8 milhões de toneladas. Os estoques finais subiram para 1,91 milhão de toneladas, elevação de 3,2% ante o relatório anterior e expressivos 39,3% acima da temporada passada.

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