Soja Balanço Mensal – Set/25: Preços da oleaginosa recuam no mês diante de oferta global robusta

Cotações em Chicago recuam diante do avanço da colheita nos EUA e da menor demanda chinesa, enquanto o mercado interno brasileiro acompanha a desvalorização com perspectivas de safra recorde.

Tempo de leitura: 6 minutos

| Publicado em 06/10/2025 por:

Economista | Analista de Mercado

Soja – Mercado Externo

Os contratos futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago (CBOT) encerraram setembro em acentuada desvalorização. No dia 30, o vencimento de novembro registrou queda mensal de 5,01%, cotado a US$ 10,01 por bushel, enquanto o contrato de janeiro recuou 4,87%, fechando a US$ 10,20 por bushel.

A oleaginosa segue pressionada pelo atual quadro de oferta e demanda, em meio ao avanço acelerado da colheita nos Estados Unidos. O clima quente e seco favoreceu o ritmo das operações, mas também trouxe incertezas quanto ao potencial produtivo e à qualidade da safra norte-americana. Há preocupação de que o estresse térmico durante a fase de enchimento e maturação resulte em grãos menores e com menor teor de óleo.

Outro fator que contribuiu para a queda das cotações foi a retração da demanda chinesa pela soja dos EUA. O país asiático vem concentrando suas compras na América do Sul justamente no momento em que a colheita avança em solo norte-americano. A ausência de um consenso comercial entre Washington e Pequim mantém elevado o nível de apreensão entre os produtores dos Estados Unidos.

Apesar disso, declarações recentes do presidente norte-americano em apoio ao setor agrícola e a confirmação de um encontro com o presidente da China, previsto para o início de novembro, reacenderam as expectativas de um possível acordo que ponha fim à guerra tarifária. Caso haja avanços, o mercado aposta em uma retomada mais intensa das importações chinesas de soja americana, reduzidas ao longo dos últimos meses em função das tarifas impostas durante o conflito comercial.

O relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado em 12 de setembro, mostrou reduções globais nas estimativas de produção (425,87 milhões de toneladas), consumo (423,89 milhões) e estoques finais (123,99 milhões). Ainda assim, os volumes permanecem superiores aos observados na safra anterior.

Nos EUA, a produção foi estimada em 117,05 milhões de toneladas, ligeiramente acima da previsão de agosto (116,86 milhões), mas inferior ao resultado da temporada 2024/25 (118,84 milhões). Os estoques subiram para 8,17 milhões de toneladas, enquanto as exportações foram ajustadas para baixo, totalizando 45,86 milhões – abaixo tanto da estimativa anterior (46,4 milhões) quanto do desempenho do ciclo passado (51,03 milhões).

No Brasil, o USDA revisou apenas os estoques finais, agora projetados em 37,26 milhões de toneladas, acima tanto da previsão de agosto (36,96 milhões) quanto do resultado da safra 2024/25 (36,21 milhões). A produção foi mantida em 175 milhões de toneladas, com exportações estáveis em 112 milhões.

Na Argentina, a produção permanece estimada em 48,5 milhões de toneladas, abaixo das 50,9 milhões do ciclo anterior. Os estoques finais caíram para 23,85 milhões de toneladas, enquanto as exportações foram elevadas para 6 milhões – ligeiro aumento frente à projeção anterior (5,8 milhões), mas ainda abaixo das 7,3 milhões de 2023/24.

As inspeções de exportação norte-americanas, até 25 de setembro, somaram 593 mil toneladas, alta de 5% em relação à semana anterior, mas queda de 13,1% frente ao mesmo período de 2024. No acumulado do ano comercial, os embarques atingem 2,246 milhões de toneladas, avanço de 16,4% sobre o volume registrado no mesmo intervalo do ano passado.

Entre 12 e 18 de setembro, as vendas da safra 2025/26 alcançaram 724,5 mil toneladas, com destaque para negociações destinadas ao Egito, Taiwan, México e Indonésia. As exportações do período totalizaram 512 mil toneladas, tendo como principais destinos Egito, Indonésia, Reino Unido, México e Japão.

O quadro de preços baixos frente aos custos de produção tem pressionado a rentabilidade dos agricultores norte-americanos, reacendendo discussões sobre possíveis subsídios e redução da área de plantio para a safra 2026/27. O excesso de grãos não comercializados também tem causado gargalos logísticos de armazenagem, levando alguns produtores a considerar o milho como alternativa de melhor retorno econômico.

O boletim trimestral de estoques do USDA, publicado em 30 de setembro, apontou 8,6 milhões de toneladas de soja armazenadas, número próximo à média das expectativas do mercado (8,79 milhões). No mesmo período de 2024, o volume era superior, alcançando 9,31 milhões de toneladas.

Em campo, até 28 de setembro, 62% das lavouras foram classificadas como boas ou excelentes, 27% regulares e 11% ruins ou muito ruins — desempenho semelhante ao observado no ano anterior. A colheita já alcança 19% da área, avanço expressivo frente aos 9% da semana anterior, embora abaixo da média dos últimos cinco anos (20%).

Soja – Mercado Interno

No Brasil, o mercado físico acompanhou o movimento internacional de retração em setembro. De acordo com o Indicador Esalq/B3 do Cepea, a soja em Paranaguá encerrou o mês cotada a R$ 133,62 por saca, queda de 4,54% no comparativo mensal. No Paraná, a desvalorização foi de 3,76%, com preço médio de R$ 128,88 por saca.

As cotações também recuaram no Mato Grosso (-3,40%), Mato Grosso do Sul (-3,05%), Rio Grande do Sul (-2,28%), Santa Catarina (-2,27%), Minas Gerais (-1,99%) e Paraná (-1,85%). A exceção foi São Paulo, onde houve valorização de 3,47% no período.

A pressão sobre os preços internos decorre tanto da queda em Chicago quanto da desvalorização do dólar frente ao real, além da expectativa de uma safra volumosa. O fator que ainda sustenta parte das cotações domésticas são os prêmios de exportação, que permanecem positivos em virtude da forte demanda externa pela soja brasileira.

O 12º levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2024/25 projetou uma colheita recorde de 171,47 milhões de toneladas, alta de 13,3% sobre o ciclo anterior. O avanço é atribuído ao uso intensivo de tecnologia e às condições climáticas favoráveis em boa parte das regiões produtoras. As exportações devem alcançar 106,65 milhões de toneladas, com estoques finais estimados em 10,29 milhões, sinalizando ampla disponibilidade interna.

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), até a quarta semana de setembro (20 dias úteis), o Brasil embarcou 6,51 milhões de toneladas de soja, volume 6,6% superior ao registrado em setembro de 2024 (6,10 milhões em 21 dias úteis).

Em relação ao plantio da nova safra (2025/26), até 28 de setembro, 3,5% da área projetada já havia sido semeada, segundo a Conab. No Mato Grosso, o aumento das chuvas e a recuperação da umidade do solo têm favorecido a semeadura nas áreas de sequeiro, especialmente na mesorregião Médio-Norte. No Paraná, as operações avançam no Oeste e Sudoeste, enquanto no Mato Grosso do Sul o ritmo segue mais cauteloso devido à irregularidade das precipitações.

Em Santa Catarina, o plantio teve início logo após o término do vazio sanitário, e em São Paulo as atividades ocorrem de forma pontual, concentradas em áreas irrigadas. Com o fim do vazio em estados como Goiás, a tendência é de aceleração dos trabalhos nas próximas semanas.

Ainda assim, os produtores permanecem atentos às previsões climáticas, que indicam probabilidade superior a 70% de ocorrência do fenômeno La Niña entre outubro e dezembro. O evento pode reduzir o regime de chuvas no Centro-Oeste, norte de Minas Gerais e oeste da Bahia, além de elevar as temperaturas — que podem atingir 40°C em algumas localidades. Essa combinação de calor intenso e déficit hídrico eleva o risco de estresse térmico nas lavouras em germinação, exigindo maior rigor no manejo e na escolha da janela de plantio.

Embora esse cenário ainda não represente uma ameaça imediata à soja, cujo período de semeadura se estende até novembro, um eventual atraso mais expressivo poderá afetar o calendário da segunda safra de milho, caso o plantio da oleaginosa se prolongue além do previsto.

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