Trigo Brasil: Mercado sofre retração em meio à safra e expectativa de avanço nas importações

Com preços nos menores patamares do ano, produtores aguardam recuperação, mas importações da Argentina ampliam a pressão sobre o mercado interno.

Tempo de leitura: 3 minutos

| Publicado em 01/10/2025 por:

Economista | Analista de Mercado

Trigo Brasil

Nesta terça-feira (30), o mercado doméstico de trigo voltou a registrar desvalorizações. Segundo o indicador Cepea/Esalq, no Paraná o trigo pão ou melhorador foi cotado a R$ 1.260,87 por tonelada, recuo de 1,8% frente à sessão anterior. No Rio Grande do Sul, o trigo brando apresentou queda marginal de 0,1%, sendo negociado a R$ 1.225,86 por tonelada.

No mercado físico, as cotações também se mantiveram sob pressão. No Rio Grande do Sul, a média foi de R$ 67,50 por saca, enquanto em Santa Catarina o cereal foi comercializado a R$ 66,75 por saca. No Paraná, o preço médio alcançou R$ 67,56 por saca.

As negociações seguem restritas e a liquidez permanece reduzida. A indústria adota postura mais cautelosa, sustentada por estoques confortáveis no curto prazo e pela falta de estímulos em termos de preços. Nesse contexto, muitos produtores optam por adiar as vendas, na expectativa de uma recuperação dos prêmios. Contudo, a perspectiva de expressivo volume argentino no mercado internacional, estimado em cerca de 9 milhões de toneladas disponíveis, exerce pressão adicional sobre os preços internos.

A queda das cotações em plena safra representa um desafio relevante para os agricultores do Sul, região responsável por mais de 85% da produção nacional. No Paraná e no Rio Grande do Sul, os preços atingem os menores patamares do ano em termos reais, comprometendo a rentabilidade. Diante de custos de produção elevados, a retração das cotações pode reduzir a margem de lucro e limitar a capacidade de reinvestimento, sobretudo para aqueles que financiaram o ciclo produtivo.

Adicionalmente, com uma safra doméstica menor e demanda interna estável, a necessidade de importação brasileira deve crescer na temporada 2025/26. A Argentina tende a ocupar grande parte desse espaço, amparada por perspectiva de colheita robusta e competitividade nos preços.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que, até a quarta semana de setembro (20 dias úteis), o Brasil importou 507 mil toneladas de trigo e centeio não moídos, o que representa queda de 14,1% em relação ao total adquirido no mesmo mês de 2024 (591 mil toneladas em 21 dias úteis).

No campo, o avanço da colheita segue em ritmo gradual. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), até 28 de setembro, 26,2% da área plantada já havia sido colhida. No Paraná, as lavouras apresentam estágios variados, do desenvolvimento vegetativo até a colheita, com predominância de áreas em maturação. A maioria das plantações encontra-se em condições boas ou regulares, enquanto áreas pontuais foram prejudicadas por geadas que afetaram plantios mais precoces.

No Rio Grande do Sul, as lavouras mantêm bom desempenho. As chuvas intensas da última semana, acompanhadas por ventos fortes e granizo em algumas localidades, provocaram acamamento e danos isolados, mas sem impacto expressivo em nível estadual. Após o excesso de chuvas, a predominância de clima ameno e ensolarado reduziu a incidência de doenças. A ausência de geadas reforça as expectativas de produtividades satisfatórias, sobretudo com a previsão de precipitações menos volumosas para outubro.

Em Santa Catarina, as lavouras apresentam boa condição sanitária, ainda que a elevada umidade e as temperaturas amenas exijam monitoramento constante. Foram registradas ocorrências pontuais de oídio e tripes, ambas sob controle. No extremo Oeste, chuvas volumosas atrasaram pontualmente os trabalhos de campo, mas o desenvolvimento segue favorável, com início da maturação em algumas áreas.

Em São Paulo, os grãos colhidos apresentaram peso hectolítrico elevado, indicador de qualidade. No entanto, a produtividade ficou abaixo do esperado em razão da escassez de chuvas, além de geadas e ventos que ocasionaram acamamento das plantas.

Nas demais regiões, o cenário é heterogêneo. Em Goiás, a colheita irrigada avança para a reta final, com bons resultados em produtividade e qualidade dos grãos. Na Bahia, o desenvolvimento das lavouras é considerado satisfatório. Em Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, a colheita foi encerrada, consolidando volumes em linha com as expectativas.

TAGS:

Acesse todos os nossos conteúdos

Publicidade

Publicidade

Seja um assinante e aproveite.

Últimas notícias

plugins premium WordPress

Acesse a sua conta

Ainda não é assinante?