Trigo Brasil: Pressão Sazonal e Oferta Externa moldam o cenário do cereal

Aprofundamento das colheitas e competitividade argentina ampliam o movimento baixista no mercado interno. No campo, chuvas no sul levam preocupações com relação a qualidade do trigo.

Tempo de leitura: 2 minutos

| Publicado em 05/11/2025 por:

Economista | Analista de Mercado

Trigo Brasil

O mercado doméstico de trigo registrou oscilações distintas nas cotações nesta terça-feira (4). Conforme o indicador Cepea/Esalq, o trigo pão ou melhorador negociado no Paraná encerrou o dia a R$ 1.197,19 por tonelada, avanço marginal de 0,2% frente à sessão anterior. No Rio Grande do Sul, o trigo brando apresentou retração diária de 0,9%, atingindo R$ 1.071,21 por tonelada.

No mercado físico, as referências permaneceram estáveis em praticamente todas as praças acompanhadas, exceto em Santa Catarina, onde a média estadual apresentou leve ajuste negativo de 0,2%, com a saca cotada a R$ 62,38. No Rio Grande do Sul, o valor médio segue em R$ 60,09 por saca, enquanto no Paraná a precificação permaneceu em R$ 64,19 por saca.

Na comparação anual, ambos os indicadores do Cepea acumulam quedas superiores a 15%, evidenciando a expressiva pressão baixista sobre o cereal. Entre os principais vetores desse movimento estão o avanço da colheita nacional, as perspectivas favoráveis de produtividade, a safra robusta na Argentina, a desvalorização do câmbio e o enfraquecimento das cotações internacionais.

A competitividade dos preços argentinos tem sido determinante e o país segue forçando as vendas dado o grande volume de produção estimado da safra atual, que será entre 22 a 23 milhões de toneladas, em que metade será destinada à exportação, intensificando o recuo nas referências domésticas. Atualmente, o cereal argentino figura entre os mais baratos do mundo, cotado a US$ 215/tonelada FOB.

O contexto interno aponta para margens bastante comprometidas nesta temporada. Produtores relatam valores pagos insuficientes para cobrir os custos de produção, resultando em prejuízo ou, no máximo, equilíbrio financeiro. Diante disso, parte dos agricultores tem considerado a migração para outras culturas, afirmando que o trigo não tem proporcionado retorno satisfatório nas últimas safras. Esse cenário pode provocar redução da área semeada em 2026.

No campo, as lavouras do Rio Grande do Sul apresentavam boas condições até cerca de duas semanas atrás. Entretanto, o excesso de chuvas deteriorou a qualidade dos grãos, restringindo seu uso para a farinha e ampliando a destinação ao segmento de ração. Há relatos de moinhos no Paraná que rejeitaram compras do trigo gaúcho devido à sua qualidade. A umidade elevada compromete a manutenção da integridade do produto, aumentando o risco de perdas qualitativas. Se essa tendência persistir, a necessidade de importação tende a se intensificar.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os trabalhos de colheita no Rio Grande do Sul estão atrasados em comparação com a temporada anterior, em função da semeadura mais tardia e das temperaturas mais baixas observadas neste ciclo.

Nacionalmente, a Conab informa que 50,9% da área nacional havia sido colhida até 2 de novembro. No Paraná, a colheita, que já se aproxima de 85%, foi temporariamente interrompida pelas chuvas da última semana, e potenciais danos decorrentes das precipitações mais fortes do fim de semana ainda estão em avaliação. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), até 3 de novembro, 88% da área cultivada havia sido colhida, com 83% das lavouras classificadas em boas condições e 17% em condição mediana. Em Santa Catarina, apesar da boa produtividade, a umidade no final do ciclo elevou a incidência de doenças, exigindo maior atenção técnica.

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