Trigo Brasil: Mercado opera sob forte pressão com safra em avanço e concorrência Argentina

Cotações internas recuam diante da ampla oferta global, desvalorização cambial e aumento das importações; setor solicita medidas emergenciais enquanto a colheita avança em ritmo gradual nas principais regiões produtoras.

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 08/10/2025 por:

Economista | Analista de Mercado

Trigo Brasil

O mercado interno de trigo voltou a registrar desvalorizações nesta terça-feira (07), refletindo a combinação de fatores internos e externos que mantêm o setor sob forte pressão. De acordo com o indicador Cepea/Esalq, o trigo pão ou melhorador no Paraná foi cotado a R$ 1.226,51 por tonelada, representando recuo de 0,3% em relação à sessão anterior. No Rio Grande do Sul, o trigo brando manteve-se estável, negociado a R$ 1.199,29 por tonelada.

No mercado físico, as cotações apresentaram comportamento misto entre os principais estados produtores. No Rio Grande do Sul, a média foi de R$ 65,08 por saca, sem variações diárias relevantes. Em Santa Catarina, o preço subiu levemente para R$ 66,63 por saca (+0,2%), enquanto no Paraná, a média recuou para R$ 64,60 por saca (-1,4%).

Com a entrada da safra 2025 e a conjuntura internacional desfavorável, marcada por ampla oferta global, retração nas cotações externas e desvalorização cambial, o mercado brasileiro de trigo permanece em um dos níveis mais baixos do ano. A baixa liquidez e a alta participação de trigo importado na moagem nacional também dificultam a formação de preços mais atrativos ao produtor.

Nas últimas semanas, a pressão sobre as cotações foi intensificada pela redução temporária das “retenciones” na Argentina, principal fornecedora do Brasil. A medida aumentou a competitividade do produto argentino, redirecionando parte da demanda brasileira e reduzindo a paridade de importação. Com isso, produtores e vendedores domésticos foram obrigados a ajustar os preços para manter competitividade frente ao cereal importado.

Diante desse cenário, entidades do setor têm solicitado ações emergenciais de apoio, como programas de aquisição governamental ou subvenção ao preço mínimo. A expectativa é de que uma recuperação mais consistente só ocorra com a retomada das exportações ou com maior intervenção do governo no mercado interno.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) apontam que, até a quinta semana de setembro (20 dias úteis), o Brasil importou 568 mil toneladas de trigo e centeio não moídos, volume 3,8% inferior ao total adquirido em setembro de 2024 (591 mil toneladas em 21 dias úteis).

No entanto, no acumulado de janeiro a setembro de 2025, as importações totalizam 5,249 milhões de toneladas, alta de 2% frente ao mesmo período do ano anterior (5,147 milhões de toneladas).

No campo, a colheita avança de forma gradual. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), até 5 de setembro, 31% da área cultivada já havia sido colhida. No Paraná, o ritmo supera a metade da área estimada, com predomínio de lavouras em boas condições. As limitações observadas decorrem das geadas no final de junho e da escassez hídrica, especialmente nas regiões Norte do estado. No Oeste e Sudoeste, as chuvas recentes interromperam temporariamente os trabalhos de campo.

No Rio Grande do Sul, as lavouras mantêm bom desempenho fitossanitário, mesmo diante do menor uso de insumos. O clima tem sido, em geral, favorável, embora a umidade elevada e os dias chuvosos desta semana tenham favorecido o aparecimento de doenças fúngicas.

Em Santa Catarina, as lavouras da Serra e dos Planaltos aproximam-se do fim do estágio vegetativo, enquanto no Oeste predominam áreas em alongamento, floração e formação de grãos. A sanidade é considerada satisfatória, com ocorrências pontuais de oídio em regiões mais adiantadas, associadas à alta umidade e baixa insolação.

Em São Paulo, a colheita avança e o produto apresenta boa qualidade, apesar das produtividades abaixo do esperado. As perdas estão relacionadas à falta de chuva durante o ciclo, às geadas e aos ventos fortes, que ocasionaram acamamento das plantas.

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