Trigo Brasil: Mercado mantém cautela em meio a apoio governamental aos produtores

Conab subsidiará o escoamento de até 250 mil toneladas de trigo da safra 2024/25, diante dos preços pagos aos produtores estarem abaixo do mínimo de garantia. Agentes do setor avaliam que a medida terá efeito limitado sobre os patamares de preço e a dinâmica de comercialização.

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 12/11/2025 por:

Economista | Analista de Mercado

Trigo Brasil

O mercado brasileiro de trigo encerrou a terça-feira (11) sob leve retração nas cotações. De acordo com o indicador Cepea/Esalq, o trigo pão ou melhorador negociado no Paraná foi cotado a R$ 1.196,25 por tonelada, queda de 0,5% frente ao pregão anterior. No Rio Grande do Sul, o trigo brando apresentou variação negativa marginal, praticamente estável, encerrando a R$ 1.041,07 por tonelada.

No mercado físico, as referências regionais mantiveram-se estáveis nas principais praças acompanhadas. A média estadual do Rio Grande do Sul foi de R$ 59,15/saca, em Santa Catarina de R$ 62,54/saca, enquanto no Paraná o preço médio atingiu R$ 64,19/saca.

O cenário permanece de cautela, com agentes aguardando maiores definições sobre os próximos leilões de apoio à comercialização da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A estatal destinará R$ 67 milhões para subsidiar o escoamento de até 250 mil toneladas do grão da safra 2024/25, com foco nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná, principais polos produtores do país.

Os valores atualmente pagos aos produtores situam-se significativamente abaixo do preço mínimo estabelecido pela política de garantia do governo federal, abrindo espaço para intervenção pública. O preço mínimo definido pela Conab é de R$ 78,51 por saca de 60 quilos, servindo como referência para assegurar a remuneração básica dos agricultores.

A desvalorização recente do trigo traz implicações relevantes ao planejamento produtivo. A queda das cotações pode levar à revisão de área destinada ao cultivo na próxima safra, comprometendo a oferta futura. No lado do consumo, o reflexo tende a ser indireto: mesmo com preços menores na origem, os custos industriais e logísticos permanecem elevados, restringindo reduções mais expressivas nos valores de produtos derivados, como farinha e pão.

Representantes do setor avaliam que o volume anunciado pela Conab é modesto frente à disponibilidade interna, não sendo suficiente para alterar de forma substancial os níveis de preço ou a dinâmica de comercialização.

Além disso, a qualidade do trigo colhido no Rio Grande do Sul tem se mostrado um fator de preocupação crescente. Estimativas indicam que entre 25% e 30% dos lotes destinados ao Porto de Rio Grande apresentam teores de DON acima de 2 ppm, o que tem limitado negociações e pressionado ainda mais as cotações. Há relatos de moinhos cancelando compras do cereal gaúcho devido à baixa qualidade. Caso esse cenário persista, cresce a expectativa de avanço nas importações para suprir o mercado interno.

No tocante as importações, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, até a primeira semana de novembro (cinco dias úteis), o Brasil importou 130 mil toneladas de trigo e centeio não moídos, o que representa 30,7% do total adquirido em novembro de 2024 (425 mil toneladas em 19 dias úteis).

No campo, o progresso da colheita avança de forma significativa. Segundo a Conab, até 9 de novembro, 63,7% da área cultivada havia sido colhida. No Paraná, a maior parte das lavouras já foi colhida, e o restante encontra-se em maturação, com predominância de boas condições sanitárias. As perdas decorrentes das chuvas e episódios de granizo seguem sendo contabilizadas.

No Rio Grande do Sul, a semana foi marcada por avanço expressivo da colheita, impulsionado pela dessecação antecipada e pela previsão de chuvas intensas no fim de semana. As produtividades médias permanecem próximas das estimativas iniciais, e a qualidade do grão, de modo geral, é satisfatória, embora algumas áreas apresentem menor PH em razão de menor adubação e da umidade excessiva na fase final de maturação. Em municípios como Sarandi e Barra Funda, tempestades de granizo e ventos fortes causaram perdas totais em parcelas isoladas das lavouras.

Em Santa Catarina, o ritmo de colheita segue moderado, dificultado pelas condições climáticas adversas. No Planalto Norte, tempestades, ventos intensos e granizo provocaram danos relevantes, agravados pela presença de doenças como oídio, ferrugem e giberela, que reduziram o potencial produtivo e comprometeram a aparência dos grãos. No Meio-Oeste, a alternância de períodos chuvosos eleva a incidência de doenças nas espigas e folhas, enquanto no Extremo-Oeste, as precipitações e o acamamento das plantas dificultam as operações, embora as produtividades ainda sejam consideradas adequadas.

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