Trigo Brasil
O mercado brasileiro de trigo apresentou estabilidade nesta terça-feira (21), registrando apenas variações marginais nas cotações. Segundo o indicador Cepea/Esalq, o trigo pão ou melhorador no Paraná foi negociado a R$ 1.201,30 por tonelada, queda de 0,3% frente à sessão anterior. No Rio Grande do Sul, o trigo brando teve leve avanço de 0,1%, cotado a R$ 1.110,43 por tonelada.
No mercado físico, os preços permaneceram praticamente inalterados, com exceção de Santa Catarina, onde a saca de 60 kg registrou incremento modesto de 0,2%, alcançando R$ 62,60. No Rio Grande do Sul, a média situou-se em R$ 62,92/saca, enquanto no Paraná o valor médio foi de R$ 64,61/saca.

O cenário doméstico segue pressionado por fatores estruturais. A perspectiva de uma safra nacional com boa produtividade, aliada ao dólar desvalorizado ao longo de 2025 e à alta produção na Argentina, principal origem das importações brasileiras, tende a limitar o potencial de valorização do cereal no curto prazo.
Os estoques confortáveis dos moinhos reforçam a postura cautelosa dos agentes nas negociações. No Rio Grande do Sul, o volume comercializado atinge 440 mil toneladas, considerando exportações e entregas às indústrias, desempenho semelhante ao registrado no mesmo período de 2024. Em Santa Catarina, a colheita ainda não foi iniciada, mantendo o mercado local em compasso de espera. No Paraná, o principal gargalo é o prejuízo nos preços pagos aos agricultores, que estão cerca de 13,8% inferiores aos custos de produção, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral).
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o setor de moagem mantém trajetória de crescimento moderado e consistente, com expansão média de 2% ao ano. Em 2024, as empresas associadas, responsáveis por aproximadamente 80% da moagem nacional, processaram 13,2 milhões de toneladas do grão.
Atualmente, o Brasil conta com cerca de 150 moinhos, predominando unidades de menor porte na região Sul e plantas de maior capacidade nas regiões litorâneas. A distribuição da moagem, contudo, não guarda proporção direta com o número de estabelecimentos por estado. O Rio Grande do Sul, por exemplo, abriga 38 moinhos, responsáveis por 15% da moagem nacional, enquanto São Paulo, com apenas 15 unidades, responde por 14%. As regiões Norte e Nordeste, somadas, concentram 20 moinhos e representam 25% do total processado no país. Já o Paraná é o líder na moagem, com 49 plantas respondendo por 30% do processamento do trigo.
Com relação ao comércio exterior, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) indicam que, até a terceira semana de outubro (13 dias úteis), o Brasil importou 283 mil toneladas de trigo e centeio não moídos, volume equivalente a 51,4% do total adquirido em outubro de 2024 (552 mil toneladas em 22 dias úteis).

No campo, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), até 19 de outubro, 37,8% da área cultivada com trigo no país havia sido colhida. No Paraná, mais de 65% da área já foi colhida, com lavouras em sua maioria em boas condições, apesar de pontuais prejuízos decorrentes das geadas de junho e da reduzida umidade do solo nos últimos meses, especialmente nas regiões Centro-Oriental, Norte Pioneiro e Noroeste. As chuvas recentes melhoraram a umidade, beneficiando as lavouras remanescentes, embora tenham interrompido temporariamente a colheita nas áreas mais maduras.
No Rio Grande do Sul, a colheita evolui lentamente em razão das temperaturas mais baixas, que prolongaram o ciclo da cultura. Produtores têm recorrido à dessecação das plantas para uniformizar a maturação de grãos e palha, otimizando a colheita. Após duas semanas de elevada umidade, o clima mais estável favoreceu a sanidade das lavouras, com produtividades dentro da normalidade e boa qualidade dos grãos, evidenciada pelo peso hectolítrico satisfatório.
Em Santa Catarina, as chuvas frequentes e a alta umidade aceleraram o ciclo nas regiões mais ocidentais, mas elevaram o risco de doenças de espiga, como giberela e brusone. Em Campo Erê, algumas áreas foram afetadas, mesmo com o uso de fungicidas preventivos. No Meio-Oeste, as lavouras encontram-se em diferentes estágios, as mais precoces em maturação e a maioria ainda em floração. Apesar das perdas localizadas, as condições gerais permanecem favoráveis à produtividade.