Soja Balanço Semanal: Mercado reage à força do esmagamento nos EUA, mas tensões comerciais limitam ganhos

No cenário interno, produtores reduzem oferta aguardando cotações melhores e dólar forte amplia competitividade da oleaginosa brasileira.

Tempo de leitura: 4 minutos

| Publicado em 20/10/2025 por:

Economista | Analista de Mercado

Soja – Mercado Externo

Os contratos futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago (CBOT) encerraram a semana acumulando ganhos consistentes. O vencimento de novembro registrou valorização de 1,27% frente à semana anterior, sendo cotado a US$ 10,19 por bushel, enquanto o contrato de janeiro avançou 1,31%, fechando a US$ 10,36 por bushel.

O movimento de alta foi sustentado pela firmeza do mercado físico norte-americano e por dados de esmagamento acima das projeções. A Associação Nacional de Processadores de Oleaginosas (NOPA) informou que o volume processado em setembro alcançou 197,9 milhões de bushels, avanço de 12% sobre o mesmo mês de 2024 e recorde histórico para o período. O resultado reflete a expansão da capacidade industrial dos EUA para atender à crescente demanda por biocombustíveis.

Apesar do impulso, as perspectivas de valorização permanecem limitadas pelo recrudescimento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, que travam as expectativas na retomada das aquisições chinesas. Em setembro, pela primeira vez em sete anos, a China deixou de importar soja norte-americana. O quadro se agravou após Washington impor novas tarifas sobre produtos chineses, com vigência a partir de novembro.

Nesse cenário, os produtores norte-americanos podem enfrentar perdas bilionárias, uma vez que as indústrias esmagadoras chinesas seguem priorizando o abastecimento junto à América do Sul. Em setembro, as importações chinesas de soja do Brasil somaram 10,96 milhões de toneladas, alta de 29,9% na comparação anual, representando 85,2% do total adquirido pelo país asiático. Os embarques da Argentina também cresceram expressivamente (+91,5%), atingindo 1,17 milhão de toneladas, equivalentes a 9% das importações totais. No agregado, a China importou 12,87 milhões de toneladas no mês, o segundo maior volume já registrado.

Mesmo diante das restrições impostas pelo shutdown do governo norte-americano, que interrompeu parte do fluxo de informações oficiais, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou dados sobre inspeções de embarques realizadas até 9 de outubro. O volume inspecionado atingiu 994 mil toneladas, aumento semanal de 26,9%, embora represente uma queda de 47,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. No acumulado do atual ano comercial, as exportações totalizam 4,04 milhões de toneladas, recuo de 26% frente ao mesmo intervalo de 2024 (5,46 milhões). A retração evidencia a menor participação chinesa nas compras norte-americanas, reduzindo o ritmo dos embarques.

Soja – Mercado Interno

No cenário doméstico, o Indicador Esalq/B3 (Cepea) acompanhou a tendência altista observada no mercado internacional. Em Paranaguá (PR), a saca foi negociada a R$ 138,77, avanço semanal de 1,15%, enquanto no Paraná o incremento foi de 0,66%, encerrando a semana a R$ 133,56 por saca.

No mercado físico, a maior parte das praças registrou elevação nas cotações, com exceção do Mato Grosso, onde o movimento foi de recuo. Os aumentos mais expressivos ocorreram em São Paulo (+4,68%), com média de R$ 129,50 por saca, no Mato Grosso do Sul (+1,61%), cotado a R$ 126,28/saca, e em Santa Catarina (+0,68%), onde o preço médio atingiu R$ 124,80/saca.

A valorização foi impulsionada pela postura mais conservadora dos produtores, que reduziram o volume ofertado no mercado interno aguardando condições mais favoráveis de comercialização. O setor acompanha atentamente a valorização do dólar frente ao real, fator que amplia a competitividade da soja brasileira no exterior em comparação ao produto norte-americano. Além disso, a demanda externa aquecida e as novas tarifas comerciais dos EUA à China, previstas para novembro, fortalecem as expectativas de expansão das exportações brasileiras ao mercado asiático. Os prêmios de exportação seguem robustos, superando 200 pontos, o que estimula novos fechamentos de contrato.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), até a segunda semana de outubro (8 dias úteis), o Brasil exportou 2,16 milhões de toneladas de soja, correspondendo a 46% do total embarcado em outubro de 2024 (4,70 milhões de toneladas em 22 dias úteis).

No campo, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 11,1% da área estimada para a safra 2025/26 já foi semeada. No Mato Grosso, o ritmo de plantio desacelerou devido às condições climáticas adversas, enquanto no Rio Grande do Sul as atividades avançam lentamente nas regiões do Alto Uruguai e Missões. No Paraná, os trabalhos progridem de forma ampla, favorecidos por condições meteorológicas satisfatórias, embora áreas do norte enfrentem déficit hídrico por irregularidade das chuvas.

Em Goiás e Minas Gerais, a semeadura ocorre majoritariamente em áreas irrigadas. No Mato Grosso do Sul, o ritmo é mais intenso no sul do estado, mantendo-se moderado nas demais regiões. Em São Paulo, os trabalhos também se concentram em áreas irrigadas. Já em Santa Catarina, as chuvas constantes têm limitado o avanço das atividades. Na Bahia, as operações seguem restritas ao Oeste irrigado, enquanto no Tocantins, o retorno das precipitações tem acelerado o progresso da semeadura. No Pará, o plantio ganha ritmo nas regiões da BR-163 e de Redenção.

Conforme o boletim mais recente de oferta e demanda da Conab, a produção nacional de soja para a safra 2025/26 está projetada em 177,6 milhões de toneladas, alta de 3,6% em relação ao ciclo anterior. A área cultivada deve atingir 49 milhões de hectares, também 3,6% superior à temporada passada, enquanto a produtividade média está estimada em 3.260 kg/ha, mantendo-se praticamente estável frente à safra 2024/25.

As exportações brasileiras estão previstas em 122,1 milhões de toneladas, incremento de 5,1% em relação ao ciclo anterior. O consumo interno deve alcançar 63,3 milhões de toneladas, avanço anual de 1,7%. Assim, os estoques finais são projetados em 13,3 milhões de toneladas, aumento expressivo de 25,1% ante o fechamento da safra passada.

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