Trigo Brasil
A cotação do trigo segue sendo pressionada no Brasil e nesta última semana, com o feriado trazendo ainda mais lentidão aos negócios e preços recuando no exterior, os índices do mercado físico contabilizaram perdas acima de 4% em algumas regiões.
Desde o seu pico ao final de julho, até o fechamento desta sexta-feira, 9 de setembro, a cotação do lote do trigo no Paraná recuou mais de 17%, passando de R$ 2300/ton para atuais R$ 1900/ton FOB PH 78 acima. No Rio Grande do Sul, o valor do trigo no mercado físico já é negociado na faixa de R$ 1800 a R$ 1850, mas já há relatórios de negócios entre outubro a dezembro na faixa de R$ 1700 ou um pouco menos.
Além do fator da paridade de importação, que em alguns momentos deixou o trigo brasileiro mais caro este ano do que o cereal importado, fazendo o grão perder a competitividade, mesmo em momentos de oferta restrita, o cenário atual conta com uma projeção de uma super safra de trigo no Brasil, que aos poucos parece estar se consolidando, com as primeiras lavouras de trigo já tendo sido colhidas no Paraná.
Segundo informativo do Deral da última terça (06), 12% das lavouras já foram colhidas, sendo as regiões de Maringá e Cornélio Procópio as mais adiantadas. Do restante, 33% se encontra em fase de maturação, 36% em frutificação, 19% em perfilhamento e 12% ainda em desenvolvimento vegetativo.
No Rio Grande do Sul, a Emater-RS informou nesta quinta (08) que a cultura do trigo apresenta um desenvolvimento adequado. O clima com noites frias e elevação das temperaturas ao longo do dia continuou favorecendo o crescimento e a evolução de fases dos cultivos. A fase predominante ainda é o desenvolvimento vegetativo, com 63% da área, mas a fase de floração já alcançou 32% e a de enchimento de grãos, 5% até o dia 08 de setembro.
Não há indicação de danos significativos causados pelas geadas ocorridas no período, mas os produtores permanecem alertas e avaliarão, com o passar dos dias, eventuais manifestações de prejuízo. A estimativa de cultivo de trigo no Estado para a safra 2022 é de 1.413.763 hectares. A produtividade estimada permanece em 2.822 kg/ha.
De acordo com a previsão da Conab com relação ao quadro de oferta e demanda também divulgado nesta quinta, a perspectiva é de uma produção brasileira de trigo em 9,365 milhões de toneladas em 2022. Isso elevaria significativamente os estoques internos do cereal, para 1,810 milhão de toneladas, caso a demanda de importação prevista em 6,5 milhões de toneladas ainda permaneça. Neste ponto, acredita-se que esse volume de trigo importado seja reduzido para a nova temporada, desde que, o trigo colhido no Brasil tenha de fato uma boa qualidade alimentar, onde os moinhos consigam transformá-lo em farinhas e produtos para a panificação.
A Conab ainda estimou que o país deve seguir com um volume de exportação de trigo significativo, com 2,5 milhões de toneladas projetadas para a temporada 2022/23. Ainda assim, isso seria uma redução ante ao recorde de 3,045 milhões de toneladas alcançadas em 2021/22.
Neste contexto cabe ressaltar ainda, que segundo relatos de alguns analistas, a comercialização de trigo no mercado físico referente a nova safra ainda ocorre lentamente, com os moinhos ainda restritos aos negócios, buscando pressionar ainda mais a cotação para encontrar preços menores lá na frente. Sendo assim, o que se nota é um acúmulo de estoques de grãos disponíveis, pois nem um milhão de toneladas de trigo teria sido realmente negociado, da atual safra que começa a ser colhida neste mês de setembro, tanto em exportação quanto no mercado interno. Quadro este que pode pressionar os preços internos do cereal para baixo, a partir do final do ano, quando terminar a colheita, se realmente ela vier cheia.
Trigo Argentina
Segundo informações divulgadas no Panorama Agrícola Semanal (PAS), da Bolsa de Cereales de Buenos Aires nesta quinta (08), a parcela da safra de trigo da Argentina em condição boa ou excelente ficou estável na semana passada, disse a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, em relatório semanal. Segundo a bolsa, a parcela se manteve em 17%.
As áreas em condição normal passaram de 59% para 57%. Outros 26% apresentavam condição regular/ruim, ante 24% na semana anterior.
Conforme a bolsa, com o clima seco e frequentes geadas, aumentaram as perdas de área no norte do país. Além disso, perdas no potencial produtivo começam a ficar evidentes no centro da área agrícola, relatou a bolsa.
Assim como no mercado externo, os preços futuros do trigo da Argentina também foram pressionados nesta última semana, registrando recuos de 0,5% a 3,7% nas entregas de set/22 a mar/23 na BCBA. No mercado físico, o índice permaneceu estável em US$ 400/ton FOB.
Trigo Mercado Externo
As cotações do trigo, em Chicago, subiram durante a semana, puxadas por declarações do presidente russo em relação a restrições para exportação de grãos da Ucrânia. Há fortes preocupações de que a Rússia exigirá mudanças em um acordo atual que permite a passagem segura de navios ucranianos de seus portos do Mar Negro.
Líderes da Turquia e da Rússia se reunirão no Uzbequistão na próxima semana para discutir um acordo mediado pela ONU que permite um fluxo mais livre de grãos ucranianos através de seus portos do Mar Negro. O acordo foi recentemente criticado por Vladimir Putin, que quer ver emendas adicionadas a ele antes de ser prorrogado em novembro.
Sendo assim, os preços foram fortemente impactados, fechando a semana com valorização acima de 7% para o trigo soft.
Dito isso, o trigo de primavera, nos EUA, havia sido colhido, até o dia 04/09, em 71% da área, contra 83% na média histórica. Por sua vez, o plantio da nova safra do trigo de inverno atingia a 3% da área esperada, ficando no mesmo nível da média histórica para esta data.
Já em termos de embarques, na semana encerrada em 1º de setembro, os EUA haviam alcançado 477.657 toneladas, ficando dentro do esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial do trigo, os embarques atingem a 5,6 milhões de toneladas, contra um pouco mais de 6,6 milhões em igual momento do ano anterior.
Por sua vez, ainda na Ucrânia, o plantio da nova safra de trigo de inverno se iniciou. Devido à guerra, a área total com o cereal poderá recuar de 4,6 milhões para 3,8 milhões de hectares. A Ucrânia colheu 19 milhões de toneladas de trigo neste ano, em comparação com cerca de 32,2 milhões de toneladas em 2021.